terça-feira, 11 de setembro de 2007

Akeelah simbolo de S-U-P-E-R-A-Ç-Ã-O

Antes de tudo, uma coisa:
Prova de Fogo é um filme clichê! Tudo no filme é previsível... As atuações são previsíveis, o texto às vezes parece filme de auto-ajuda, os personagens têm seus tipinhos muito bem definidos, a música aumenta na hora certa – entre o abraço da filha aos prantos e a mãe que arrependida tenta se recompor – e frases de efeito saltam na tela para fazer o espectador se sentir melhor. Além do final, feito para você pular da cadeira de alegria, depois de ver tanto sofrimento e choro! Sim, e porque diabos então escrever sobre um filme previsível, já que ele não vai mudar em nada a vida de ninguém? Tenho a resposta na ponta da língua: por que Prova de Fogo é o filme clichê!
A história, com certeza, você já viu mil vezes... Professor (Laurence) leva Akeelah, menina pobre de onze anos, a superar seus limites e medos quando passa a treiná-la para vencer um grande concurso – neste caso, os campeonatos de soletração que são febre no território norte americano – que além de mudar sua vida vai colocar sua comunidade de cabeça para baixo. Trata-se do clichê do professor herói, que transforma seu pupilo num sujeito reformulado, culto, educado, visto em filmes como Mentes Perigosas e Vem Dançar, sendo bem diferente do aluno marginal do inicio da história. Prova de Fogo vai entregar mais do mesmo de forma diferente. Está tudo na tela; a aluna rebelde que no fundo quer aprender, as barreiras que a impedem de alcançar seu objetivo, a família que não acredita no potencial da menina, a escola que mais parece um inferno e o professor lindo, alto, moderno e de quebra (para não dizer que ele não tem falhas) traz de brinde uma tragédia para animar um pouco mais a história.
Mas existe um fator ímpar entre a história de Akeelah e seus “irmãos”. Diferente de Mente Perigosas, Vem Dançar e outros do gênero, Prova de Fogo não coloca um professor de fora do contexto que entra em escola desajustada, com alunos desequilibrados para educá-los, transformá-los em sujeitos cultos, desenvolvidos ao seu modo. Os alunos de Michelle Pfeiffer e Antonio Bandeiras nos filmes citados acima são negros, latinos, orientais, que moram em bairros pobres de cidades americanas, beiram a marginalidade e são salvos pelo método revolucionário de um professor destinado a fazer um verdadeiro milagre naquele território inóspito. O sentido da educação, nestes filmes vem de fora, alguém que não pertence aquele contexto que reformula todo o quadro e mostra o verdadeiro valor da educação aos seus alunos.
Já o professor, vivido pelo magnífico Laurence Fishburne, é um homem que sabe as limitações de Akeelah, pois também pertenceu um dia ao contexto da garota. Ele não a desfigura, colocando na sua frente conhecimentos de um mundo diferente do seu e sim ensina Akeelah o poder das palavras através de ícones como Luther King. Akeelah torna-se um símbolo para sua comunidade desacreditada se espelhar e encontra nessa comunidade força para superar seus limites.
Os personagens, apesar de cada um pertencer a um padrão de “filmes de professor”, são independentes. Negros, latinos, orientais são vistos lutando por si mesmos, sem necessariamente precisar da educação branca estereotipada para serem aceitos na sociedade. É curioso o fato de não existir personagens brancos de grande profundidade na trama, concentrando todas as relações na comunidade de Akeelah. Ela torce pelo sucesso da garota, vibra a cada palavra soletrada corretamente e nisso você vai se reconhecendo no filme e torce junto com a comunidade, vibra por Akeelah. No final está completamente entregue ao clichê e segurando as lágrimas...
Somente por curiosidade, o filme foi vencedor do Black Awards 2006, premiando as performances da pequena e brilhante Keke Palmer, Ângela Basset e o próprio Fishburne que também é produtor do filme. Trata-se de um filme simples, de fácil digestão e que traz de presente o sempre bom Laurence Fishburne. Se entregue ao clichê sem culpas e assista Prova de Fogo. Ou melhor... A-S-S-I-S-T-A!...

Prova de Fogo. (Akeelah and the Bee, 2006) Direção: Doug Atchison Roteiro: Doug Atchison. Drama. Estados Unidos Duração: 112 minutos.

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