quarta-feira, 25 de junho de 2008

“Novas” Identidades Negras e a “Nova” Mídia!...

Antropólogos, sociólogos, psicólogos, historiadores, educadores, membros de movimentos sociais, enfim uma gama de profissionais já escreveram, comentaram, trabalharam, debateram, provocaram sobre o papel do negro na mídia brasileira e também nos produtos estrangeiros que volta e meia aportam em nossas televisões e salas de cinema. A constatação de muitos deles é a de que o negro é quase que um ser invisível. Quando seu corpo aparece na tela ele configura-se como um objeto, não há vida nele a não ser pela total dependência subserviente deste com outros personagens, geralmente brancos.
Filmes infalíveis discutiram isto: A Negação do Brasil, documentário já clássico do cineasta brasileiro Joel Zito e A Hora do Show de Spike Lee são grandes exemplos. Recentemente até um musical passou ligeiramente sobre esta temática, trata-se de Dreamgirls, ao mesmo tempo em que constrói a historia da musica negra norte americana e conta a vida e os percalços das integrantes do trio fictício, mostra como os produtos negros são reconfigurados no mundo branco de forma oportunista.
Mas o negro que antes era invisível agora se tornou manchete! Está em muitos lugares, ocupando o centro das atenções. Há séries com negros (norte-americanas é verdade!) ocupando quase toda a programação da tarde de determinados canais. Personagens negros ricos, com importância na trama nas novelas. Racismo debatido na tv brasileira. E quando o intervalo comercial começa vemos negros com o sorriso largo anunciando o mais novo produto.

O que mudou mesmo é que deixamos de ser invisíveis para sermos reconhecidos como minoria. Quando o negro é discutido na televisão brasileira, é posto da forma estadunidense de ser; então somos tratados da forma estadunidense de ver as coisas. Mesmo sendo maioria da população, somos tratados em quase todos os veículos da mídia como minoria. Ao mesmo tempo em que a mestiçagem é evidenciada como a característica mor dos brasileiros, casais inter-raciais são mostrados com um chamariz absurdo, como algo tradicionalmente tabu em nossa sociedade. O racismo é interpretado de maneira violenta, universal, não mostrando suas características brasileiras impares, que este pode sim revelar-se sutilmente e violentar os sujeitos negros aos poucos.
Foram postos os vilões de um lado e os mocinhos do outro! A mídia que coloca os negros na parede, quando não os enforca de vez... E os movimentos negros que queriam representações dignas da afro-brasilidade.
Estes movimentos conquistaram muita coisa. Foram responsáveis pelas várias transformações que a tv brasileira passou nestes últimos anos. Personagens, histórias e culturas, foram introduzidas por conta da luta destes vários movimentos negros... Mas agora o movimento está tomando forma em um outro corpo. A própria mídia que antes era acusada, agora formula suas próprias visões do mundo negro.
Então não queriam personagens negros com desenvolvimento na mídia?! Tome a primeira protagonista negra nas novelas da Globo, Tais Araújo em A Cor do Pecado, que se fosse feita por uma atriz branca não faria muita diferença... Ou o primeiro e único apresentador afro-brasileiro do Brasil a ser visto por muitos em horário nobre no Domingo, Netinho de Paula dando uma de Oprah Winfrey de calças no Domingo da Gente... Aliás, cadê ele eim?!!!... Quem sabe Lázaro Ramos fazendo papel de idiota na novela das sete? (Foguinho – nome do personagem do ator na novela Cobras & Lagartos – virou apelido de alguns meninos negros que são tidos como palhaços aqui na Bahia!) Tem mais, uma família negra nas novelas da Record (sim, a dos mutantes!!!) que se dissolve lentamente – o filho gay que muda-se para o estrangeiro, o outro filho vivido por Tony Garrido que casa-se e vai embora... Ou em A Favorita uma família negra (a única) podre de rica, estúpida, alto suficiente, maléfica e que briga entre si pra ver quem possui mais ego frustrado! Também na antiga novela no SBT, Amigas e Rivais um personagem negro que não me lembro nome agora (ele não tinha importância mesmo...), vivia o já batido conflito de namorar uma garota branca... Ele é pobre, é negro, mas e daí?! O importante é o amor... Em Duas Caras, que ainda está na memória do espectador brasileiro, havia uma quantidade grande de personagens negros, envoltos em todo tipo de alquimia televisiva. Todo branco queria namorar um negro e todos empunhavam o discurso do “preconceito, coisa feia!...”, quando não ressaltava a mestiçagem como fator nato no Brasil.
Tudo feito de cima para baixo. E não se pode mais reclamar, pois a mudança esta sendo feita e ainda pelo próprio órgão que desprezava o sujeito negro. A mídia assume o poder e o espectador pensa que esta sendo representado e que seus problemas estão sendo mostrados na televisão. No final, todo mundo aplaude a atração que incluiu a minoria. E os papeis sociais estão sendo feitos e o racismo no Brasil é combatido. Do jeito deles, para o bem deles mesmos...

segunda-feira, 16 de junho de 2008

O MUNDO DO OBSCENO...

Existem duas coisas neste mundo que dão dinheiro a rodo, conseguindo público consumidor sempre fiel e sem enfrentar crises financeiras terríveis: DEUS E SEXO! São dois assuntos completamente diferentes – ou encarados como diferente pela nossa sociedade – mas que independente da época, da crise econômica e dos problemas que cada sociedade enfrenta, faz fortuna e deixa muita gente nadando no dinheiro. Mesmo sendo antagônicos, os dois assuntos provocam homens e mulheres em todo mundo. Como as duas temáticas tratadas em um post só dariam um trabalho danado, além de ser extremamente complicado falar de Deus e sexo sem despertar a ira dos fanáticos de plantão, vamos falar e concentrar nossas idéias – desta vez – no mundo do obsceno.
Falar de filmes pornôs, hoje parece algo normal. A indústria cinematográfica pornô passou por várias reformulações. A primeira, de pequenas produções extremamente proibidas a filmes feitos em 35mm, projetadas em grandes cinemas alcançando sucesso mundial. Logo depois veio a popularização dos filmes com a chegada do vídeo cassete que afastou um pouco o espectador do cinema e o colocou em casa, vendo o seu “filme de sexo” com o conforto e o sigilo do seu lar. Com a década de 90 a indústria de cinema pornô conheceu o dvd, a web e as TVs a cabo como grandes veículos divulgadores de suas produções, conservando ainda mais a identidade de seus consumidores.
O mundo pornô hoje não é mais tão longínquo como há décadas atrás. É possível em qualquer esquina de uma cidade comprar filmes de artistas consagrados no meio como Vivi Fernadez, Julio Vidal, Toni Tigrão, Pablo Picasso, Pámela But (os nomes são os mais criativos possiveis!!!) em camelôs que dividem os filmes de sexo explicito com os mais novos lançamentos Disney. Tornou-se mais acessível, mas não liberal. Vemos a ascensão de artistas “quebrados” no meio tradicional, como Rita Cadilac e Alexandre Frota, conseguindo fama e dinheiro no submundo pornô, sendo motivo de calorosas conversas em rodas de jovens e também senhoras recatadas, calorosas e concorridas festas de lançamentos de superproduções pornográficas sendo feitas em todo país, mas este universo ainda não deixou de estar envolto em uma redoma proibida.
E o que seria dos filmes pornôs e de todos os seus profissionais se este não estivesse diretamente ligados ao proibido? Nada! O pornô está inteiramente ligado ao tabu. Ele serve como um revelador de algo que acontece debaixo de nossos narizes, mas em que momento nenhum deve ser revelado a luz do dia, como normalidade. Ao esquema do pornô estão às fantasias, os fetiches mais bizarros, as sexualidades (homo e por que não dizer hetero também!!!) enrustidas, o prazer em instituições aparentemente acima de qualquer suspeita – lê-se Exército e Igreja – ao adultério, ao incesto, a traição, enfim ao vasto mundo do proibido.
E este proibido submundo precisa de atores e personagens para sobreviver. Precisa de fantasias, de criar estereotipos, modelos para compor suas histórias. O filão é grande... A empregada fogosa e seu patrão, o policial violento, a enfermeira, o escravo do prazer, o amante, a lolita, o soldado, o ídolo, o pedreiro, a prostituta, a esposa traidora etc. Mas nenhum outro arquétipo pornográfico faz tanto sucesso quanto o ser negro...
Não é novidade para ninguém os estereotipos edificados pela dramaturgia tradicional como o buck, a mamie, o pai Tomás, a mulata perniciosa, alguns importados, outros construídos aqui mesmo em nossa terra. Mas o mundo pornográfico constrói seus próprios paradigmas, suas próprias fantasias. E o ser negro (homem ou mulher) ganham destaque em suas produções.
O estereotipo do homem negro de pau grande e da mulata com alma de prostituta são recorrentes em produções pornográficas gays e heterossexuais. Ao contrário do homem branco que precisa arquitetar um outro universo para sair do habitual, o corpo negro é um fetiche a parte, ele pertence à camada do proibido. Um homem negro, com pênis excessivamente grande, alto, geralmente com cabelos raspados, em uma noite escura é motivo de grandes fantasias na pornografia. A ele são ligados outros modelos pornográficos como, o escravo forte reprodutor, o empregado submisso, o homem perigoso, estuprador. Ao ser negro é unido quase sempre um papel submisso que vai ser convertido em poder sexual, o único que – dentro das temáticas e fantasias pornôs – o ele pode ter.
É curioso comentar também que no mundo pornô suas produções estão ligadas a temática racial. A branquitude é ligada à normalidade (nada de muito surpreendente!!!), mas a negritude é ligada ao patamar exótico, sendo anunciados filmes “Somente com negros”, “Filmes inter-raciais”, “Japoneses com Negros” e outras combinações... O mundo pornô não faz questão de esconder sua visão excêntrica do corpo negro, pois vive de aguçar fantasias e papeis eróticos.
Para a pornografia o ser negro pode ser considerado como objeto perfeito. Apesar de para ser ator pornô o pênis do candidato possuir proporções anormais, o ator negro sempre vai ser considerado dentro de possibilidades ainda mais extravagantes. O ator então nada mais é que um pau grande e ereto, não tem uma função mais aguçada que a de ser um objeto. Também nos filmes pornôs a monogamia é instintivamente combatida, portanto, a traição efetivada com um homem negro é sempre mais completa... Há também a possibilidade de viver duplas aventuras com um só corpo: negro policial, negro empregado, negro escravo. As figuras sexuais são sempre ressaltadas junto ao copo negro e as falas dos atores são sempre evidenciadas colocando o copo escuro em favorecimento.
O corpo negro exibe em nossa sociedade uma construção de fetiche. Ligado a relações fortuitas, nada de muito serio, já que é perfeito somente para o prazer pelo prazer! A idéia de homem negro-maquina sexual tão estudada por historiadores, sexólogos, antropólogos etc. ganha novo significado no mundo pornográfico. Seus cortes, closes, cenários, figurinos somente contribuem para que o estereotipo continue. Para o pornô o negro está como uma carta na manga, tirada de surpresa para fazer a alegria de todos... de todas as fantasias do mundo branco e seus prazeres proibidos...

terça-feira, 10 de junho de 2008

Novo filme spike lee

O novo filme do cineasta Spike Lee, Miracle at St. Anna, já esta sendo produzido e ja começa a divulgar imagens. Abaixo o pôster, tímido, é verdade, do seu primeiro filme de guerra. filme se baseia no romance homônimo, de Walter McBride, que trata de quatro soldados negros dos EUA que lutam em território italiano, nas montanhas da Toscana, contra o exército nazista. Enquanto estavam presos em uma vila, os quatro, integrantes da 92a. divisão, precisaram lidar não só com o inimigo como também com a incompetência e o racismo dos aliados. É torcer para que este seja mais um bom filme da carreira de um dos diretores mais contundentes de Hollywood.