sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Amor...

Bem, vamos falar do amor. Este sentimento que emana pela humanidade desde o nascimento dela. Como este é um blog que trata sobre cinema negro, vamos é claro traçar filmes que abordem romances e temáticas raciais. E se você tem algum conceito formulado contra o amor é melhor aparar por aqui. Nas linhas que se seguem romance vai ser o principal ingrediente da postagem.
Mas não são filmes quaisquer. Se você estiver realmente interessado em comedias românticas com personagens negros ou filmes dramáticos que falam sobre relacionamento entre negros, vá à locadora e alugue um monte deles. Lá tá cheio. O que pretendo falar é sobre um tipo mais “complicado” de amor neste nosso mundo cheio de práticas duvidosas; o amor interracial.
Não é de hoje que o cinema faz este tipo de abordagem. O negócio é mais antigo que clichê de filme de “professor super herói”, Hollywood (sempre ela!) invoca o tema desde a era de ouro dos antigos filmes até hoje. É por isso que escolhi três filmes, de diferentes épocas, gêneros e diretores. Vão do drama a comédia pastelão, mas nenhum dos três deixa o debate morrer no meio do caminho. Não dissolvem a questão em simples “o amor vence a tudo”. Os filmes, cada um de sua forma, discutem com muita verdade o que está acontecendo entre os casais e como a sociedade reage a esta iniciativa de um casal muito diferente entre si.
Os filmes são: Adivinhe Quem Vem Para Jantar, de Stanley Kramer do longínquo 1967, Febre na Selva de Spike Lee de 1991 e Uma Coisa Nova – As Surpresas do Coração de Sanaa Hanri de 2006. são filmes que abordam de forma corajosa uma questão que pensam estar ultrapassada, mas que ainda provoca debates e questionamentos por onde passa.
O primeiro é um marco do seu tempo. Na época falar disso nos EUA era um tabu dos diabos e diretor, roteirista e elenco tiveram coragem para tratar de um tema tão controverso em uma época tão violenta e de tantas revoluções como o final dos anos 60. a historia é simples, moça branca que chega de viagem tem que apresentar sua grande paixão a sua família aparentemente liberal, um rapaz negro com quem tem certeza absoluta que quer casar imediatamente. A partir dessa premissa básica o filme se desenvolve com excelentes diálogos que são o grande marco do filme. Principalmente no que tange o liberalismo da família branca da garota (vivida pela apática Katharine Houghton), os pais que se consideravam extremamente libertos de quaisquer preconceitos vêem-se envoltos na armadilha hipócrita que próprio criaram. Para a época era um bac ver o filme tanto para brancos liberais quanto para os racistas assumidos. Além disso Katharine Hepburn está ótima no papel e Spencer Tracy, debilitado por conta de problemas de saúde, deixa sua marca do jeito que pode ao filme. Sidney Poitier vocês já sabem o que penso dele, sempre ok e só. Dá um charme todo especial ao personagem, mas não rende uma maravilhosa interpretação. Na verdade o elenco está muito bem, mas o filme tem dois outros grandes marcos: o roteiro enxuto, que mais aprece uma peça de teatro, que deixa seus personagens a vontade em meio ao tema tratado de distintas formas e a atriz Beah Richards que faz a mãe do personagem de Sidney e entrega a personagem força, carisma e carinho na medida certa. Fiquei boquiaberto de ver sua interpretação, colocando em poucos minutos e com excelentes passagens o elenco todo na bandeja. Uma outra coisa a salientar é a hipocrisia do roteiro. Apesar de um marco da época o filme não expande limites e o casal principal não se beija nem sobre pressão.
O segundo, Febre na Selva, é um filme de Sipke Lee, traduzindo, não é um filme qualquer e que vai tratar o tema de forma simplória। Como sempre o elenco, escolhido a dedo, é maravilhosamente bem trabalhado pelo roteiro fabuloso. As tramas paralelas também estão no lugar como em qualquer filme de Sipke. O que peca um pouco é o casal chave vivo do por Wesley Snipes e Annabella Sciorra e Spike querendo tirar onda de ator novamente. O casal apesar de muito bonito não tem aquela química e o espectador não se interessa muito neles e o tema acaba ficando maior que os personagens. Isso realmente deixa o filme em alguns momentos chato. Destaque para os atores que fazem os pais do personagem de Wesley, Ossie Davis e Ruby Dee, simplesmente fantásticos e são donos das cenas mais marcantes do longa.
Já Uma Coisa Nova – Surpresas do Coração é a típica comedia romântica que o cinema americano sabe tanto fazer. Tudo está em seu devido lugar, a fotografia que faz todo mundo ficar lindo, os diálogos engraçados presentes em toda comedia romântica, a transformação dos personagens e o roteiro tipicamente sonhador. O destaque do filme é o casal chave, o único dos três filmes que realmente dá certo e coloca o espectador em um ponto de interesse com eles. O elenco está afiadíssimos e também muito bem escolhido. E a questão interracial é atualizada aos novos contextos de uma nova sociedade. Mas o filme na deixa de ser um romance água com açúcar em nenhum momento, ok?...
Os três filmes tentam passar um marco chave: que a relação interracial precisa ser problematizada para que uma das partes não fique superior a outra, no caso quase sempre o branco superior ao negro. E os personagens estão a fim de discutir de verdade todos os entraves que uma relação deste porte tem. Nada é escondido. E a sociedade de abre de maneira impactante com seus conceitos pré formulados. Para um relacionamento desse porte, a negritude e a branquitude de cada sujeito tem que estar muito bem resolvida para que isso não possa interromper com o andamento do relacionamento. Digo isso em questão dos personagens que problematizam os entraves das suas raças por conta do amor que sentem um pelo outro.
Uma outra coisa vista em alguns filmes, nestes e que também reparei em outros, é até onde negros precisam casar com negros e brancos precisam casar com brancos para serem mais bem resolvidos e terem seu mundo sem abalos? Até onde as pessoas não se deixam levar por conta de uma identidade cômoda? Até onde não é cômodo e seguro não ter sua identidade abalada por conta de uma pessoa junto a você que pertence a um outro contexto? Até onde vale a pena ter um amor da mesma cor, enquanto que este homem ou mulher perfeita não é necessariamente o que queremos, mas o que os outros tem como exemplo de relação? Amor não tem cor, em que mundo estamos vivendo de tanta hipocrisia? Estas e outras perguntas surgem com o passar do tempo, principalmente se estiver vendo os filmes em curto espaço de tempo. Nenhum deles pretende responder tais perguntas, as vezes tudo é jogado na tela e o espectador tem que resolver suas questões pra si. Mas dizer que a temática seja passada de forma absolutamente rala isso não pode ser dito com estes três bons exemplos.
Aprendi que o amor tem cor sim, até por que você não namora com sujeitos incolor. Mas ele não se resume a isso e como toda e qualqer coisa no mundo deve ser problematizada.