terça-feira, 22 de setembro de 2009

O Cinema e as Cidades...

Salvador é uma cidade perfeita para uma pessoa racista viver feliz! Acha que não? Imagine uma cidade em que a maioria, esmagadora, da população é negra, vive no subúrbio, achatada em lugares horríveis, perigosos e muito distantes da parte “elitizada” ou “branca” da cidade, você lê com o nome que achar melhor. Ainda, em Salvador existe uma cultura negra vendida como principal produto da cidade para os turistas, junto com esta tradição tipo exportação agrega-se estereótipos dos mais vastos e nas mais diferentes categorias. Vende-se além do candomblé, dos batuques do pelourinho, das baianas de acarajé, do Centro histórico, dos ensaios de blocos afros produtos como o pau grande do negão, o tempero quente de uma nega na cama, o moleque de recados, o soteropolitano que não tem mais o que fazer e serve de guia turístico para aqueles que aqui aportam, personagens vivos do filme/série Ó Pai Ó, a piriguete, o rasta etc.

A cidade tem como em qualquer outro lugar uma estratificação enorme. As duas populações, branca/negra – elite/pobre, vive em lugares totalmente diferentes, com signos distintos uns dos outros. Nada diferente de outras cidades do país. Mas o diferencial aqui é que em Salvador nós somos a maioria. Essa maioria segregada vive a mercê da sua própria cultura, sem chance muitas vezes de transformar a sua história para gringo ver em algo mais conciso, com real substancia e que imponha respeito.

Ou seja, Salvador não é realmente completa, para alguém racista viver? População de maioria negra, esmagada pelo subdesenvolvimento, sem instrução sobre si mesma e iludida pelo valor de mercado imposto ao nativo em base dos estereótipos que pipocam em todas as épocas do ano. Na contra mão existe uma outra cidade bonita e em crescimento acelerado que tem uma outra cor, um outro modo de vida, que quando sente necessidade migra para as partes “afros” da cidade para ter um pouco de diversão livre e passageira.

E como toda cidade estratificada que se preze concentra na parte nobre da cidade seus principais pontos de divertimento. Teatros, cinemas, casas de shows todos estão nas zonas consideradas ilustres. Distante, as vezes leva-se horas para chegar em determinados lugares, daquela outra cidade, de cor negra, bem distante dos pontos de cultura oficias. Não que no subúrbio ou periferia não aconteçam movimentos populares, eles pipocam aos montes, mas será que o que é feito no subúrbio é considerado arte?

Salvador há muito tempo já perdeu a tradição dos cinemas de bairro, também a pouco tempo experimentou o sucateamento de cinemas como o BAHIA, o GLAUBER ROCHA, EXCELCIOR, TAMOIO, ART 1 e 2, PAX, JANDAIA, ASTOR E TUPI desaparecerem, viraram igrejas evangélicas ou cines pornôs ou estão caindo aos pedaços ainda. As grades salas, que passam tanto os filmes pipoca quanto os filmes de arte se encontram distantes, em bairros geralmente nobres, shoppings, mas parece que a distancia nestes lugares é mais do que espacial... É ideológica.

Lembro até hoje de sessões lotadas – o Cine Glauber Rocha mesmo tinha mais de 600 lugares e era lindo – nos cinemas do centro, regadas a pipoca e era um lugar onde todos iam. Do advogado ao vendedor de picolé. Lembro de ter visto quando criança e adolescente filmes como Jurassic Park, Jumanji, Batman Forever, Titanic, Mortal Kombat, Lua de Cristal (eu era pirralho perdoem! Além do mais, “filmes de arte” sempre tem censura maior...) os filmes dos Trapalhões, nos cines do centro da cidade. Lembro também que o cinema do Shopping Iguatemi, que hoje não existe mais, tinha um outro público, era bem mais caro e totalmente estratificado, apesar de não existir nenhuma placa avisando a proibição de certos tipos de pessoa... Hoje quando vou aos cinemas de shoppings ou mesmo os cinemas onde são exibidos os chamados filmes de arte o publico cada vez é menos popular, menos negro...

Claro que existe toda a fórmula ideológica na construção das relações de poder do local, também existe a pirataria que fez com que moradores do subúrbio não precisem sair de casa e conferirem os grandes filmes que estão passando. O que parece é que a cultura que passa neste lugares seus filmes e outros tipos de arte que perpassam pelos espaços culturais são feitos para determinado tipo de pessoa. E a mistura que todos falam que existe em Salvador na verdade não existe.

Lembro ainda da experiência de ver os filmes no antigo CINE GLAUBER ROCHA algo mágico até. A pipoca que cheirava a quilômetros na Carlos Gomes, os dois andares da grande sala de exibição... Nada parecido com o insossa movimento de assistir a um filme em um multiplex ou cine de arte com seu público “alternativo” que se acha o máximo só por que está assistindo filme francês do momento ou mais um exemplar de Pedro Almodóvar... O cinema aos poucos transforma-se em uma arte elitizada, perdeu um pouco do seu caráter popular... também não se encontra mais parte de sua magia... Movimentos estão sendo feitos para que o cinema não perca sua característica de arte popular... Mas isso é assunto para uma outra postagem.

PS: Desculpem o saudosismo, ninguém vive sem ele nem que seja um pouco..

sábado, 12 de setembro de 2009

NASCE UM HERÓI.

Desta vez, nesta postagem, não me atrevo a falar nada... Acho que as vezes as imagens valem muito mais que as palavras... Às vezes acontece esse tipo de coisa, somente às vezes... E este é um grade exemplo!... Daqui a uns tempos estréia Besouro, filme que já vi o trailer, reportagem, blog etc etc... Sabe aquele trailer que quando você vê fica louco para que o filme estréie logo? Não sei se você que está lendo sente isso, mas às vezes (somente as vezes) até frio na barriga me dá de tanta anciosidade... Estou louco para ver. Você também deveria ficar...



quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Destaque Para a Pele Negra.

Como disse anteriormente, mexi um pouco aqui no Blog Percorro agora novos caminhos ampliando o sentido de mídia negra... de arte negra... E para começar nesta nova estrada conversamos com o fotógrafo Saulo Salles (ao lado), sobre o seu ofício, suas visões sobre o mercado e arte negra em Salvador e também sobre “Peles Pretas” seu último trabalho, que já foi exposto também em São Paulo e tem dado bons frutos para este fotografo mais que talentoso e inteiramente compromissado com o seu trabalho.

Película Negra – Começando pelo começo... Quando iniciou o interesse pela fotografia e por que logo ela e não uma outra arte visual?...


Saulo Salles – O meu pai já era fotógrafo e de modo geral e involuntário tenho a tendência natural de copiar as suas ações Acho a fotografia um tipo de arte menos autentica, porque em geral, ela por si só, não faz arte e sim retrata realidade. E criar arte da realidade é o q me fascinou.


Película Negra – Existem fotógrafos que em seus trabalhos pretendem evidenciar a realidade através do mundo visto pela fotografia। Mostram o que existe de belo e triste em camadas diferentes da sociedade através das fotos. No “mundo” construído pelas lentes de Saulo Salles o que o público pode esperar?...


SS – Beleza por onde sempre passaram e nunca notaram, pelo menos é esta a minha pretensão.


Película Negra – Reparei dois pontos curiosos em alguns de seus trabalhos। A primeira é o uso de modelos negros e a segunda o uso do preto e branco. Só vi até agora uma fotografia colorida. O porquê dessas duas escolhas? Elas se completam de alguma forma?


S.S – Eu comecei a estudar fotografia em Florença na Toscana, a beleza e as cores daquela região italiana são intraduzíveis, e acho que nada teria o mesmo sentido sem elas. Já em Peles Pretas, o preto ( cor e raça ) é a “bola da vez”. E o meu exagero de contrastes é justificado pela proposta do trabalho q é a valorização da beleza negra, nada mais aqui deve ter destaque se não a pele dos modelos. Não teria esse mesmo efeito em cores. Quero o preto e não o marrom ou qualquer outra cor dessa mesma variável


Película Negra – Hoje na mídia em geral há uma valorização maior e também a problematização das questões que norteiam a negritude। A identidade negra, sua cultura, religião vem sendo reformuladas a cada momento. Você se considera de alguma forma, com seu trabalho, também repensando a visão do povo e da cultura negra em geral?


SS – Sim. E um sim bem grande rsrs. PELES PRETAS propõe uma releitura de padrões de beleza e de conceitos em relação aos afro-descendentes, já que, até o início do século, os objetos das fotos desta exposição não eram ou não podiam ser vistos como belos.O projeto faz referencia ao aspecto ETNICO para designar a presença das varias etnias negras que formam o povo brasileiro, e evidencia a necessidade de ações proativas para a comunidade negra, em particular, atividades de ampliação de auto-estima, valorização e preservação das tradições culturais negras.


Película Negra – Tem alguma técnica especifica que desenvolve para o seu trabalho?


SS – Sim, mas isso eu não conto.


Película Negra – Poderia citar algumas das suas referências como fotógrafo e o que elas te ensinaram para dar um “up” na sua técnica no modo como encara a fotografia?


SS – Admiro muitos fotógrafos, os portugueses principalmente. Tenho amigos-ídolos em Portugal, adoro isso. Nenhum deles, porem, me ajudou na definição de minha técnica, cheguei a ela a muito pouco tempo e ao improviso. As minhas primeiras fotos de “peles” não têm a mesma cara das ultimas, isso graças ao “acidente”.


Película Negra – Dá para viver de fotografia em Salvador? Existe mercado para este tipo de arte visual na cidade? Por quê?


SS – O mercado de arte é pequeno em Salvador como um todo, fotografia ainda mais. Viver de fotografia de arte é pra poucos. Mas quem faz essa opção deve está atento a ações culturais antes de tentar vender. Vender fotos é uma decisão q só pode ser tomada na hora certa, se for antes do ponto, vc tá fadado ao fracasso e se for depois quer dizer q o fracasso já chegou a vc. O fotógrafo precisa de um bom produtor ou ser um bom produtor.


Película Negra – Para você quais os prós e os contras do “bum” que a fotografia teve com as câmeras digitais?


SS – Eu acho q ficou mais prática, e mais fácil a ação de fotografar. Sou da teoria da constante evolução. Não vejo contras nisso.


Película Negra – O que falta para a fotografia tornar-se uma arte mais consumida, mais valorizada pelo público। Digo valorização fora do senso comum. Que seja apreciada como arte. Ou já existe esta valorização?


S.S – O mesmo q falta às outras artes, educação da população. Não acho q a musica de qualidade seja apreciada pela maioria, ou o cinema realmente bom, por exemplo Chamamos filmes horríveis de

filmes de terror, e há quem acredita q vê Cinema, vendo aquilo. Assim é também na fotografia. Realmente não acho q as pessoas compram revistas pornográficas para lerem seus textos. As pessoas compram fotos porque somos todos muito visuais. Se não fosse assim, as revistas teriam textos em suas capas. O q falta é cultura de arte visual e cultura geral.


Película Negra – E como anda a repercussão do seu trabalho a partir do público? Você também já fez exposições fora da Bahia। Fale um pouco dessa experiência.


S.S – Isso é algo que seu próprio público vai poder responder ao ver minhas fotos. Já minha mostra em São Paulo foi discreta, em um local bacana, o Espaço Cultural Juca Chaves na João Cachoeira, Itaim Bibi, como todas as anteriores, nunca fiz grandes alardes ou gastos excessivos com publicidade, acho q não é o momento, tenho apenas 4 anos de fotografia e menos de 2 em Peles Pretas।


Película Negra – Como hoje alguém que quer se enveredar pelo mundo da fotografia pode dar os primeiros passos aqui em Salvador?


S.S – Primeiro passo em minha opinião é fotografar varias coisas diferentes e só depois perceber o q vc fotografa melhor, passar para o processo de descarte, sabe?. Vc pode ter variações de gênero fotográfico, mas ter uma base de referencia profissional é fundamental para um artista. Acho importante fazer um curso, e estudar a arte, por que não se deve fundamentar algo em pura intuição. Definir uma técnica própria, ou copiar uma técnica e por características suas é fundamental para não ser mais um no mercado. E por fim, o mais importante, TER UM BOM PRODUTOR, SEM PRODUTORES ARTISTAS SÃO SONHADORES, E POR MAIS BELOS Q SEJAM OS SONHOS,ELES SÃO APENAS SONHOS।


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A VIDA SECRETA DAS ABELHAS.

Vamos logo direto ao ponto... Chorei duas vezes vendo este A Vida Secreta das Abelhas... Por isso se quiser continuar a ler esta critica considere que vai se deparar com alguém que se deixou levar e mergulhou junto com a historia das personagens. Uma outra coisa gosto muito de filmes com elenco majoritariamente feminino। Quatro Amigas e Um Jeans Viajante, Divinos Segredos, A Cor Púrpura, entre outros são filmes fortes, que lhe ensinam muito, mas ao mesmo tempo transitem uma doçura incrível.

Produzido pelo casal Smith (Will e sua esposa Jada) o filme conta a saga de uma garota branca, Lily Owes, (surpreendentemente mal encarnada pela excelente Dakota Fanning) na Carolina do Sul, EUA, vivendo sua adolescência no começo da década de 60, época da luta pelos direitos civis, em meio ao trauma de ter matado sua mãe quando era pequena, um trágico acidente causado por ela. Lily, então decide fugir das agruras do pai com sua empregada Rosaleen (Jennifer Hudson). Ela foge almejando conhecer o passado de sua mãe e tirar a culpa que ronda seus pensamentos e Rosaleen quer um mundo de plenos direitos. Em uma cidadezinha as duas conhecem as irmãs Boatwright, vividas por Queen Latifah (Chicago), Alicia Keys (A Cartada Final) e Sophie Okonedo (Hotel Ruanda)।

A partir daí o filme da diretora Gina Prince-Bythewood de desenvolve com roteiro simples, sem grandes desenvolvimentos, sem pretensão de ser “O” clássico negro dos anos 2000 – como quiseram ser Amistad e A Bem Amada nos anos 90 – com atuações contidas e ao mesmo tempo brilhantes. A primeira coisa que chama atenção é o quarteto de atrizes negras. Jennifer está contida, bem diferente de sua interpretação em DreamGirls, Queen durana e doce como sempre – o papel caiu como uma luva para ela – Alicia interpreta uma mulher linda e fria e convence na atuação e Sophie Okonedo que dá um show a parte, os momentos em que a atriz está não conseguia olhar para as outras। Quanto a surpresa é presenciar Dakota, atriz maravilhosa (que já roubou a cena de gente como Denzel Washington e Tom Cruise) dar uma interpretação tão pequena a uma personagem tão rica e bem escrita... Uma pena!

Do mais esperem por reviravoltas surpreendentes, frases chocantes (principalmente saída da boca da personagem de Alicia), racismo tratado de forma coerente pelo cinema e uma trilha sonora de tirar o chapéu!!!!!!!!! Sou suspeito para falar, me deixei envolver por um filme simples (estes sempre me pegam!!!), mas A Vida Secreta das Abelhas é aquele tipo e filme para rever novamente sem compromissos, leve e que vai deixar você com um sorriso no rosto apesar das tristezas do mundo!... Pelo menos foi o que aconteceu comigo quando sai do cinema...