Quando o filme chegou aos cinemas chegou cheio de expectativas. Dirigido por Joel Zito, do excelente documentário A NEGAÇÃO DO BRASIL (que também tem uma verso literária muito boa) e do impressionante curta VISTA MINHA PELE e interpretado por nomes como Ruth de Souza, Milton Gonçalves, Rocco Pitanga, Thalma de Freitas e Thais Araújo, FILHAS DO VENTO era o filme que todo mundo queria ver. Seja por curiosidade de ver o primeiro filme com elenco principal inteiramente negro, seja por conta do filme poder desatar os nós de um “racismo cinematográfico” à brasileira ou por medo de Joel Zito ser um Spike Lee tupiniquim entregando ao público o primeiro exemplar de um cinema negro autenticamente brasileiro. O desejo era ver um exemplar de COR PÚRPURA e o resultado na tela era anos luz do filme produzido por Quincy Jones.
Primeiro porque a historia do filme, a cerca de duas irmãs que se desentendem na juventude e são obrigadas a resolverem os problemas do passado com o enterro do patriarca da família, é gigante e recheada de clichês। O roteiro se auto explica a todo momento e o espectador recebe o filme todo mastigado. Em algumas partes chega parecer novela, com um texto que excede em suas explicações por conta do tempo da trama, a quantidade dos personagens e a memória curta do espectador... Aliás, nem nossas novelas são mais assim...
Uma outra coisa que incomoda é a vontade de Joel Zito agradar os membros do Movimento Negro, melhor especificando o Movimento Negro Acadêmico। Ver Ruth de Souza, símbolo vivo do TEM – Teatro Experimental do Negro – soltando frases que parecem ter saído d dissertação de mestrado do momento é de doer à alma। O roteiro é cheio de frases de efeito e de um denuncismo que no final das contas serve somente para aumentar a duração do filme। Ruth de Souza em seu primeiro papel principal merecia um roteiro mais rebuscado।
Lembro como se fosse hoje, na estréia do filme em Salvador, da apresentadora do programa SOTEROPOLIS ter perguntado ao diretor Zito o porque de um filme somente com atores negros? Ele disse que seu filme não possui somente atores negros – Jonas Bloch está nele - mas que era um filme inteiramente protagonizado por negros. A apresentadora tapada com certeza não assistiu ao filme, nem se deu ao trabalho de verificar ficha técnica do mesmo antes de fazer a entrevista... Mas o que quero ressaltar com este caso é que mesmo ruim FILHAS DO VENTO incomoda. Acho que não pelo elenco ser negro, j´que produtos como CIDADE DE DEUS, ORFEU, XICA DA SILVA, CIDADE DOS HOMENS, também tem personagens principais negros, mas o diferencial aqui é que diretor e equipe também são negros. Isso sim incomoda.
Zezé Motta disse uma certa vez, que para mudar o quadro racista que existe na mídia não só o elenco teria de mudar, ms diretores, roteiristas, produtores (compromissados!) teriam de aparecer, pois são eles quem mandam na produção de um filme. Ou seja, que tem verba faz o verbo! Em AS FILHAS DO VENTO foi a primeira vez que negros tiveram espaço para falar de si mesmos, sem rodeios e intermediários. Mas infelizmente o filme não era lá grande coisa...
A mão hipocrisia estava em revistas e sites especializados em cinema. Criticas que não sabiam para que lado ir preferiam ser politicamente óbvias ter o atestado de “racista”. Estava estampado a idéia de que o filme não era bom, mas frases como “o primeiro filme nacional inteiramente negro” estavam lá para preencher espaço
Assisti a FILHAS DO VENTO depois de toda esta balburdia e polêmica em torno do filme। Não esperava um A COR PÚRPURA ou um A BEM AMADA, nada disso. Sei que cinema feito no Brasil é diferente e o racismo daqui é totalmente dispare de qualquer parte do mundo. Esperava o mínimo: uma produção cuidadosa (isso não quer dizer com grande orçamento!!!), com texto bom, que não fosse milimetricamente construída para agradar movimento social algum, um filme que fosse direto... Ainda não foi dessa vez, quem sabe na próxima...