Falar de A Cor Púrpura em um blog destinado a cinema negro é quase um clichê! O filme, dirigido por Steven Spielberg, baseado no livro de Alice Walker, vencedora do premio Pulitzer e que marca a estréia de Whoopi Goldberg nos cinemas é um marco do cinema negro norte-americano. Trata-se de um filme que pouquíssimas pessoas no mundo não gostam. A maioria entrega-se por inteiro a historia de uma mulher violentada pela vida que escreve desabafos a Deus para diminuir o sofrimento do seu dia a dia. A personagem Celie, interpretada no cinema com maestria por Whoopi, é de um impacto estrondoso. E é incrível como, mesmo não tendo experimentado todo o contexto do seus sofrimentos e pequenas alegrias, o espectador imediatamente se vê na pele da personagem.
Não considero A Cor Púrpura um texto universal. Alice Walker tem uma visão muito particular do mundo que constrói. É um livro feito para mulheres, isso sem duvida. A cada linha, a cada personagem que surge, a historia vai se desenvolvendo inteiramente com uma perspectiva feminina. Alice Walker deixa claro que o mundo dominado por meninos e homens chegou ao fim e que uma historia sobre mulheres vai ser contada. E a mulher que Alice fala é negra. Celie é negra e fala sobre o mundo que vive com seu olhar negro. Ela retrata o mundo sulista dos EUA de forma realista e como o mundo negro se comporta de forma diferente mesmo sem o contato com os brancos que estão afastados deste contexto.
O filme e o livro são instrumentos completamente diferentes. Sei que estou sendo obvio, afinal de contas são textos diferentes. O filme de Steven Spielberg é uma outra coisa. Não pior, ou melhor. Diferente! A Cor Púrpura – o livro – é escrito na forma de cartas entre Celie e Deus / Celie e Nettie – sua irmã que está na África e Nettie e Celie. A própria Alice evidenciou várias vezes que demorou a se acostumar com o outro produto que se tornou a adaptação de seu filme. Depois de inúmeros roteiros feitos a versão que chegou aos cinemas escapava da narrativa não linear de Walker e passava a ser uma historia com “inicio – meio – fim” nas mãos do roteirista Menno Meyjes – que iria mais tarde participar de outros filmes de Spielberg, como Império do Sol e Indiana Jones e a Ultima Cruzada.
As Celies também são diferentes. No livro a personagem que toma vida a cada página é muito mais submissa em um certo ponto, esperançosa com a vida e tem em Deus sue refugio, sua luz. No romance, Celie também tem contatos homossexuais e é através dele que se da uma das fases de sua libertação – cena que no filme teve que ser cortada após inúmeros debates entre os responsáveis se haveria ou não possibilidade de colocar ou não a cena na película. A opção foi adaptar o contexto da cena, usar uma metáfora – também a Celie no livro conhece através das cartas de sua irmã Nettie o continente africano, suas historias, seu povo, sua religião, sua natureza, os confrontos entre negros e brancos, sua alegria e principalmente seu colorido. Pela descrição de Alice não há como imaginar o mundo de Nettie com simples tons de cores... Tudo é infinitamente colorido e grandioso.
A celie do filme é um pouco limitada, mas oferece percepções que a do livro não tem. Apesar do texto de Alice abraçar a musica como forma narrativa, é pelo filme que esta característica do povo negro é muito mais presente. A musica de Quincy Jones, também produtor do filme traduz o mundo de Alice Walker precisamente. É bom frisar o trabalho de Quincy neste filme. Depois de uma carreira consolidada como musico e produtor musical – tendo no seu currículo artistas como Michael Jackson, Gloria Estefan, Whitney Houston e Will Smith – Quincy após ter lido o livro de Alice decidiu que iria fazer do romance um grande filme. É ele o responsável pela contratação de Steven e de Oprah Winfrey (que trabalhava na televisão e era admiradora incondicional do romance. Anos depois ela foi a responsável por levar o romance – agora com outro roteiro, para os teatros), além das belas composições feitas especialmente para o filme. E o curioso é que só depois do filme pronto e de todo o stress causado por ele, inclusive o fim do seu casamento por conta que o produtor não estava dando a devida atenção a sua esposa e filhos, que Quincy lembrou de fazer a trilha. Mas Jones acabou entregando uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos, destaque para as inesquecíveis “Miss Celie’s Blues” e “My Heart”, disponíveis em um cd duplo que além de te fazer reviver o filme traz o mundo negro mais juntinho do espectador.
Adoro A Cor Púrpura. Tanto o livro, quanto o filme e a trilha também. Produtos diferentes de uma mesma raiz, o pensamento da maravilhosa autora Alice Walker. Vi o filme inúmeras vezes, a primeira inesquecível me emocionando e acompanhando cada cena sem piscar os olhos. O livro li em três dias, uma experiência infinita, descobri personagens novos, sofrimentos meus que os
Não considero A Cor Púrpura um texto universal. Alice Walker tem uma visão muito particular do mundo que constrói. É um livro feito para mulheres, isso sem duvida. A cada linha, a cada personagem que surge, a historia vai se desenvolvendo inteiramente com uma perspectiva feminina. Alice Walker deixa claro que o mundo dominado por meninos e homens chegou ao fim e que uma historia sobre mulheres vai ser contada. E a mulher que Alice fala é negra. Celie é negra e fala sobre o mundo que vive com seu olhar negro. Ela retrata o mundo sulista dos EUA de forma realista e como o mundo negro se comporta de forma diferente mesmo sem o contato com os brancos que estão afastados deste contexto.
O filme e o livro são instrumentos completamente diferentes. Sei que estou sendo obvio, afinal de contas são textos diferentes. O filme de Steven Spielberg é uma outra coisa. Não pior, ou melhor. Diferente! A Cor Púrpura – o livro – é escrito na forma de cartas entre Celie e Deus / Celie e Nettie – sua irmã que está na África e Nettie e Celie. A própria Alice evidenciou várias vezes que demorou a se acostumar com o outro produto que se tornou a adaptação de seu filme. Depois de inúmeros roteiros feitos a versão que chegou aos cinemas escapava da narrativa não linear de Walker e passava a ser uma historia com “inicio – meio – fim” nas mãos do roteirista Menno Meyjes – que iria mais tarde participar de outros filmes de Spielberg, como Império do Sol e Indiana Jones e a Ultima Cruzada.
As Celies também são diferentes. No livro a personagem que toma vida a cada página é muito mais submissa em um certo ponto, esperançosa com a vida e tem em Deus sue refugio, sua luz. No romance, Celie também tem contatos homossexuais e é através dele que se da uma das fases de sua libertação – cena que no filme teve que ser cortada após inúmeros debates entre os responsáveis se haveria ou não possibilidade de colocar ou não a cena na película. A opção foi adaptar o contexto da cena, usar uma metáfora – também a Celie no livro conhece através das cartas de sua irmã Nettie o continente africano, suas historias, seu povo, sua religião, sua natureza, os confrontos entre negros e brancos, sua alegria e principalmente seu colorido. Pela descrição de Alice não há como imaginar o mundo de Nettie com simples tons de cores... Tudo é infinitamente colorido e grandioso.
A celie do filme é um pouco limitada, mas oferece percepções que a do livro não tem. Apesar do texto de Alice abraçar a musica como forma narrativa, é pelo filme que esta característica do povo negro é muito mais presente. A musica de Quincy Jones, também produtor do filme traduz o mundo de Alice Walker precisamente. É bom frisar o trabalho de Quincy neste filme. Depois de uma carreira consolidada como musico e produtor musical – tendo no seu currículo artistas como Michael Jackson, Gloria Estefan, Whitney Houston e Will Smith – Quincy após ter lido o livro de Alice decidiu que iria fazer do romance um grande filme. É ele o responsável pela contratação de Steven e de Oprah Winfrey (que trabalhava na televisão e era admiradora incondicional do romance. Anos depois ela foi a responsável por levar o romance – agora com outro roteiro, para os teatros), além das belas composições feitas especialmente para o filme. E o curioso é que só depois do filme pronto e de todo o stress causado por ele, inclusive o fim do seu casamento por conta que o produtor não estava dando a devida atenção a sua esposa e filhos, que Quincy lembrou de fazer a trilha. Mas Jones acabou entregando uma das melhores trilhas sonoras de todos os tempos, destaque para as inesquecíveis “Miss Celie’s Blues” e “My Heart”, disponíveis em um cd duplo que além de te fazer reviver o filme traz o mundo negro mais juntinho do espectador.
Adoro A Cor Púrpura. Tanto o livro, quanto o filme e a trilha também. Produtos diferentes de uma mesma raiz, o pensamento da maravilhosa autora Alice Walker. Vi o filme inúmeras vezes, a primeira inesquecível me emocionando e acompanhando cada cena sem piscar os olhos. O livro li em três dias, uma experiência infinita, descobri personagens novos, sofrimentos meus que os
personagens colocavam a tona e eu achando que não eram sofridos por mais ninguém neste mundo... a trilha um fenômeno. Pequenas canções que possibilitam uma grandiosa viagem. E no final da experiências, Alice Walker ensinou-me que apesar do racismo e de todo o sofrimento que o povo negro passa existe redenção. E é pela fé em Deus que Celie consegue a sua redenção.