
Falar de filmes pornôs, hoje parece algo normal. A indústria cinematográfica pornô passou por várias reformulações. A primeira, de pequenas produções extremamente proibidas a filmes feitos em 35mm, projetadas em grandes cinemas alcançando sucesso mundial. Logo depois veio a popularização dos filmes com a chegada do vídeo cassete que afastou um pouco o espectador do cinema e o colocou em casa, vendo o seu “filme de sexo” com o conforto e o sigilo do seu lar. Com a década de 90 a indústria de cinema pornô conheceu o dvd, a web e as TVs a cabo como grandes veículos divulgadores de suas produções, conservando ainda mais a identidade de seus consumidores.

E o que seria dos filmes pornôs e de todos os seus profissionais se este não estivesse diretamente ligados ao proibido? Nada! O pornô está inteiramente ligado ao tabu. Ele serve como um revelador de algo que acontece debaixo de nossos narizes, mas em que momento nenhum deve ser revelado a luz do dia, como normalidade. Ao esquema do pornô estão às fantasias, os fetiches mais bizarros, as sexualidades (homo e por que não dizer hetero também!!!) enrustidas, o prazer em instituições aparentemente acima de qualquer suspeita – lê-se Exército e Igreja – ao adultério, ao incesto, a traição, enfim ao vasto mundo do proibido.

E este proibido submundo precisa de atores e personagens para sobreviver. Precisa de fantasias, de criar estereotipos, modelos para compor suas histórias. O filão é grande... A empregada fogosa e seu patrão, o policial violento, a enfermeira, o escravo do prazer, o amante, a lolita, o soldado, o ídolo, o pedreiro, a prostituta, a esposa traidora etc. Mas nenhum outro arquétipo pornográfico faz tanto sucesso quanto o ser negro...
Não é novidade para ninguém os estereotipos edificados pela dramaturgia tradicional como o buck, a mamie, o pai Tomás, a mulata perniciosa, alguns importados, outros construídos aqui mesmo em nossa terra. Mas o mundo pornográfico constrói seus próprios paradigmas, suas próprias fantasias. E o ser negro (homem ou mulher) ganham destaque em suas produções.
O estereotipo do homem negro de pau grande e da mulata com alma de prostituta são recorrentes em produções pornográficas gays e heterossexuais. Ao contrário do homem branco que precisa arquitetar um outro universo para sair do habitual, o corpo negro é um fetiche a parte, ele pertence à camada do proibido. Um homem negro, com pênis excessivamente grande, alto, geralmente com cabelos raspados, em uma noite escura é motivo de grandes fantasias na pornografia. A ele são ligados outros modelos pornográficos como, o escravo forte reprodutor, o empregado submisso, o homem perigoso, estuprador. Ao ser negro é unido quase sempre um papel submisso que vai ser convertido em poder sexual, o único que – dentro das temáticas e fantasias pornôs – o ele pode ter.
É curioso comentar também que no mundo pornô suas produções estão ligadas a temática racial. A branquitude é ligada à normalidade (nada de muito surpreendente!!!), mas a negritude é ligada ao patamar exótico, sendo anunciados filmes “Somente com negros”, “Filmes inter-raciais”, “Japoneses com Negros” e outras combinações... O mundo pornô não faz questão de esconder sua visão excêntrica do corpo negro, pois vive de aguçar fantasias e papeis eróticos.

Para a pornografia o ser negro pode ser considerado como objeto perfeito. Apesar de para ser ator pornô o pênis do candidato possuir proporções anormais, o ator negro sempre vai ser considerado dentro de possibilidades ainda mais extravagantes. O ator então nada mais é que um pau grande e ereto, não tem uma função mais aguçada que a de ser um objeto. Também nos filmes pornôs a monogamia é instintivamente combatida, portanto, a traição efetivada com um homem negro é sempre mais completa... Há também a possibilidade de viver duplas aventuras com um só corpo: negro policial, negro empregado, negro escravo. As figuras sexuais são sempre ressaltadas junto ao copo negro e as falas dos atores são sempre evidenciadas colocando o copo escuro em favorecimento.
O corpo negro exibe em nossa sociedade uma construção de fetiche. Ligado a relações fortuitas, nada de muito serio, já que é perfeito somente para o prazer pelo prazer! A idéia de homem negro-maquina sexual tão estudada por historiadores, sexólogos, antropólogos etc. ganha novo significado no mundo pornográfico. Seus cortes, closes, cenários, figurinos somente contribuem para que o estereotipo continue. Para o pornô o negro está como uma carta na manga, tirada de surpresa para fazer a alegria de todos... de todas as fantasias do mundo branco e seus prazeres proibidos...
Nenhum comentário:
Postar um comentário