Com A ONDA, filme esplendido e que você não deve perder de jeito nenhum, o cinema alemão faz o que sabe fazer de melhor. Tocar nas feridas do seu passado e colocar em cheque identidades presentes aparentemente bem construídas. Não é novidade para ninguém que o país se esforça para passar uma imagem de novo, de recuperado quando o assunto é seu passado nazista que abalou o mundo e matou milhares de pessoas. Os esforços por lá chegaram ao ápice na Copa do Mundo, que serviu para que o país mostrasse um lado alegre, amistoso e sem preconceitos de uma nova geração resolvida e sem resquícios das agruras sofridas por gerações mais antigas. Mas com A Onda a Alemanha é revisitada e mostra que sua nova geração é vazia como em qualquer outro país...
O filme conta a história do professor Ross que é designado a ensinar a atmosfera da Alemanha, em 1930, a ascensão e o genocídio nazista para uma turma de adolescentes. No inicio meio reticente, já que não era bem isto que queria ensinar, Ross vai gostando do assunto e ensinando história com técnicas de aprendizado que muito se parecem – propositalmente – com os arquétipos vistos no país no período em que aconteceu a Segunda Guerra. Disso, o professor desenvolve uma experiência pedagógica perigosa reproduzindo slogans do nazismo como o famoso “Poder, Disciplina e Superioridade” dentro da sala. A partir deste ponto, a sala é tomada por um fanatismo que só vai crescendo e tomando proporções arrasadoras. Os estudantes vão se identificando com a doutrina aplicada em sala de aula pelo professor e o que seria apenas uma técnica pedagógica que serviria para ilustrar a inserção da ideologia do nazismo nas pessoas, vira uma bola de neve gigante que desestrutura a vida dos habitantes da cidade onde o professor vive. O filme foi baseado em um incidente real ocorrido em uma escola norte americana em 1967,
Não vou contar muito sobre o filme por aqui. Posso dizer que como historiador fiquei impressionado com a forma que em que o filme fala sobre ideologia, fanatismo, irmandade, frustração, papeis femininos e masculinos em governos ditatoriais, preconceitos, conceitos muito bem formulados e mais uma infinidade de assuntos. E também como um líder carismático pode influenciar da forma que quiser na população que anda carente de heróis responsáveis e que tenham um ideal para mostrar. A ONDA me lembrou também um outro filme, o documentário OLHOS AZUIS, também já comentado aqui a certo tempo, por desmascarar ideologias que colocam em xeque várias identidades em favor de uma identidade universal.
Como se trata de um filme “estrangeiro” – digo estrangeiro fora do circuito estadunidense, pois brasileiro vê tanto filme norte americano que já acha gente como Will Smith, Richard Gere, Julia Roberts brasileiros com um sotaque diferente – A ONDA está passado pelas salas de arte da cidade... Vi no CINE VIVO no shopping Passeo no Itaigara, espaço pequeno, mas bastante confortável. Assista A ONDA e viaje no infinito que o cinema alemão tem a oferecer.
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