terça-feira, 6 de outubro de 2009

A ONDA.

A Alemanha está em moda em Salvador. Dois filmes estrearam quase que simultaneamente aqui na capital baiana: O GRUPO BAADER MEINHOF e A ONDA. Os dois polêmicos, os dois regados de prêmios por muitos festivais e também filmes de grande sucesso. Os filmes alemãs sempre foram uma pedida de grande divertimento, mas também de surtos de genialidade. E quando se trata de mexer nas feridas do passado, recém cicatrizadas, a Alemanha é ótima neste tipo abordagem através do cinema. Acho que só perde um pouco para os EUA, que ao mesmo tempo que existe um movimento de glorificação do sonho americano, há também um outro para mostrar que o sonho não é tão tranqüilo assim, se é que ele existe na verdade... Com os alemãs dar-se o mesmo fenômeno, cinema revisitando valores, feito para dizer o que ainda está errado, vomitar o pensamento da população, trazer aquilo que parecia morto e enterrado, construindo outros valores.

Com A ONDA, filme esplendido e que você não deve perder de jeito nenhum, o cinema alemão faz o que sabe fazer de melhor. Tocar nas feridas do seu passado e colocar em cheque identidades presentes aparentemente bem construídas. Não é novidade para ninguém que o país se esforça para passar uma imagem de novo, de recuperado quando o assunto é seu passado nazista que abalou o mundo e matou milhares de pessoas. Os esforços por lá chegaram ao ápice na Copa do Mundo, que serviu para que o país mostrasse um lado alegre, amistoso e sem preconceitos de uma nova geração resolvida e sem resquícios das agruras sofridas por gerações mais antigas. Mas com A Onda a Alemanha é revisitada e mostra que sua nova geração é vazia como em qualquer outro país...

O filme conta a história do professor Ross que é designado a ensinar a atmosfera da Alemanha, em 1930, a ascensão e o genocídio nazista para uma turma de adolescentes. No inicio meio reticente, já que não era bem isto que queria ensinar, Ross vai gostando do assunto e ensinando história com técnicas de aprendizado que muito se parecem – propositalmente – com os arquétipos vistos no país no período em que aconteceu a Segunda Guerra. Disso, o professor desenvolve uma experiência pedagógica perigosa reproduzindo slogans do nazismo como o famoso “Poder, Disciplina e Superioridade” dentro da sala. A partir deste ponto, a sala é tomada por um fanatismo que só vai crescendo e tomando proporções arrasadoras. Os estudantes vão se identificando com a doutrina aplicada em sala de aula pelo professor e o que seria apenas uma técnica pedagógica que serviria para ilustrar a inserção da ideologia do nazismo nas pessoas, vira uma bola de neve gigante que desestrutura a vida dos habitantes da cidade onde o professor vive. O filme foi baseado em um incidente real ocorrido em uma escola norte americana em 1967, em Palo Alto, Califórnia. Foi romanceado também e virou filme nos EUA. Mas ambientado na Alemanha ganha outras proporções...

Não vou contar muito sobre o filme por aqui. Posso dizer que como historiador fiquei impressionado com a forma que em que o filme fala sobre ideologia, fanatismo, irmandade, frustração, papeis femininos e masculinos em governos ditatoriais, preconceitos, conceitos muito bem formulados e mais uma infinidade de assuntos. E também como um líder carismático pode influenciar da forma que quiser na população que anda carente de heróis responsáveis e que tenham um ideal para mostrar. A ONDA me lembrou também um outro filme, o documentário OLHOS AZUIS, também já comentado aqui a certo tempo, por desmascarar ideologias que colocam em xeque várias identidades em favor de uma identidade universal.

Como se trata de um filme “estrangeiro” – digo estrangeiro fora do circuito estadunidense, pois brasileiro vê tanto filme norte americano que já acha gente como Will Smith, Richard Gere, Julia Roberts brasileiros com um sotaque diferente – A ONDA está passado pelas salas de arte da cidade... Vi no CINE VIVO no shopping Passeo no Itaigara, espaço pequeno, mas bastante confortável. Assista A ONDA e viaje no infinito que o cinema alemão tem a oferecer.

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