terça-feira, 16 de março de 2010

UM DESAFIO CHAMADO GILBERTO FREIRE...

Casa Grande e Senzala faz mais de 30 anos que foi publicado. É considerado um dos marcos da antropologia no Brasil e também um ponto “fundamental” na literatura sobre o negro no Brasil colônia. É contestado por alguns, ovacionado por outros. Mas acima de tudo, onde esteja provoca polêmica entre seus leitores. Nunca vi um livro que mesmo depois de tanto tempo publicado, gerado outros estudos sobre o mesmo assunto, ainda provoca polêmicas e dissabores. Daqueles de causar inimizade mesmo, que esquenta o ambiente – geralmente acadêmico – ou mesa de bar, ou banco de praça, seja onde for o debate esquenta.

Semana passada, presenciei mais um debate. Sala de aula cheia, de um lado Nina Rodrigues e sua teoria da miscigenação negativa e Gilberto Freire com sua idéia de valorização da mistura entre as raças. Estes dois autores na verdade, são os dois “pólos” sobre miscigenação e sobrevivências negras no Brasil, antes da grande virada que o movimento negro vai propor sobe uma concepção de ser negro durante a década de 70. depois de todos na sala serem contra Nina Rodrigues aconteceu a explanação sobre Gilberto e seus feitos... Ai o circo pegou fogo!...

Gente que defendia sua obra como “homem de grande valor e defensor da cultura negra”, ou aqueles que não leram a obra e sim gente que fez comentários sobre ela, ou pessoas que leram capítulos da mesma, ou gente que leu teóricos que leram outros teóricos que leram Casa Grande e Senzala. Do outro lado, estudantes contra Gilberto Freire e seus escritos e os neo-freireanos que fizeram nascer o conceito de “democracia racial brasileira”. E conforme o debate vai aumentando, as pessoas começam a falar mais alto e mais alto e o ambiente começa a ficar confuso a ponto de ninguém mais saber o que é debate acadêmico e racha entre grupinhos e seus valores ideológicos.

Gilberto e sua “obra fundadora” edificaram muitos conceitos e serviu para o alívio de uma burguesia sedenta de revoluções negras nulas, de uma não consciência negra, da negação do ser negro como objeto e sujeito da sua história. Da interpretação dos seus discípulos sobre Casa Grande Senzala e outros livros escritos por ele, nasceu o mito da democracia racial, o famigerado “jeitinho brasileiro” e a noção que os negros e indígenas sobreviveram por conta do heroísmo branco português. Independente de qualquer coisa é uma obra que deve ser lida, deve ser debatida em suas minúcias e suas várias armadilhas. Tudo por que Gilberto aidna sobrevive. É uma das poucas obras acadêmicas que conseguiram perpassar todas as barreiras da intelectualidade, da universidade e atingir a rua, as pessoas, mesmo aquelas que nunca ouviram falar em um livro... O vampiro do senhor de engenho, branco, descendente de portugueses, heterossexual, cristão e dono de seu pequeno império ainda continua vivo...

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