segunda-feira, 28 de junho de 2010

Flor do Deserto

Um aviso: Flor do Deserto, filme escrito e dirigido por Sherry Horman, que conta a historia da modelo somali Waris Dirie, faz bem para a alma. E um bem incrível! O filme me surpreendeu do inicio ao fim. Principalmente porque fui ao cinema com poucas informações sobre ele. Digo que foi o maior “risco cinematográfico” que já corri em anos. O filme é divertido, chocante, triste, emocionante, lindo, tudo na medida certa. Um filme leve que toca em assuntos sérios de forma única.

A história de Waris Dirie é um conto de fadas da vida real. Tudo que for improvável acontecer na vida de alguém aconteceu com ela e sua história sempre foi um prato cheio para um bom filme que agora transformou-se em realidade. Dirie viveu na Somália, país africano que circucinda suas mulheres quando ainda são crianças no intuito de purificá-las. Fugindo de um casamento arranjado, ela vai ao encontro da avó materna atravessando todo o deserto, passando sede e fome, chegando a Mogadishu, capital da Somália. Lá, passa toda a adolescência vivendo longe da mãe e não é alfabetizada pela família. No final da adolescência viaja para a Europa fugindo de uma guerra civil, acreditando que lá sua vida pode melhorar e vai trabalhar na embaixada do seu país como empregada domestica. Logo depois sair da embaixada e viver perambulando pelas ruas de Londres, comendo lixo e sem ter lugar para dormir é descoberta em um restaurante por um grande fotografo que lança seu nome para o resto do mundo.

Mas não se engane, o filme não é algo leve e despretensioso totalmente. Ele só faz uso de um caminho diferente para contar a historia de Dirie. Ao invés de carregar no drama, de vitimizar a infância da grande modelo, ele vai e volta no tempo equilibrando grandes momentos dramáticos com ótimos momentos de humor. E funciona da melhor forma possível.

Não tem como o espectador não se encantar com a historia de Waris Dirie, que no filme é feita (magistralmente) pela também modelo Liya Kebede (a esquerda na foto acima junto com a Dirie original). Sua interpretação é tão bem feita que o espectador se encanta e torce pela personagem. Na sessão em que estive presente, o público vibrava a cada passo certo dado e murchava a cada drama vivido. E o resto do elenco também está maravilhoso. Além disso, tudo, a Londres do filme transpira realidade, com gente de todos os cantos do mundo, falando um inglês carregando de sotaques diversos.

O filme tem defeitos? Sim tem. A relação entre Dirie e sua mãe quando ela consegue voltar pra Somália é passada de raspão e o filme apela para um interesse romântico que nunca se resolve realmente. Mas é tudo feito tão rápido que não dá quase para reparar. Quando você pensa já está fisgado pela historia da modelo que vira símbolo contra a pratica da circuncisão feminina em todo mundo.

E friso esta característica do filme. Waris Dirie vira símbolo de uma luta contra um costume somaliano que mutila e mata muitas vezes mais de 6.000 mulheres em seu país. E ela fala com propriedade, pois veio de lá. Não é um liberal europeu ou de outra parte de mundo querendo “socorrer” a África. Ela é africana, como diz em seu discurso na ONU, ama sua mãe, o seu país e seu continente e sabe que uma parte mutilada mutila todo o resto de uma pessoa. Ela é o exemplo de uma África chamando atenção da própria África. A cena da mutilação, exibida no final do filme é chocante. Confesso que nem vi muita coisa, pois vi a cena de lado, na maioria do tempo, pois não agüentei o baque.

Waris Dirie é uma personagem e personalidade encantadora. E o filme Flor do Deserto passa sua historia de forma leve e violenta nos momentos certos. É um grande pequeno filme que merece e muito ser visto e revisto.

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