segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Sol Tornará a Brilhar

Oprah Winfrey, no dvd extra de A Cor Púrpura, relata a desconfiança dos diretores, produtores e atores negros norte americanos sempre tiveram em relação à Hollywood. Na “fábrica de sonhos” norte americana o racismo era lei. É só reparar nos antigos sucessos norte americanos para ver não só como a raça negra, mas como todas as raças diferentes da branca eram configuradas pelo cinema. Não que isso tenha sido extinto. O racismo cinematográfico hollywoodiano apenas mudou sua configuração, ele está lá, é só apurar os olhos e você vai enxergar tudo claramente.

Mas, existiu um movimento de contra corrente, em que atores negros norte americanos reinventavam a forma de olhar o corpo e o personagem negro. Sem sombra de duvidas, este movimento teve com um de seus grandes protagonistas o ator Sidney Poitier. Ele com certeza fez escola e é reconhecido até hoje pelos atores (brancos e negros) norte americanos como precursor do bom cinema negro norte americano. Era um ator excelente? Não! Sidney muitas vezes soava exagerado ou estava ligado no piloto automático. Mas a sua garra como profissional, envolto em filmes que colocassem o ator negro em ponto de igualdade com atores brancos é que faz de seus filmes exemplos natos de ótimos trabalhos. Ele não estava atrás apenas de papéis de destaque, mas de protagonistas desafiadores, que participassem de ótimas histórias, fazendo negros que não estavam sujeitos em hipótese alguma a subordinação. Com essa determinação participou de filmes como Adivinhe Quem Vem Para Jantar, Ao Mestre Com Carinho, No Calor da Noite e O Chacal, todos clássicos.

E apesar deste O Sol Tornará a Brilhar não ter atingido o status de clássico, por ser um filme não tão conhecido, é com certeza um de seus filmes mais marcantes. O por quê? O filme tem no roteiro, na interpretação dos atores e na direção segura seus principais trunfos. Tudo começa quando os Younger, formados pelo motorista Walter Lee Younger, seu filho Travis, sua irmã Bernie, que estuda medicina, e a mãe viúva, Lena, proprietária do imóvel, recebem um cheque de 10.000 dólares proveniente do seguro de vida do patriarca da família já falecido. Só que Walter já pensa o que fazer com esse dinheiro, abrir um bar junto com outros dois amigos, seu grande sonho. Em contrapartida a matriarca da família pensa em pegar o dinheiro e comprar uma boa casa, em um bom bairro, já que a família passa por dificuldades e isso seria garantia de uma vida melhor para eles, além que ela não suporta a idéia de ver todo esse dinheiro gasto em um “comercio de vícios”.

As dificuldades financeiras e os diferentes destinos para o dinheiro são fundo para discussões intermináveis entre os Younger. E é justamente neste ponto que o filme, baseado em uma peça teatral em cartaz na Broadway, cresce. Quase toda a trama é passada no apartamento da família e é tudo feito com tanta força e impacto que não tem como o espectador não se envolver com a historia desse clã e seus desafios, frustrações, amores, vaidades, orgulhos, vitórias, derrotas e alegrias. A trama toca ainda em temas como racismo, aborto, ateísmo, valores familiares, África, violência, vicio, intelectualidade, tudo de uma forma muito bem feita. Existem horas em que a conversa entre a família esquenta e seus dilemas tornam-se muito profundos, a ponto do espectador sentir-se atraído a voltar os diálogos de tão bem escritos. A direção do canadense Daniel Petrie é segura. E apesar de Sidney Poitier ter o personagem principal em suas mãos, são as atrizes Claudia McNeil e Ruby Dee que roubam a cena, deixando Sidney no chão.

O Sol Tornará a Brilhar de 1968 é com certeza uma das melhores coisas que já vi em minha vida. É simples, sem explosões, sem efeitos especiais, mas tocou minha alma diferente de muito filme atual. Para quem não encontrar a versão antiga, existe uma nova, feita em 2008, com Sean “Puff Daddy” Combs no papel que foi de Poitier. Não assisti ao filme, que é passado nos mesmos anos de 1950 do filme original e é comandado pelo diretor negro norte americano Kenny Leon. Fiquei curioso quando vi a capa do dvd e estou ansioso para ver esta nova versão. O de 1968 está na minha lista de grandes filmes, de grandes clássicos, que já vi na vida. Uma ótima pedida.

Um comentário:

Anônimo disse...

ESQUECEU DE FALAR NO VENDIDO QUE ELE É, DEPOIS DE TANTA LUTA E SUCESSO ADIVINHA A PRIMEIRA COISA QUE VEZ????QUEM ADIVINHA???SE CASA COM UMA BRANQUELA TIRA COLO