Preto Contra Branco é um filme impactante. Um grupo de moradores se reúne para fazer uma partida de futebol, um time é formado pelos homens da favela de Heliópolis (maior favela da America Latina) e o outro com os do bairro da zona sul São João Climaco. Essa partida de futebol é clássica na região, desde 1972 os moradores se mobilizam e a rivalidade dos dois times já virou tradição. E como fazer parte de cada time? Se auto declarando negro ou branco. Cada jogador escolhe a sua cor e faz parte do seu respectivo time. Dar-se então um time formado por brancos e outro por negros. E é a partir de uma partida de futebol, da paixão que atinge todo brasileiro por este esporte, que o racismo brasileiro – geralmente velado, sorrateiro – aparece da melhor forma possível, sem medo e na sua cara!
E nada disso é ficção. O documentário dirigido por Wagner Moralis mostra o que está por trás de uma simples partida de futebol. A equipe passou uma semana com os moradores das duas regiões antes do jogo acontecer. A partida na verdade é feita para atenuar as tensões raciais que existem, para provar que todo mundo é irmão independente da cor, que não existe essa coisa de preto ou de branco etc. Os dirigentes de cada time a todo momento ressaltam que as piadas, insultos, provocações não tem nada de racista, mas o ritual que antecede o jogo e sua partida acaba por revelar uma faceta “bomba relógio” do brasileiro, um racismo institucionalizado prestes a explodir.
Apesar do tema, a partida de futebol é quase desconhecida, mesmo já acontecendo a mais de 30 anos. Assistindo ao filme vemos muito mais do que um simples jogo. O espectador presencia jogadores/moradores brancos se diferenciando pela cultura dita superior, pelo seu cabelo “bom”, pelo uniforme, por estarem em situação econômica muito mais favoráveis que os jogadores pretos, na partida provocam os negros com adjetivos como macaco, pobre, favelados. Já os negros não se fazem de rogados e chamam os brancos de Parmalat, mauricinhos e colocam que quando vencem as partidas vencem na raça, jogando limpo, mesmo com todas as dificuldades.
Como espectador não da para comprar a idéia dos responsáveis pelo time que afirmam que a partida é feita entre amigos, que não há racismo ali e que é todo mundo irmão ouvindo grito de guerra como “Eu sou branco, tenho dinheiro e os negão passa fome o ano inteiro”. É curioso também presenciar falas de moradores negros que afirmam que se ouvissem, o que eles ouvem no campo, no dia a dia de um homem branco qualquer, não gostariam e partiriam para ignorância. Mas dentro do espaço da partida é tudo irmão, é tudo brother, mesmo o grande brother te chamando de macaco.
Preto Contra Branco também discute a disputa territorial e o que é mais e menos importante dentro da vida de uma comunidade cheio de carências. É um ótimo filme, curto, 55 minutos, muito bem filmado e também muito bem intencionado... É ver e discutir.
Segue abaixo o trailer do filme:
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