ESQUECER A MPB... Gaby
Amarantos é a nova queridinha da musica no Brasil. Tem reportagem dela em tudo
quanto é revista, está estourada na radio por conta da musica na abertura da
novela das sete, estourada também na internet por conta do clip Xirley,
participa de tudo quanto é programa da maior emissora do país. O por que? Ah! Tem
um monte de motivos: 1º. A MPB há anos não produz algo que preste e seus velhos
mestres apelam para “inovações” que de nada acrescentam a nova musica produzida
no Brasil. 2º. Há anos também, a classe C ganhou evidencia, pois agora podem comprar
tudo que pensa e neste rastro sua cultura – antigamente chamada de subcultura –
agora ganha os holofotes. 3º. A ultima cantora que fez sucesso elevando status
de musica de rua foi Daniela Mercury quando colocou o samba reggae para todo
brasileiro ouvir com o disco O Canto da Cidade no começo da década de 90. Ou
seja, diva popular no Brasil? Cri cri cri... 4º. Agora é chic ser brega, nem
que seja por uma noite, não só pelo crescimento da classe C, mas também os
alternativos de plantão se jogam na vibe periférica. 5º A cultura das
periferias e dos subúrbios brasileiros é que fazem a diferença. Observe que as
elites se parecem mesmo separadas geograficamente, não há muita diferença entre
Pituba, Jardins e Copacabana. Rico gosta das mesmas coisas, mesmos moveis, música,
mesma cultura a anos... Mas há diferenças estapafúrdias entre Cidade de Deus e
Paripe, por exemplo. 6º. O discurso de Gaby é diferencial, ela é brega, mas é política,
ela é negra e se assume negra, tem ótima voz, mas não destrambelhou a colocar
rosa na cabeça e cantar MPB desafinando... Ela é ela e ponto final. 7º. Gaby vem
do Pará, mas não é Joelma, não grita, não se joga no brega solidão fossa, não traz
coreografias bizarras inventadas por ela... Por estas e outras, seu mais novo
cd Treme, produzido por Luiz Feliz
Robatto (o gordinho enfezado do Ídolos, produtor do Skank dentre outros) é um
dos melhores CDs a venda ( ou para baixar tanto faz...) nos últimos meses.
O
cd começa com Xirley, faixa que gruda
como chiclete, letra repetida quatro vezes, mas é tão gostosa de ouvir e seu
som, essa batida importada do Pará é tão boa que não tem como passar despercebida.
Logo depois, Ela Tá Beba Doida chega com
letra simples (!), mas com a aparelhagem fervendo. Ótima para balançar uma
festa. A terceira faixa voce já conhece, Ex My Love está na boca de tudo quanto
é tipo de gente neste Brasil Guaranil por conta da novela Cheias de Charme. Com
Merengue Latino o cd fica meio confuso na minha opinião, uma lambada pós
moderna não tem muito haver, apesar que a letra é boazinha. A qualidade sobe
novamente com o dueto com Fernanda Takai – Pimenta com Sal – maravilhosa,
sensual. A voz potente de Gaby contrasta com o doce de Fernanda. Muito bom. A classe
do cd continua com as ótimas Gemendo, Vem Me Amar e desce novamente com Galera
da Laje, parece discurso disfarçado de música; “Sou da periferia!!!”, fora que
o som é muito ruim. Com Ela Tá no Ar, o trabalho de Gaby ganha novo fôlego, mas
desce novamente com Mestiça. Musica feita pelo desejo brasileiro de se orgulhar
dessa mistura de 40 milhões de raças, aquele bla bla bla insuportável e piegas
de sempre. Na seguinte faixa, Gaby consegue elevar o status de Zezé di Camargo
com Coração Está em Pedaços, já conhecida pelo público, mas totalmente repaginada
e linda! Já Chuva, com letra de Thalma de Freitas e Iara Rennó é de uma
sutileza, conquista voce aos poucos e domina de vez. Eira e Faz Um T, com letra
da própria Gaby (assim como Gemendo e Ela Tá no Ar), fecham o cd com chave de
ouro, a primeira puro tecno brega a outra uma mistura do brega com o carimbó.
Gaby
Amarantos vem conquistando a cena musical brasileira, com seu visual de trava pisca
pisca pós contemporânea, seu engajamento político (política entenda em
posicionar-se, saber dizer não, se diferenciar, veja entrevista no De Frente
Com Gaby disposta na net, ela fala melhor que muita diva por aí...), seu
sorriso sempre largo. Conquista todas as classes, todas as cores, mas não se
deslumbra... Não esquece suas raízes. Como escreveu um critico, lá Mercury no
inicio da década de 90 espalhou um ritmo de rua para todo Brasil, samba reggae,
cultura negra, mas atuava somente como cantora, pois não pertencia totalmente a
cultura que reverberava. Já Gaby, espalha a periferia e vem de lá, fala sobre
negritude no seu discurso e é negra e linda e canta muito bem. Para voce isso
pode não ser importante, mas para mim isso tem um significado inigualável. Uma das
poucas vezes que um artista negro faz sucesso com a sua cultura aqui no Brasil.
Sucesso mesmo! Não pela metade... Treme vale a pena!