terça-feira, 11 de março de 2014

16 Razões Para VER 12 Anos de Escravidão!...



Evitar o longa de Steve Mcqueen? Nunca na vida. Esqueça o artigo do "jornalista" que criticou o filme e suas 16 razões para não ver o filme, mesmo que ele não viu o filme... O ganhador do Oscar deste ano de Melhor Filme, é com certeza um divisor de águas em inúmeros quesitos... Ah sim, EU VI O FILME!!!!...

1)      Steve Mcqueen: diretor e produtor do longa, ele comanda sua produção com mão de ferro. Sim, você vai ver sua assinatura em cada parte do filme. O negão filma de forma muito prática e direta. Estão lá seus planos longos, a solidão dos seus personagens, mostra violência sem ser gratuito, crueldade por crueldade não existe neste filme. A cena do açoite de Patsey, filmado em plano sequencia é simplesmente fenomenal.

2)      Historicamente é um filme impecável: está tudo no lugar. EUA beirando Guerra Civil, negros livres no Norte e escravizados no Sul, os grandiosos sobrados do sul rural dos EUA, a sujeira do submundo negro escravo vs a limpeza estéril dos brancos senhores das leis, a política que ao mesmo tempo livra certa parte da população negra, mas marginaliza uma parte ainda maior...

3)      O sistema escravocrata na tela sem rodeios: Negros de diferentes tonalidades eram separados. Os negros com pele mais escura e que aos olhos dos brancos, mais parecidos com animais, fazem o trabalho pesado. Enquanto os com tez mais clara e “mais parecidos” com seus senhores estão junto a eles, os servindo. A forma como a violência silenciosa era praticada dentro da senzala, já que o sistema escravocrata tinha um regime de “eu por mim, cada um por si”, quase que não existe sentimento de comunidade e sim sobrevivência, os negros estavam todos juntos, mas ideologicamente todos não escapavam da separação feita pelos brancos em benéficio próprio. O mercado de venda de negros, tratando-os como produto, dentes fortes, músculos rígidos, separando famílias, silenciando a todos... Está tudo na tela.


   4)      Não existem brancos bons no período da escravidão: Nem no filme!!! Estão lá todos os traços da branquidade, estes mesmo acabaram de uma forma ou de outra passando e geração em geração... Os elogios surpresos dos brancos quando veem um negro se comportando de forma diferente da que eles tem na cabeça... A “bondade” de seus senhores, que leem o Evangelho  adaptando os escravos ao seu contexto, vendem o seu fiel empregado por conta de dívidas, vícios, faz dele um escravo sexual em troca de vantagens... Ou é cruel de forma direta; humilha, cospe, amedronta, espanca, chicoteia, engana, esfola, enforca, corta, estupra...

5)      A relação das mulheres brancas e as escravizadas negras:   Ponto alto do filme é reparar este ponto. O sistema escravocrata é um sistema onde os homens são senhores, mas há lugar também para a crueldade feminina. As mulheres brancas também cometem das suas. Tem um pequeno poder, mas sempre que podem usam dele para se livrar de algo que está as importunando ou ameaçando a estabilidade de sua família... A guerra entre brancas senhoras e negras escravas é vista em todos os detalhes, da forma mais diabólica possível!

6)      O silencio: enfim, um produto sobre escravidão onde os gritos não são gratuitos!!! Sim, existe alguém que não faz das agruras negras um estandarte para exercício a paciência do público. Aqui quase não há gritos e sim o seu total contrário. A escravidão exigia de seus trabalhadores o silencio absoluto. Nada de falar, nada de levantar a cabeça, nada de ler, escrever, opinar. Se sofrer, sofra calado, nada pode tirar a tranquilidade do seu senhor e de sua família. Você é um produto e um produto não fala. NADA.

7)      Lupita Nyong’o: modelo e atriz. Ganhadora do Oscar de Coadjuvante e de outros inúmeros prêmios. Intepretação majestosa. Quando entra brilha, com poucas palavras e um corpo que mostra em detalhes o sofrimento para a plateia. Ela é agonia, tristeza, leveza, solidão, explosão...

8)      O roteiro em 3° pessoa: Ao contrário do livro, o filme não conta a história na perspectiva do personagem principal. A escolha do roteirista foi certeira, pois dessa forma, ele pode dar abertura para fatos históricos que não são tão bem trabalhados no livro. Além de desenvolver mais personagens...

9)      O elenco feminino: personagens femininos bons, bem escritos, bem interpretados, desesperadores, cada uma a seu tempo. Cada uma com uma complexidade exposta em tão poucas falas. O nome disso é talento!!!!!

10)   Não é um filme dramático: não há musica subindo nos momentos de emoção do filme, o diretor não quer compadecimento de ninguém, nem dos personagens, nem da plateia. Não existem falas de efeito moral. Ou planos sequencia onde alguém tem uma mensagem a dizer. Não há leveza, não existem piadas, poucos sorrisos. Afinal, estamos falando de escravidão!

11)   Sequencias de tirar o folego: as cenas mais bem filmadas são as em que enquanto alguns escravos recebem castigos de seus senhores, outros são obrigados a levarem sua vida como se nada estivesse acontecendo... É a escravidão mostrada sem cortes. O sistema separa e amedronta, tanto que não existe momentos de compaixão, nem de cooperação. Ele está sendo castigado, eu não! E tenho mais o que fazer...

12)   O negro como papel sexual: Eis um fator que os brancos não se esqueceram e continuam a reverberar mesmo com o fim da escravidão. Senhores não só possuem o corpo dos negros, como mão de obra, mas também são proprietários de seu sexo. As cenas que falam/mostram este quesito são feitas com maestria. Destaque para a cena do chá com Patsey...

13)   O filme é obrigatório na grade curricular dos colégios dos EUA: Sim, 12 Anos de Escravidão é tao importante para nossa geração, assim como Malcolm X de Spike Lee foi no começo da década de 90!

  14)   Este é apenas o terceiro filme de Steve Mcqueen: E ele já consolida seu nome como homem seguro que é no comando de uma produção, de época, com elenco grandioso, conduzindo seus atores em caminho correto, filmando de forma sublime e dando tempo para que cada história seja contada da forma certa.

  15)   Você nunca viu um filme como este: Esqueça Amistad e todo e qualquer filme que viu sobre escravidão. Faça um favor a você e apague estes filmes da sua memória.  A visão de Mcqueen é definitiva, não só pela sua frieza, mas também pelo ótimo trabalho de roteirização. Todos os subterfúgios clichês que vemos em vários filmes com esa temática, aqui desaparecem...


   16)   Ao final do filme, o silencio. Se ele é o ponto alto de quase todas as cenas deste filme incrível, a saída do cinema é igualmente impactada pelo silencio da palteia, que sai em choque. Vi o filme acompanhado por uma plateia em quase sua totalidade de pessoas brancas. Como não há escapatória para os brancos neste filme, a maioria do cinema saiu quieta. Não existia personagem branco para que eles se identificassem. Não existe isso em um sistema trabalhista onde o castigo, o medo, a violência imperam. 12 Anos de Escravidão é um filme essencial. Para todos!

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