Não era pra ser essa
avalanche, mas foi. A série O Sexo e as Nega de Miguel Falabella, passou, da
noite pro dia, de um mero produto global escapista e com pouca atenção, à série
do momento, com direito a campanha avassaladora da emissora. A culpa de quem
foi? Nossa! Simples assim.
Tenho um histórico com
Miguel bastante curioso. Era fã de seu trabalho. Mesmo! Ele esteve muito
presente como galã em novelas de sucesso como A Viagem e “interpretando” Caco
Antibes no humorístico Sai de Baixo, além do clássico global As Noivas de Copa
Copacabana. Aos poucos, com o passar dos anos, ao lado da sua companheira de
ofício (até então) Maria Carmem Barbosa, Miguel foi construído uma solida
carreira como autor com obras significantes como Tv Pirata, Delegacia de
Mulheres e Salsa e Merengue. Sempre no clima escrachado, sempre com personagens
pitorescos.
Até que um dia, influenciado
por este histórico absurdamente divertido, comprei um livro, reunião de peças
suas e de Carmem, chamado Querido Mundo e Outras Peças. As peças são ótimas,
destaque para a que leva o título da coletânea e a última Síndromes (pequena
obra prima), mas lendo os textos, reparei que aqui e ali Miguel utilizava de
pequenas mostras de humor preconceituoso. Não é nada grave, que gere uma
denuncia, mas desanimei bastante. A Lua Me Disse, depois, só veio para
comprometer mais ainda minha admiração... Novela com personagens negros que
dava vontade de vomitar quando via!...
A partir de 2008,
Miguel fica só nas autorias de seus trabalhos e encarna o que eu acho sua fase
não muito boa. Negocio da China, A Vida Alheia, Aquele Beijo, não são lá essas
coca cola toda! Até que veio Pé na Cova (mistura descarada de A Família Adams e
A Sete Palmos) e um novo autor ressurgiu. Pé na jaca assumidamente e
incrivelmente bom! Os personagens são tão bizarros e são ótimos.
Aí chegamos em O Sexo e
as Nega, mais uma serie de Miguel no subúrbio, mas agora ele resolve inovar e
colocar 4 heroínas negras e divulga referencia direta com Sex and The City. Cheirei
problema desde o início. Miguel nunca foi um exemplo em se tratar de negritude,
não por falta de discurso, o liberal ele tem, mas é justamente esse o problema,
seu discurso é liberal frustrado e cai sempre em aspectos clichês. Seus personagens
negros são subalternos. Não no aspecto social, pois ele coloca negros
ascendentes e ricos, mas racialmente falando eles são diminutos.
E a partir que a Globo
solta a sinopse da série, começa uma enchente de vídeos, fotos em redes sociais
diversas de pessoas protestando uma série que nem começou... Por que? Por conta
do histórico do autor, seu tratamento com personagens negros, a abordagem que
dava a negritude (quando dava...). A origem dos protestos era justamente ELE, não
a série em si, pois ninguém tinha visto nada ué...
Começou então uma
guerra. A então série desacreditada pela própria emissora, passou a ser um “carro
chefe”, em uma esperta campanha de marketing feita para virar de cabeça pra
baixo a imagem de um Miguel racista e coloca-lo como homem bom, melhor branco
bom. A partir daí veio o clichê... Ele com carta aberta no Facebook dando uma
de branco bom, ou Princesa Isabel, você escolhe. Gente da classe artística
defendendo ele, negros da classe artística defendendo ele como se ele fosse uma
Dona Benta moderna, sabe?! Aquela que dá emprego à pretinha, mas mantém a tal
preta no “lugar dela”... Encheção de linguiça em programas da Globo dando ênfase
a série e fazendo do protesto uma besteira sem limites...
Nisso, os pretos, antes
todos unidos contra o racismo começaram a se dividir, brigando ou defendendo o
tal do Miguellito. Nos textos, nos dizeres, palavras como CALMA, COMPLEXO, ou
expressões como TUDO É RACISMO, ESSE POVO COMPLEXADO estavam lá presentes. O problema
é nosso. As nega do seriado tem orgulho da sua negritude. Colocam o cabelo pra
cima, sensualizam, são felizes morando na favela (ops, comunidade...), tem
orgulho disso e você que não concorda, não concorda pois é complexada (o). o
problema sempre é nosso, o passado de Miguel não conta e a tentativa dele se
auto promover como homem bom foi engolida por muitos.
E aí a série estreia. Tarde
da noite. Muita expectativa. Será que o produto era racista, ou íamos tomar na
cara e a série seria um acontecimento na nova safra de séries globais?... O que
se viu foi mais do mesmo:
1)
É sério que a tal
comunidade começou daquela forma?... Historicamente é duvidoso que uma favela
carioca, no início do século XX, foi construída por pessoas brancas...
2)
Todos os personagens
são subalternos? É serio? Todos????? Brancos e negros não escapam do
“favelismo” global...
3)
Soraia, a do black
vermelho, é cozinheira. Usa aquele cabelo black e os patrões não falam NADA?
Kkkkkkk Aí pecou pelo excesso. Rs Todo mundo sabe que negros que estão nesse tipo
de emprego são levados a cortarem/alisarem os cabelos por desejos dos patrões
ou para não “assustar” os clientes. Miguel quer ser politicamente correto, mas
perdeu a oportunidade de falar sobre isso na tv... Mas aí é esperar demais...
4)
Mais cedo no Bahia Meio Dia, Miguel foi entrevistado pelo
jornalista Jonhy Torres e disse que a série recebeu criticas de gente que
queria as negras com empregos nobres. E que ele não fez isso, pois seria chato
abordar esse tipo de coisa. Então Scandal é chato? Um Maluco no Pedaço é chato?
Elas E Eu, é chato? Noah’s Arc é chato? Hum...
5)
Personagens favelados sem grau de instrução DE NOVO? Mais
uma vez, na tv brasileira, preto não tem grau de instrução superior. E
acredite, na favela, os pretinhos e as pretinhas são universitários, não só
trabalham pra comprar lata velha...
6)
É serio que na comunidade todo mundo fica com todo mundo?
Uma das frases ditas por uma das personagens em pleno metrô. Tipo, todo mundo
se pega e você tem que fazer a fila andar Kkkkkkkkk... E aquele discurso de
Miguel de falar sobre a sexualização do povo negro, fica nisso aí? Hum...
7)
Se é realmente inspirado em Sex And The City (que eu
gostava e vi TODAS as temporadas)... Onde estão as cenas de sexo de cair o
queixo? Onde está o feminismo fútil característica da série? Onde está o corpo
masculino evidenciado como mero objeto sexual para o feminino?
8)
Ainda sobre Sex And The City... a série inspiração não
tinha lugar pra homem. Eram protagonistas femininas, elas narravam TUDO, elas
comandavam cada pedaço da série. Em O Sexo e as Nega os homens são o centro das
atenções. Não por acaso um dos caras fala: no fundo elas querem homem... Série
de protagonismo feminino onde os homens comandam... Hum tá rs!
9)
O texto me surpreendeu... Pela primeira vez vejo um
trabalho de Miguel que não é engraçado. E a série foi vendida como divertida,
mas é tudo menos isso. A única coisa boa é (PASMÉM) a gaúcha!!!!!!
No final de tanta polemica, vi uma série com piloto fraco. Miguel é
bom (sim acho ele realmente bom) despirocando no texto, pirando mesmo, não
sendo politicamente correto. Se você curtiu produtos negros globais como O Paí
Ó se jogue, essa série foi feita pra você! Do contrário, assine uma Sky, Net,
Netflix e se divirta com personagens negros estadunidenses. Por que os daqui...
Nada de representação!!!!!!!!!
Agora é aguardar os próximos capítulos, com Miguel correndo atrás para
dar um jeito no roteiro e finalizar a primeira temporada da série com o mínimo de
dignidade, para ele é claro, se valendo de discursos clichês e evidenciando
novamente uma negritude subalterna. Coisa que ele sabe bem fazer...