Na livraria, uma revista em
quadrinhos me chama atenção. Estava com Persépolis na mão, decido a ir embora
com somente a HQ de Marjane Satrapi, até que vi, em cima de uma pilha
de outras quadrinhos, uma revista amarelada com nome Cumbe em destaque. Fiquei em
dúvida se comprava. Não pela qualidade do desenho, abri e achei muito bom, mas
sim pelo tema e como a história seria tratada principalmente. Procurei pelo autor,
referencias básicas e fui na biografia usada para pesquisa da temática da
história. Um alívio: ele não usou nem Gilberto Freyre nem João José Reis. Sorri
“aliviado”. Ok. vou comprar. Comprei!
Cumbe, de Marcelo D’Salete, conta
basicamente a história de negros escravizados que lutam pela liberdade. Sem o clichê
dos abolicionistas brancos bonzinhos, nem os senhores bem feitores. Aliás, em
Cumbe, assim como no filme 12 Anos de Escravidão, não existe lugar para brancos
bons no período colonial! A faceta não muito explorada atualmente no Brasil
aqui é colocada com ferocidade. Quem está em primeiro plano
são os negros que lutam de todas as formas pela liberdade, nem que ela venha
através da morte.
Cumbe é dramática, forte, (muito)
violenta e estilosa! A HQ chama atenção
em vários sentidos. Primeiro pela carga dramática de seus desenhos, da forma
como enquadra as imagens, de repetir o mesmo quadro para ressaltar pontos
diferentes. Na mesma figura perspectivas opostas sobre a situação, ou os
sentimentos dos personagens. A forma como a pesquisa histórica é jogada em
forma de roteiro é aprimoradíssima. O silencio também é uma característica
forte da obra, realçando o suspense, a tensão das invasões, as reações na
calada da noite, os segredos, tudo feito e ressaltado com um traço forte, que
arrisca e acerta.
Todo em preto e branco, o traço
de Marcelo nunca se perde, preenchendo momentos chave da trama com uma dessas
cores quase que total à página. Lindo de ver. Além disso, o material da HQ
é bastante aprimorado. São 175 páginas distribuídas em um papel de excelente
qualidade, com direito a glossário e índice de referencias no final da
história. O projeto da HQ foi feito com apoio do Governo do Estado de São Paulo
através da Secretaria da Cultura e do Proac 2013.
Devorei o conteúdo em um dia. De quadrinho
em quadrinho ia ficando tenso e curioso ao mesmo tempo. Cumbe merece destaque tanto por divertir como informar sobre o tema escravidão no
Brasil de forma diferente. Personagens negros protagonistas, não só da trama,
como da história e também no sentido de sua personificação... um personagem sujeito, não apenas objeto...
O autor, desenhista Marcelo D'Salete |
A minha edição rsrs |
Páginas abertas revelam o traço forte |