segunda-feira, 23 de março de 2015

APERTE O PLAY: Titica: Você Me Manda Fogo

Titica retorna da forma mais sensual possível. A presença e o sucesso cada vez mais crescente de Titica no cenário da musica africana e mundial é de uma importância tão grande que acho que nem ela se dá conta disso!
Esse clip não tem muito o que falar não. Só ver e ficar chocado com o crescimento artístico da artista e também pela sua coragem. Porque toda diva sensualiza, então ela que é uma também tem seu direito...


domingo, 8 de março de 2015

Sobre quem está começando...

ps: esse post não foi feito para agradar...

Dia desses, acabei cruzando com um amigo militante dos mov negros, um pouco mais velho que eu, ele já estava meio nervoso quando o avistei pela caminhada, parou, falou comigo, desatou a falar sobre o que o afligia naquele momento.
Um novo militante novo, “quebrando o pau” com ele em um debate dentro da universidade sobre cultura negra, apropriação cultural etc etc. O negocio ficou ainda mais acirrado quando, o tal menino de cabelo black quis dar um belo sermão nele, pois este meu amigo a tempos não deixava o cabelo crescer. Depois de tudo, de explicar todo o processo da criatura, de como entrou, de como se comporta, de como coloca seus conceitos... ele olhou pra mim, querendo uma resposta. Eu não pude infelizmente dizer outra coisa que não fosse: “Ô amigo, isso é super normal! Relaxe!”
Super normal o processo de violência. Eu era assim, você era assim. Muitos quando “acordaram da matrix” eram assim. Você se reconhece como negro, muitas vezes tendo passado por um processo de invisibilidade fenotípica, vê o processo que passou e agora quer falar, seja de que forma for... Nunca se reconheceu como branco, mas negava sua negritude, ou de uma forma silenciosa ou negando abertamente. Ou se considerava negro, mas não ligava para o racismo. Sei lá, cada um tem a sua história. O importante é que ele acordou  agora quer falar...
Também há a explosão de conteúdos negros do sujeito em redes sociais, ou sobre o que ele lê. Estamos na geração do compartilhamento. Descobri quero mostrar. Mesmo que isso seja apenas, “quero mostrar que li também”. sua time line vai ser inundada pelo novo militante, de conteúdos sobre negritude. Muita coisa você já leu, você já sabe, não é de hoje, mas ele não ué. Se voce for na time do sujeito, ao que parece ele só lê sobre isso. E muitas vezes ele se restringe a esse ponto, pois o mundo que ele agora quer conhecer é vasto demais... E a geração nova é pior que a minha, quer tudo ao mesmo tempo agora...
Seguindo, tem uma coisa que eu acho muito, mas MUITO engraçada. O sujeito acha tudo o máximo. Lê um texto e posta que o escritor “brocou”, “sambou”, “arrasou”, usando os adjetivos que geralmente eu vejo nos posts, muitas vezes o argumento é batido, ou repetitivo, ou 8000 pessoas já pesquisaram sobre aquilo... Tem o processo da descoberta, que não se tem um arquivo de leituras grande, ou médio que seja, mas há um defeito ai. A nova geração lê pouco. Prefere ler artigos a ler livros. Na minha os professores já reclamavam disso, imagine hoje... Voce lê um capitulo, fica longe de ler monografias, teses, dissertações, livros. Lê-se muito os títulos e não as reportagens inteiras, abre 3, 4 5 janelas de textos as vezes muito complicados e não se concentram em nada.
O ataque ao branco é um ponto forte que vejo. Isso não tem nada a ver com racismo ao contrario. Tem a ver com o massacre que até agora veio a mim e que agora eu destino ao outro como resposta. Muitas vezes, vejo em posts e em grupos que participo discussões acirradas sobre o branco, ou brancos amigos que não são racistas, ou todos os brancos são racistas. E aí começa o quebra pau entre negros por conta da branquidade alheia. Fico me perguntando o que eu faço para tirar o branco racista dentro de mim? eu ataco meu amigo, pois nele enxergo algo meu, não consigo trabalhar em mim e entrego a ele minhas frustrações para ele também resolver? Isso faz de mim militante de que?...
É inevitável o confronto com as gerações mais velhas. Com os trintões ou com os quarentões, que seja. São formas diferentes de ver a negritude, são racismos diferentes experimentados. Esse confronto sempre acontece, inerente ao posicionamento racial/social. Isso acontece dentro de casa, na universidade, no trabalho etc...
Com o tempo, as coisas vão abrandando. O sujeito vai se descobrindo. O que é ser negro pra ele? Todos os negros são iguais? Experimentam de coisas iguais? Como é o processo da diferença dentro da diferença? E as minhas referencias brancas? Eu as tenho? O que faço com elas? Todas as referencias negras me representam? Se não, o por que isso? E o que fazer com o sexismo negro, com a homofobia negra, com o machismo negro? Afinal de contas todos temos PRE-conceitos ué, somos humanos... E o meu racismo interno? O que faço? Como se dá o processo da minha desconrrução? Por que construir e fazer discurso todos sabem, desconstrução é um outro processo que nem todo mundo está preparado para passar... Uma das coisas que vejo também, é a descoberta e consequente decepção, que nem todo mundo é tão santinho quanto parece. Aquele cara dono do artigo “brocante”, na verdade é um escroto com a namorada. Ou o militante de cultura negra, critico de relações inter raciais alheias, mas pouco resistente quando o assunto é branco na cama dele...
Feita essas e outras perguntas, respondidas algumas outras não, o sujeito começa a mudar. A se reformular. Ao invés de militar por tudo, pega foco em uma área. Começa a ver outros mundos, ou se aprofunda em sua cultura, mas de uma forma mais solta. Passa a ver que nem todo mundo vai pensar igual a você, mas pode lutar de uma forma diferente. E uma coisa importante: passa a ter humor! A negritude não é apenas sinônimo de racismo, de ataque ao branco, é também, amor, alegria, sorrisos, abraços, fortaleza.
Meu amigo olhou pra mim, se viu em muitas coisas que disse. Ele era assim. Eu era assim. Voce provavelmente também, ou conhece alguém que fez isso... Com o tempo a gente vai se encontrando. Eu mesmo me encontrei a partir da decepção de gente que desistiu. Militante fervoroso que não aguentou o rojão e simplesmente virou as costas pra tudo que acreditava. Por uma série de motivos. Mas desistiram. Ou enlouqueceram, ficaram doentes pelas mazelas da militância. Não queria isso comigo. Isso significa que sou superior a alguém? NOT! Rs Isso quer dizer uma coisa só: em-ve-lhe-ci! E olha que estou longe de ter 40 e poucos viu...
O racismo vai acabar por conta de que cresci? Não também! só vou reparar nele de formas diferentes. Hoje sei que não devo falar em determinados lugares, com determinadas pessoas, algumas delas negras e tal, por que o movimento será contraproducente. E desgastante. Isso não me afasta de dar de vez em quando um chega pra lá, “me respeite”, em certos colegas, mas minha visão vai para outras instancias. Ignore, melhor que encher o bucho de losartana potássica por conta do nervosismo rs...
Tem gente por ai com muito mais preparo que eu! Estou em um tempo de minha vida que reconheço muito mais luta contra o racismo fora da academia que dentro. Moro em uma favela e vejo meus vizinhos que nunca ouviram falar de Fanon lutando para desconstruir a cabeça do filho, o educando e preparando seus pimpolhos para o mundo.  Fui educado por mãe que nunca leu Alice Walker, mas os conceitos que ela desenvolve em seus livros minha mae fazia direitinho. Reação em cadeia? Não sei... O nome disso é o sentimento negro solidário brotando em si!!!
Nem todo militante novo é assim. Friso também que a palavra novo, nao necessariamente pode ser atribuída aqui a pessoas de menos idade. Pode ser um novo quarentão etc...

Despedi do meu amigo, antes disso vi um sorriso brotando do rosto dele. Ele se reconheceu no menino que o atacara. Ele também já foi daquele jeito, e as vezes até é com gente mais velha que nós. O conflito existe. Sempre vai existir. São visões diferentes sobre o racismo, ele se transforma, da forma mais inteligente e diabólica possível. Nós que muitas vezes paramos no tempo. Pois é cômodo sermos senhores. Mas é melhor baixar a cabeça... para que o racismo não seja os senhor do nosso tempo!...