domingo, 16 de setembro de 2007

ÁFRICA de merda?????????????

Os liberais adoram a experiência! Sentar numa poltrona confortável, com saco de pipoca nas mãos, cruzar as pernas e ver diante dos olhos, numa tela de cinema, a África. O continente assolado pela pobreza, infectado pela aids e condenado a morte. Oh! É tudo realidade. O continente dos nossos antepassados, que alguns confessam ser o berço da humanidade, está sendo destruído. Sua gente está doente, a água está contaminada, os países envoltos em conflitos internos violentos. A África não tem solução! A menos que alguém ajude... E quem poderia ajudar este continente esquecido por Deus?... Os africanos? Não, eles só pensam em se auto-destruir! Gente ignorante que não dá valor a sua própria terra! Quem poderia salva-los de si mesmos?... A Europa! Sim, essa é a solução! Imagine um herói branco, não com uniformes, nem poderes paranormais, mas real, um homem civilizado, de olhos azuis, loiro de preferência, que venha ajudar essa gente frustrada. O que seria da África se não fossem os outros?...

Para um liberal, a experiência de assistir a um filme como Diamante de Sangue, Amor Sem Fronteiras, Hotel Ruanda ou O Jardineiro Fiel deve ser algo compensador. São filmes políticos, que mechem com... Como é que eles dizem mesmo? Ah! Lembrei. A “questão africana”!... Essa tal questão africana que passa na tela é nada mais que o continente dos sonhos para qualquer liberal branco... Um território que urgentemente precisa de ajuda. Mais precisamente de SUA ajuda. A denúncia será feita e no final o continente terá solução, os brancos estrangeiros serão lembrados, os negros nativos serão educados. Para o alívio do espectador os créditos sobem e toda a miséria, os corpos magros de fome, as doenças, a água contaminada desaparecem. A mensagem final é passada: a África está morrendo! O espectador pensa... Isso é grave!... Mas e daí? Ele vai sair da sala de exibição a caminho da pizzaria mais próxima, esquecendo de tudo o que viu! O continente foi salvo e a indústria cinematografia que todos abominam, enfim cumpre um diferente papel: de denúncia e politizar o espectador quanto à “questão africana”.

O cinema ocidental, de uns tempos pra cá, vem se dedicando a denunciar o lado podre do continente africano. Não que este lado não exista. A aids e a fome assolam o continente e os conflitos internos matam muitos civis em vários países. Mas o problema é o fato dessa indústria usar todo seu armamento num só foco e garantir que a solução para o continente esteja fora dele. Os brancos estrangeiros nesses filmes são evidenciados como gente de boa fé, com alma benevolente, dispostos a trabalhar pelos necessitados. Distanciam-se da fortuna, da intelectualidade, da “civilização” para ajudar os africanos, pobres coitados. São personagens brancos, liberais, estrangeiros na pele de astros do cinema ocidental liberais, brancos e estrangeiros – ou seja, o que eles fazem na verdade, apesar dos personagens assumirem alguns pontos diferentes, é auto interpretação.

E quanto ao lado africano? O povo africano? O governo africano? Ah são uns bárbaros! Nos filmes citados acima os povos africanos são contaminados pela ignorância. São brutos, estúpidos e não tem nenhum sentimento de irmandade. Os conflitos internos são vistos de forma rala, sem aprofundamento das reais questões que norteiam o continente. Parece na verdade que o povo africano se odeia, sem nenhuma razão aparente. E que os brancos estão ali para ensiná-los a verdadeira essência do amor... Um bom exemplo é Hotel Ruanda. Ao assistir a história de Paul Rusesabagina, gerente do Hotel des Mille Collines que se vê completamente obrigado a proteger centenas de pessoas durante o genocídio de Ruanda em 1994, tive a impressão de que o povo africano está entregue a própria sorte. A tensão entre os Tutsis e Hutus é discutida na tela rapidamente. O verdadeiro motivo desses dois povos estarem se gladiando é posto durante cinco minutos, num filme de duas horas de duração. Na verdade, o conflito foi patrocinado pelo Banco Mundial e Fundo Monetario Internacional. Logo depois, quando a ratoeira estava armada os estrangeiros sairam de cena e deixaram a guerra matar todos os africanos.

A África é um continente perdido no pensamento do cinema ocidental. Não que continentes como a Ásia sejam lembrados e ovocionados com filmes exuberantes, de conteudo conciso. O sentimento de alteridade que toma o cinema ocidental – que se auto proclama universal – acaba por reconhecer somente os defeitos do outro. A boa África está no limbo. Steven Spillberg a esqueceu quando adaptou A Cor Purpura para o cinema (leiam o livro pelo amor de Deus e vão compreender o que digo!!!), Meninas Malvadas é mais um que se destina a proclamar o continente com território de jirafas loucas, elefantes, safaris e afins...e o velho e bom mito do Tarzan, que ano após ano tem sempre uma reformulação, seja na forma de desenho animado ou live action. Fora que o continente é visto sempre como um todo. Temos a impressão que Africa é um país e não um territorio de várias nações, com governos independentes.

Esse desejo do cinema ocidental de esteriotipar ou consertar a Africa é óbvio! Os africanos, nos filmes, não tem força o suficiete para reconstruir seus paises. Na verdade, são um povo doente, na maioria das vezes preguiçoso e miserável. E o que seriam deles se não fossem pelos velhos heróis brancos estrangeiros que sempre estiveram dispostos a ajudar a todos os necessitados? Os liberais são presunçosos o suficiente de acharem que podem lutar pelos negros, lutar pela África. Mas fazem isso por dor na consiciência e notoriedade, já que ser politicamente correto está na moda! A África precisa de solução para seus problemas e de ter seu outro lado evidenciado. E ouvir os africanos seria um bom começo. Algo que liberais estrangeiros não estão dispostos a fazer...

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Akeelah simbolo de S-U-P-E-R-A-Ç-Ã-O

Antes de tudo, uma coisa:
Prova de Fogo é um filme clichê! Tudo no filme é previsível... As atuações são previsíveis, o texto às vezes parece filme de auto-ajuda, os personagens têm seus tipinhos muito bem definidos, a música aumenta na hora certa – entre o abraço da filha aos prantos e a mãe que arrependida tenta se recompor – e frases de efeito saltam na tela para fazer o espectador se sentir melhor. Além do final, feito para você pular da cadeira de alegria, depois de ver tanto sofrimento e choro! Sim, e porque diabos então escrever sobre um filme previsível, já que ele não vai mudar em nada a vida de ninguém? Tenho a resposta na ponta da língua: por que Prova de Fogo é o filme clichê!
A história, com certeza, você já viu mil vezes... Professor (Laurence) leva Akeelah, menina pobre de onze anos, a superar seus limites e medos quando passa a treiná-la para vencer um grande concurso – neste caso, os campeonatos de soletração que são febre no território norte americano – que além de mudar sua vida vai colocar sua comunidade de cabeça para baixo. Trata-se do clichê do professor herói, que transforma seu pupilo num sujeito reformulado, culto, educado, visto em filmes como Mentes Perigosas e Vem Dançar, sendo bem diferente do aluno marginal do inicio da história. Prova de Fogo vai entregar mais do mesmo de forma diferente. Está tudo na tela; a aluna rebelde que no fundo quer aprender, as barreiras que a impedem de alcançar seu objetivo, a família que não acredita no potencial da menina, a escola que mais parece um inferno e o professor lindo, alto, moderno e de quebra (para não dizer que ele não tem falhas) traz de brinde uma tragédia para animar um pouco mais a história.
Mas existe um fator ímpar entre a história de Akeelah e seus “irmãos”. Diferente de Mente Perigosas, Vem Dançar e outros do gênero, Prova de Fogo não coloca um professor de fora do contexto que entra em escola desajustada, com alunos desequilibrados para educá-los, transformá-los em sujeitos cultos, desenvolvidos ao seu modo. Os alunos de Michelle Pfeiffer e Antonio Bandeiras nos filmes citados acima são negros, latinos, orientais, que moram em bairros pobres de cidades americanas, beiram a marginalidade e são salvos pelo método revolucionário de um professor destinado a fazer um verdadeiro milagre naquele território inóspito. O sentido da educação, nestes filmes vem de fora, alguém que não pertence aquele contexto que reformula todo o quadro e mostra o verdadeiro valor da educação aos seus alunos.
Já o professor, vivido pelo magnífico Laurence Fishburne, é um homem que sabe as limitações de Akeelah, pois também pertenceu um dia ao contexto da garota. Ele não a desfigura, colocando na sua frente conhecimentos de um mundo diferente do seu e sim ensina Akeelah o poder das palavras através de ícones como Luther King. Akeelah torna-se um símbolo para sua comunidade desacreditada se espelhar e encontra nessa comunidade força para superar seus limites.
Os personagens, apesar de cada um pertencer a um padrão de “filmes de professor”, são independentes. Negros, latinos, orientais são vistos lutando por si mesmos, sem necessariamente precisar da educação branca estereotipada para serem aceitos na sociedade. É curioso o fato de não existir personagens brancos de grande profundidade na trama, concentrando todas as relações na comunidade de Akeelah. Ela torce pelo sucesso da garota, vibra a cada palavra soletrada corretamente e nisso você vai se reconhecendo no filme e torce junto com a comunidade, vibra por Akeelah. No final está completamente entregue ao clichê e segurando as lágrimas...
Somente por curiosidade, o filme foi vencedor do Black Awards 2006, premiando as performances da pequena e brilhante Keke Palmer, Ângela Basset e o próprio Fishburne que também é produtor do filme. Trata-se de um filme simples, de fácil digestão e que traz de presente o sempre bom Laurence Fishburne. Se entregue ao clichê sem culpas e assista Prova de Fogo. Ou melhor... A-S-S-I-S-T-A!...

Prova de Fogo. (Akeelah and the Bee, 2006) Direção: Doug Atchison Roteiro: Doug Atchison. Drama. Estados Unidos Duração: 112 minutos.