Existem duas coisas neste mundo que dão dinheiro a rodo, conseguindo público consumidor
sempre fiel e sem enfrentar crises financeiras terríveis: DEUS E SEXO! São dois assuntos completamente diferentes – ou encarados como diferente pela nossa sociedade – mas que independente da época, da crise econômica e dos problemas que cada sociedade enfrenta, faz fortuna e deixa muita gente nadando no dinheiro. Mesmo sendo antagônicos, os dois assuntos provocam homens e mulheres em todo mundo. Como as duas temáticas tratadas em um post só dariam um trabalho danado, além de ser extremamente complicado falar de Deus e sexo sem despertar a ira dos fanáticos de plantão, vamos falar e concentrar nossas idéias – desta vez – no mundo do obsceno.
Falar de filmes pornôs, hoje parece algo normal. A indústria cinematográfica pornô passou por várias reformulações. A primeira, de pequenas produções extremamente proibidas a filmes feitos em 35mm, projetadas em grandes cinemas alcançando sucesso mundial. Logo depois veio a popularização dos filmes com a chegada do vídeo cassete que afastou um pouco o espectador do cinema e o colocou em casa, vendo o seu “filme de sexo” com o conforto e o sigilo do seu lar. Com a década de 90 a indústria de cinema pornô conheceu o dvd, a web e as TVs a cabo como grandes veículos divulgadores de suas produções, conservando ainda mais a identidade de seus consumidores.
O mundo pornô hoje não é mais tão longínquo como há décadas atrás. É possível em qualquer esquina de uma cidade comprar filmes de artistas consagrados no meio como Vivi Fernadez, Julio Vidal, Toni Tigrão, Pablo Picasso, Pámela But (os nomes são os mais criativos possiveis!!!) em camelôs que dividem os filmes de sexo explicito com os mais novos lançamentos Disney. Tornou-se mais acessível, mas não liberal. Vemos a ascensão de artistas “quebrados” no meio tradicional, como Rita Cadilac e Alexandre Frota, conseguindo fama e dinheiro no submundo pornô, sendo motivo de calorosas conversas em rodas de jovens e também senhoras recatadas, calorosas e concorridas festas de lançamentos de superproduções pornográficas sendo feitas em todo país, mas este universo ainda não deixou de estar envolto em uma redoma proibida.
E o que seria dos filmes pornôs e de todos os seus profissionais se este não estivesse diretamente ligados ao proibido? Nada! O pornô está inteiramente ligado ao tabu. Ele serve como um revelador de algo que acontece debaixo de nossos narizes, mas em que momento nenhum deve ser revelado a luz do dia, como normalidade. Ao esquema do pornô estão às fantasias, os fetiches mais bizarros, as sexualidades (homo e por que não dizer hetero também!!!) enrustidas, o prazer em instituições aparentemente acima de qualquer suspeita – lê-se Exército e Igreja – ao adultério, ao incesto, a traição, enfim ao vasto mundo do proibido.
E este proibido submundo precisa de atores e personagens para sobreviver. Precisa de fantasias, de criar estereotipos, modelos para compor suas histórias. O filão é grande... A empregada fogosa e seu patrão, o policial violento, a enfermeira, o escravo do prazer, o amante, a lolita, o soldado, o ídolo, o pedreiro, a prostituta, a esposa traidora etc. Mas nenhum outro arquétipo pornográfico faz tanto sucesso quanto o ser negro...
Não é novidade para ninguém os estereotipos edificados pela dramaturgia tradicional como o buck, a mamie, o pai Tomás, a mulata perniciosa, alguns importados, outros construídos aqui mesmo em nossa terra. Mas o mundo pornográfico constrói seus próprios paradigmas, suas próprias fantasias. E o ser negro (homem ou mulher) ganham destaque em suas produções.
O estereotipo do homem negro de pau grande e da mulata com alma de prostituta são recorrentes em produções pornográficas gays e heterossexuais. Ao contrário do homem branco que precisa arquitetar um outro universo para sair do habitual, o corpo negro é um fetiche a parte, ele pertence à camada do proibido. Um homem negro, com pênis excessivamente grande, alto, geralmente com cabelos raspados, em uma noite escura é motivo de grandes fantasias na pornografia. A ele são ligados outros modelos pornográficos como, o escravo forte reprodutor, o empregado submisso, o homem perigoso, estuprador. Ao ser negro é unido quase sempre um papel submisso que vai ser convertido em poder sexual, o único que – dentro das temáticas e fantasias pornôs – o ele pode ter.
É curioso comentar também que no mundo pornô suas produções estão ligadas a temática racial. A branquitude é ligada à normalidade (nada de muito surpreendente!!!), mas a negritude é ligada ao patamar exótico, sendo anunciados filmes “Somente com negros”, “Filmes inter-raciais”, “Japoneses com Negros” e outras combinações... O mundo pornô não faz questão de esconder sua visão excêntrica do corpo negro, pois vive de aguçar fantasias e papeis eróticos.
Para a pornografia o ser negro pode ser considerado como objeto perfeito. Apesar de para ser ator pornô o pênis do candidato possuir proporções anormais, o ator negro sempre vai ser considerado dentro de possibilidades ainda mais extravagantes. O ator então nada mais é que um pau grande e ereto, não tem uma função mais aguçada que a de ser um objeto. Também nos filmes pornôs a monogamia é instintivamente combatida, portanto, a traição efetivada com um homem negro é sempre mais completa... Há também a possibilidade de viver duplas aventuras com um só corpo: negro policial, negro empregado, negro escravo. As figuras sexuais são sempre ressaltadas junto ao copo negro e as falas dos atores são sempre evidenciadas colocando o copo escuro em favorecimento.
O corpo negro exibe em nossa sociedade uma construção de fetiche. Ligado a relações fortuitas, nada de muito serio, já que é perfeito somente para o prazer pelo prazer! A idéia de homem negro-maquina sexual tão estudada por historiadores, sexólogos, antropólogos etc. ganha novo significado no mundo pornográfico. Seus cortes, closes, cenários, figurinos somente contribuem para que o estereotipo continue. Para o pornô o negro está como uma carta na manga, tirada de surpresa para fazer a alegria de todos... de todas as fantasias do mundo branco e seus prazeres proibidos...