sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

AFINAL DE CONTAS... CINEMA NEGRO EXISTE?

Cinema negro... Fico me perguntando em mais um ano escrevendo em um blog falando sobre “cinema negro” se este “cinema negro” realmente existe!... Não seria uma conotação meio estereotipada, criada apenas para diferenciar uma arte que pode ser igualitária, sem problemas, já que em tese todos assistem cinema e com ele se identificam? Ou cinema negro apenas é uma das vertentes dos vários cinemas espalhados por este mundo tão diferente? E se ele existir, será que este tipo de cinema poder ser misto em várias partes do mundo, pois com a diáspora as negritudes ampliaram-se, atingindo vários povos e formando outras culturas. Todo filme do “cinema negro” pode ser encarado como um cinema político? Ou pode ser encarado apenas como diversão? E política negra também pode ser encarada como diversão?... Quantas perguntas!
Se seguirmos e adaptarmos a denominação de teatro negro feita por Christine Douxami para o nosso contexto, segundo ela esta denominação “pode tanto ser aplicada a um FILME que tenha a presença de atores negros, quanto aquele caracterizado pela participação de um diretor negro, ou ainda, de uma produção negra. Ou uma outra definição ser o tema tratado NOS FILMES”. Seguindo o primeiro pensamento de Christine cinema negro pode ser muita coisa (Os Bad Boys, Vovó Zona, Mulher Gato, Irmãos de Sangue, Hancock) ou qualquer coisa para ser mais preciso. Mas é na segunda afirmação que uma luz pode ser encontrada. O tema tratado.
Desta forma dá para afunilar bem o que poderia ser chamado de cinema negro. Os assuntos a serem abordados pelo roteiro seriam características do cotidiano da população negra, suas alegrias, dificuldades, seus amores, cultura, seus traumas e embates. Neste viés estariam pérolas como A Cor Púrpura, O Sol Tornará a Brilhar, A Bem Amada, Ali, Infância Roubada, Cidade dos Homens, Filhas do Vento, Vista Minha Pele dentre muitos outros.
Com a primeira definição de que cinema negro poderia ser qualquer filme que abrangesse o universo negro percebe-se o quanto o cinema branco (pois se existe um cinema negro é porque existe um branco em contra partida) está impregnado em todos os tipos de cinema seja ele nos EUA, Brasil ou África, sendo considerado como normal ou um arte que atinge a todos. Como a maioria dos filmes são protagonizados, produzidos, dirigidos, interessados por/aos brancos qualquer ponto negro em uma película poderia ser considerado um ato de resistência cinematográfica।Na segunda moldura de cinema negro o discurso importa e muito. Cinema negro então seriam as produções norte americanas baseadas em clássicos da literatura daquele país, os filmes do visionário Spike Lee, o cinema popular da Nigéria, o cinema produzido pela nova geração de cineastas brasileiros que vêem da favela (de onde vem os negros na maioria das vezes) ou o cinema pan africanista que existem para exercitar um pensamento que os governos africanos nunca conseguiram por em prática verdadeiramente.
E se existe cinema feito em Hollywood, em Bollywood, em mandarim ou o queer cinema (cinema feito para homossexuais, por homossexuais), um cinema branco, cinema de arte, cinema novo, cinema comercial/pipoca, por que não existir cinema negro?! Algum pecado nisso? Algum pecado em fazer filmes dirigidos a uma determinada parcela da população que só nos EUA corresponde a mais de 40% da bilheteria? E olhe que lá eles são minoria!!!
Bem, agora sigo meu caminho já que pude refletir um pouco sobre esse tal de cinema negro. Meio tardiamente confesso, mas antes tarde do que nunca. Sigo escrevendo sobre esta mais uma arte negra, com suas películas boas de serem vistas ou exemplares vergonhosos que mais dão vontade de apertar o stop antes de tudo acabar. Como qualquer tipo de cinema o cinema negro tem seus bons e maus exemplares. Mas que existe, existe!

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