segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O PAÍ Ó... NO CAMELÔ!

Centro da cidade, ano passado, um filme lançado nos cinemas faz sucesso estrondoso em todo Brasil. Este filme, pouquíssimo tempo depois, estava a ser comercializado nos camelôs de todo o país e logo os DVDs esgotavam nas barracas ou naqueles ambulantes que estendem lona no chão e vendem seus produtos ali mesmo sob a calçada. Este filme: Ó Pai Ó. Daí pra frente não é novidade para ninguém, o filme fez bastante sucesso, mostrou uma Bahia hipercolorida para os não baianos, colocou o Bando de Teatro Olodum em um novo patamar (o cinema, já tinham alcançando, por exemplo, com Jenipapo, mas o sucesso somente veio nas telonas com O Pai Ó, que por acaso é da mesma diretora). E com o sucesso do filme veio a super/hiper/mini/série.
Foram quatro capítulos sem ligação direta exibidos toda a sexta feira, na Globo. Não sei muito bem como foi à repercussão em outros estados (a série foi escolhida como melhor de 2008, vencendo concorrentes como Capitu), mas aqui na Bahia a série, assim como o filme, virou febre, um vírus, sei lá... mania pura! A toda hora tinha gente repetindo o nome do programa ou bordões da mesma ou até os trejeitos dos personagens, seguidos de uma gargalhada geral. No Sábado a conversa era uma só no ônibus: Assistiu ó Pái Ó ontem? Não? Então lá vem o cara explicando detalhe por detalhe para o outro que não havia visto e tome trejeito daqui, piada dali, ditado baiano acolá. Uma agonia...
Bem, poderia muito bem esboçar todos os traços ruins e benéficos da série e do filme, mas tenho a certeza que um monte de gente já fez isso antes de mim. O que me interessa na propagação da série mais quista do ano passado é uma outra coisa... Estou eu este final de ano, novamente no Centro da Cidade, quando me deparo com um DVD esplendido! Uma dessas coisas que somente um “piratero” inteligente sabe fazer. O Pái Ó a série todinha, reunida em um único disco. O mesmo fenômeno do ano anterior repete-se. O povo completamente voa nos DVDs.
Aviso logo que não concordo com a pirataria. E não estou falando isso para ser politicamente correto. Os dvds já não tinham muita qualidade, agora que baixaram o preço (R$ 1,00 em alguns lugares) não há qualidade alguma. Com sei disso? Pois quebrei minha cara comprando dvds piratas. Alguns, confesso, dei graças a Deus por existirem, como o filme Os Grandes Debatedores – produzido por Oprah Winfrey e protagonizado por Denzel Washington – que concorreu ao Globo de Ouro, mas não passou pelos cinemas brasileiros. No camelô tinha e eu comprei! Filme bem ao estilo “vi a versão pirata”, cheia de defeitos e cortes abruptos durante sua exibição.
Mas também não concordo com o preço dos dvds originais, mesmo agora com as produtoras baixando os preços com a expansão da pirataria. São caros, às vezes não vale a pena dar em um dvd simples R$ 50,00!!! O artista não tem nenhum cuidado com seu público fiel ou com quem o descobre e acha que o ego dele e suas produções desbaratinadas valem um preço exorbitante. O dvd vem com o show ou o filme seco e olhe lá... Isso é falta de respeito. Dvds assim deveriam ser vendidos em balaio!
Nós sabemos muito bem que a pirataria está aí para todos verem. E que os vários tipos de pirataria têm público consumidor distinto. Geralmente moradores dos bairros nobres, brancos, com internet banda larga a disposição, baixam de casa mesmo suas séries e filmes prediletos. Filme pirata no conforto do lar, legendado, que logo é transformado em dvd para ser guardado junto à pilha de filmes, escondido. Já os moradores dos bairros periféricos, a galera do subúrbio, maioria esmagadora negra, sem internet ou sem PC em casa, depende do camelô e de seus filmes dublados (às vezes em espanhol, como a versão do novo filme de Will Smith de um amigo meu), capengados, com imagem semelhante a uma VHS semi-nova.
Muito desse caminho é feito de “cima para baixo”, a pirataria vindo da NET e passando de mão em mão nos ambulantes da vida. Mas é certo que hoje filme pirata é comercializado para todas as cores, classes, de maneiras diferentes, mas chegam lá. Fechando locadoras, despencando o preço dos DVDs originais, aumentando o desemprego, fazendo com que os artistas consagrados façam milhares de campanhas contra a pirataria, revelando artistas novos (lê-se Fantasmão, Harmonia do Samba...), popularizando o cinema (coisa que Hollywood nunca conseguiu realmente fazer), sustentando o crime, popularizando ainda mais a pornografia (com DVDS das Brasileirinhas e da Pau Brasil sendo vendidos abertamente nas ruas), entregando a nova mania do momento os dvds dois, três, quatro, cinco em um! Tudo isso sendo feito por um preço realmente baixo, que atinge a toda a população.
Por conta da pirataria muita coisa ruim aconteceu. Mas a população negra e pobre, mesmo que com a baixa qualidade dos dvds piratas, pode usufruir do mesmo filme que o “bacana” da zona nobre assiste no multiplex. Filme é informação e esta é sinônimo de poder. E poder ao alcance das mãos por uma pechincha? Realmente irresistível! Foi assim com o fenômeno Kiriku e a Feiticeira e sua continuação, os dois filmes foram espalhados pelo Brasil cópia por cópia feito em casa ou multiplicada nos ambulantes. A pirataria como tudo nesta vida, tem suas vantagens e desvantagens... Uns lucram, outros ficam desempregados, uns não mais esnobam, outros agora assistem... E segue as vendas do novo dvd do momento, Ó Pai Ó da telinha para o camelô bem perto do seu dvd.e que venha a continuação ou a segunda temporada... onde será que você vai assistir?...

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