Falar sobre cinema e negritude não é um assunto fácil. Sei um pouco como é isso escrevendo a mais de dois anos este blog. Como tudo que envolve negritude em um mundo racista e um país hipócrita como o Brasil, falar sobre sétima arte ligado a negritude é algo que requer cuidado. Foi através desta temática que me certifiquei que cinema não é feito somente para divertir, mas suas mensagens e seus caminhos possuem muitos outros objetivos, às vezes explícitos, mas como em toda arte que se preze a maioria são implícitos. Cinema serve para educar e para desacreditar também, por isto filmes e mais filmes são usados nas escolas para “ilustrar” a realidade e provocar discussões como mais um material didático a ser usado a favor do conhecimento.
Em busca por mais informações sobre o tema que abordo aqui no blog, acabei comprando este NEGRITUDE, CINEMA E EDUCAÇÃO – Caminhos Para a Implementação da Lei 10.639/2003 Volume 1, livro organizado por Edileuza Penha de Souza que reúne 15 artigos que ligam, como o próprio titulo diz, cinema negritude e educação.
O livro começa de forma majestosa. Com prefácio de Noel dos Santos Carvalho, diretor do documentário Novos Quilombos de Zumbi (2004) que explica os caminhos tortuosos do negro no cinema no Brasil. É verdadeiramente uma aula de cinema perfeita. O cineasta fala sobre os diretores, filmes antigos, de como os filmes situavam os personagens negros, tudo muito bem escrito e informações prazerosas sobre a relação do cinema brasileiro e negritude.
Depois começam os problemas. O livro é dividido em duas partes: filmes nacionais e filmes estrangeiros. Seguem uma forma de explicação do filme e no final uma pequena lista de provocações que podem ser debatidas em sala de aula. Até ai tranqüilo. O livro analisa o cinema a partir da negritude para o espaço escolar e a proposta é interessante, mas esbarra em muitos problemas. Alguns artigos são mal escritos, outros se resolvem rápido demais. Além deste ponto, alguns autores insistem em decifrar o filme por inteiro, chegam a contar a historia da produção quase que totalmente, mastigada para quem lê. Um filme é para ser descoberto, não para ser segmentado. Também tem aqueles que acham que é interessante revelar como foi que ele(a) teve a idéia (genial!!!) de falar daquele filme, de como foi o processo de construção do mesmo. Não gastei meu rico dinheirinho para saber das provocações acadêmicas dos autores. Eu lá quero saber se foi um prazer ou não fulano (a) de tal ser chamada(o) para falar sobre tal filme... Poupe-me!
Mas trata-se de um livro de artigos. Existem os ruins e os bons. Destaco como ótima leitura os artigos que tratam dos filmes Atlântico Negro, A Negação do Brasil, O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas, Domésticas, Faça a Coisa Certa, Malcolm X e Sarafina. Estes são bem escritos, analisam o filme sem entregar quase tudo na sua cara, avaliam o contexto do filme no país de origem trazendo também para o Brasil quando se trata dos filmes estrangeiros, o texto provoca, dá vontade de ver o filme novamente para ter outras leituras e expandir os horizontes. Assim que os outros também deviam ser construídos, pois quem disse que precisa me explicar timtim por timtim, pedaço por pedaço para que eu me sinta atraído?!!! Não sou burro! O leitor gosta de ser provocado e não de ser subestimado.
No final o livro existem fichas técnicas e sinopses de todos os filmes citados, uma informação que, diga-se de passagem, é obrigatória já que trata de um “manual” para professores e o uso do cinema em sala de aula. Como todos os livros que reúnem artigos, existem os ruins e os surtos de genialidade, tem os bem escritos e os momentos de “passa a página”. Leia também este NEGRITUDE, CINEMA E EDUCAÇÃO – Caminhos Para a Implementação da Lei 10.639/2003 Volume 1 para ampliar seus horizontes e discutir cinema na roda de amigos, na sala de aula, em casa, no trabalho, pois ele reflete em todas as categorias da nossa vida.
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