terça-feira, 4 de maio de 2010

Fanon, Walker e outros desconhecidos...

É evidente que a cultura negra hoje está em um outro patamar em consideracao a anos atrás. Mesmo que ainda em quantidades homeopáticas, no Brasil. o numero de livros, CDs, dvds, exposições, espetáculos de artistas negros aumentou e muito nos últimos dez anos. De fato, muito por conta das ações afirmativas junto ao governo e a outras empresas e a pressão que o movimento negro exerceu nos últimos anos para divulgar a negritude como arte e fazer com que empresas e outros setores da sociedade também aderissem a esta conjuntura. Mas anos atrás isso era bem diferente. A percepção do que era cultura negra era mais ou menos invisível ou nula. E para encontrar algo que valesse a pena colocar a mão na carteira era uma luta e das boas.

E quando as referências eram de fora a coisa piorava. Encontrar Alice Walker, Frantz Fanon, Biko, Toni Morrison era como encontrar uma agulha no palheiro, como um negro no Curso de Medicina na Universidade Federal da Bahia (!). Até hoje é um pouco difícil é verdade, mas anos atrás só Deus sabe o esforço que alguém tinha que fazer pra conseguir cultura de boa qualidade e feita por negros. Por que isso era um outro problema. Artistas em geral, que tratavam sobre negritude, brancos era fácil encontrar, mas negros?!!!!! Nossa que dificuldade! Às vezes dava a impressão que os negros não faziam nada ou não sabiam fazer ou toda sua arte foi abduzida por ETS e só restou os depoimentos de outros artistas... Mas eles estavam lá, escondidos, nas prateleiras do fundo, ou disponíveis em um só volume, ou em ediçoes que nunca chegavam a ser reeditadas, essas coisas misteriosas que só os deuses para explicarem por que acontece... E foi em uma dessas prateleiras que descobri os meus queridos exemplares dispostos na figura do post. Todos esses livrinhos conseguidos da forma mais absurda, louca, histórias que merecem serem contadas.

O de Fanon, OS CONDENADOS DA TERRA, um clássico da literatura negra, que nunca mais teve novas edições, consegui pela bagatela de R$ 12,00!!!!! Sim, isso mesmo. Em um Sebo, na mão de um argentino que estava querendo se livrar daquelas tralhas amontoadas, ao lado de Fanon estavam “clássicos” de Sidney Sheldon (que autor, eim?!) a Agatha Christie – vendidos a preços mais caros do que do livro do filosofo africano. Curioso é saber que em outro sebo próximo o mesmo livro de Fanon estava – a edição em Frances – pela bagatela de R$ 200,00 e a edição em português, que não existia lá ainda, tinha fila de inscritos aguardando que ele chegasse.

O de Alice (A COR PURPURA, VIVENDO PELA PALAVRA e O TEMPLO DOS MEUS FAMILIARES) e o de Toni (PARAISO) a mesma coisa. Eles – os funcionários do sebo – nem sabiam quem eram as duas escritoras, achavam que estavam no mesmo crivo de... Sei lá, esses escritores estrangeiros que ninguém nunca ouviu falar, pedi aos funcionários um livro chamado A Cidade das Mulheres (livro horrível sobre uma norte americana que vem pro Brasil pesquisar sobre o candomblé... Como é grosso serve como um bom prendedor de porta!!!), um pedido na verdade para despista-los. Comecei a procurar os livros que na verdade estava a fim de levar e acabei encontrando os dois. A R$ 20,00!!! Quando o funcionário voltou, vendendo uma edição antiga do outro livro a R$ 250,00 (!!!) disse que não estava interessado, mas que queria comprar os outros. Ele acabou dando até desconto.

Eles não conheciam quem era Fanon, Alice, Toni... Se soubessem a importância que eles tinham pra mim fariam os preços subirem mais altos que o teto. Mas como naqueles dias cultura negra era sinônimo de invisibilidade, aproveitei a desorientação do vendedor e comprei meus livros chegando em casa e devorando todos sem parar.

Hoje você chega em uma livraria e devido também a lei 10.639 tem delas que chegam a ter sessões de livros sobre cultura negra... Literatura, historia, infantil, antropologia etc. de todos os preços, a maioria são caros, como todos os livros no Brasil, mas estão lá. As referencias chegaram. Agora é só se matar de suar pra comprar um exemplar...

Enquanto isso no outro sebo, leitores afoitos esperam em uma lista interminável, que um exemplar em português de OS CONDENADOS DA TERRA chegue... Ai ai...

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