Um livro que reúne artigos falando sobre qualquer tipo de assunto tem sempre seus bons e maus exemplos, não é verdade? Geralmente composto por diferentes nomes que escrevem em torno de determinado tema, essas coletâneas (tão necessárias nas universidades) sempre são compostas de altos e baixos. Tem sempre um artigo que beira a perfeição – quando não atinge totalmente – e aquele que é a vergonha do exemplar, mal escrito, mal estruturado, mas como o autor geralmente é Dr. disso. PhD naquilo está ali marcando sua presença, mesmo que o artigo do cara que acabou de se graduar seja infinitamente melhor que o dele...
Essa regra, de que toda coletânea tem seus bons e maus artigos, encontra sua exceção com Psicologia Social do Racismo – Estudos Sobre Branquitude e Branqueamento no Brasil. Trata-se de uma reunião de nove artigos falando sobre branqueamento/branquitude no nosso país e nenhum (eu disse nenhum!) deles é ruim, ou mal escrito ou desinteressante. O livro na verdade tornou-se um clássico, pela sua importância, por ser um excelente trabalho e também por ser um dos poucos estudos sobre branquitude no Brasil que deixaram o “circuito acadêmico” e foram parar nas prateleiras das livrarias. E das livrarias o livro se esgotou rapidinho.
O livro expõe uma fatia da população brasileira que geralmente não é problematizada quando o assunto é racismo, os brancos. Geralmente não são problematizados, pois se omitem da questão enfatizando que toda a responsabilidade sobre o racismo que cai sobre o negro é culpa muitas vezes dele mesmo ou que racismo é coisa de branco preconceituoso e já que aqui no Brasil não existe branco, por que aqui todo mundo é misturado, não existe racismo. A discriminação racial acabou tornando-se um “problema ou questão do negro” e o branco – que também é atingido pela sua invenção – fica imune, vendo tudo de camarote, de braços cruzados. O livro problematiza aquele que nunca foi evidenciado; homens e mulheres brancos, liberais ou não que tem sim sua parcela para o crescimento do racismo.
Não é de hoje que branquitude é discutida. Autores africanos como Steve Biko (Escrevo o Que e Eu Quero) e Frantz Fanon (Os Condenados da Terra) já faziam isso há tempos atrás e com maestria. Mas como a questão brasileira se deu e se dá de forma diferente das demais partes do mundo, teóricos começaram a expor as singularidades da branquitude segundo nosso território.
O livro muitas vezes choca pelas feridas expostas que geralmente são silenciadas em torno do debate. Como por exemplo, a doutora
Todo o estudo é argumentado através de teóricos da psicologia (brasileiros ou não), pesquisadores brancos que estudam branquitude pelo mundo afora e também mesclando com conhecimentos de áreas múltiplas como antropologia, sociologia, historia, jornalismo etc. Psicologia Social do Racismo – Estudos Sobre Branquitude e Branqueamento no Brasil é um ótimo livro de gente corajosa que resolveu falar do outro lado. Junto com Aqui Ninguém É Branco, de Liv Sovic, O Espetáculo das Raças de Lilia Moritz Shwarcz e Branquidade – Identidade branca e Multiculturalismo de Vron Ware compõem o quadro das grandes obras que falam sobre a historia da branquitude brasileira. Leitura de impacto com certeza.
Um comentário:
Preciso assistir a película para a apresentação de um seminário temático: IDENTIDADE E QUESTÕES RACIAIS.
Espero que o filme tenha muito a me oferecer em termos de conhecimento. Obrigado!
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