sexta-feira, 2 de julho de 2010

Psicologia Social do Racismo – Estudos Sobre Branquitude e Branqueamento no Brasil

Um livro que reúne artigos falando sobre qualquer tipo de assunto tem sempre seus bons e maus exemplos, não é verdade? Geralmente composto por diferentes nomes que escrevem em torno de determinado tema, essas coletâneas (tão necessárias nas universidades) sempre são compostas de altos e baixos. Tem sempre um artigo que beira a perfeição – quando não atinge totalmente – e aquele que é a vergonha do exemplar, mal escrito, mal estruturado, mas como o autor geralmente é Dr. disso. PhD naquilo está ali marcando sua presença, mesmo que o artigo do cara que acabou de se graduar seja infinitamente melhor que o dele...

Essa regra, de que toda coletânea tem seus bons e maus artigos, encontra sua exceção com Psicologia Social do Racismo – Estudos Sobre Branquitude e Branqueamento no Brasil. Trata-se de uma reunião de nove artigos falando sobre branqueamento/branquitude no nosso país e nenhum (eu disse nenhum!) deles é ruim, ou mal escrito ou desinteressante. O livro na verdade tornou-se um clássico, pela sua importância, por ser um excelente trabalho e também por ser um dos poucos estudos sobre branquitude no Brasil que deixaram o “circuito acadêmico” e foram parar nas prateleiras das livrarias. E das livrarias o livro se esgotou rapidinho.

O livro expõe uma fatia da população brasileira que geralmente não é problematizada quando o assunto é racismo, os brancos. Geralmente não são problematizados, pois se omitem da questão enfatizando que toda a responsabilidade sobre o racismo que cai sobre o negro é culpa muitas vezes dele mesmo ou que racismo é coisa de branco preconceituoso e já que aqui no Brasil não existe branco, por que aqui todo mundo é misturado, não existe racismo. A discriminação racial acabou tornando-se um “problema ou questão do negro” e o branco – que também é atingido pela sua invenção – fica imune, vendo tudo de camarote, de braços cruzados. O livro problematiza aquele que nunca foi evidenciado; homens e mulheres brancos, liberais ou não que tem sim sua parcela para o crescimento do racismo.

Não é de hoje que branquitude é discutida. Autores africanos como Steve Biko (Escrevo o Que e Eu Quero) e Frantz Fanon (Os Condenados da Terra) já faziam isso há tempos atrás e com maestria. Mas como a questão brasileira se deu e se dá de forma diferente das demais partes do mundo, teóricos começaram a expor as singularidades da branquitude segundo nosso território.

O livro muitas vezes choca pelas feridas expostas que geralmente são silenciadas em torno do debate. Como por exemplo, a doutora em psicologia Edith Piza que entrevista uma mulher branca da cidade de Itapetinga no interior de São Pulo e esta define o que é ser branco: “Ser branco é não ter de pensar sobre isso. O significado de ser branco é a possibilidade de escolher entre revelar ou ignorar a própria branquitude... não nomear-se branca.”. O livro também problematiza como as pessoas brancas enxergam as pessoas negras, como as dividem em torno de colorações de pele diferentes, os elogios quando encontram alguém negro que mereça louvores “Você não age como um pessoa negra”, como os brancos que se dizem não racistas acabam reformulando o racismo e também como o ideal do branqueamento atinge os negros que acabam por ter vergonha do seu cabelo, da sua pele, dos seus traços negroides, sendo eles no fim culpados pelo racismo que os coloca na parede coma celebre frase “Ah! Mas o negro é preconceituoso com ele mesmo!”

Todo o estudo é argumentado através de teóricos da psicologia (brasileiros ou não), pesquisadores brancos que estudam branquitude pelo mundo afora e também mesclando com conhecimentos de áreas múltiplas como antropologia, sociologia, historia, jornalismo etc. Psicologia Social do Racismo – Estudos Sobre Branquitude e Branqueamento no Brasil é um ótimo livro de gente corajosa que resolveu falar do outro lado. Junto com Aqui Ninguém É Branco, de Liv Sovic, O Espetáculo das Raças de Lilia Moritz Shwarcz e Branquidade – Identidade branca e Multiculturalismo de Vron Ware compõem o quadro das grandes obras que falam sobre a historia da branquitude brasileira. Leitura de impacto com certeza.

Um comentário:

Jefferson Bruno disse...

Preciso assistir a película para a apresentação de um seminário temático: IDENTIDADE E QUESTÕES RACIAIS.
Espero que o filme tenha muito a me oferecer em termos de conhecimento. Obrigado!