quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O FENÔMENO KIRIKU.

Quem nunca viu Kiriku que atire a primeira pedra!!! Já assisti este desenho tantas vezes - no começo sozinho matando minha fome de referencias infantis negras, logo depois para meus alunos de todas as séries - que sei ele de cor. A animação, produzida pela França, Bélgica e Luxemburgo, dirigida pelo até então estreante Michel Ocelot, lançada no final da década de 90, foi um marco quando chegou às escolas e lares de todo Brasil.
Tudo isso, pois Kiriku não era um desenho qualquer. Poderia não ter o desenvolvimento técnico da Disney, ou a velocidade e o colorido dos filmes da Pixar, mas tinha elementos que nenhum outro desenho infantil até então explorara. O protagonista de Kiriku e a Feiticeira era um menino negro, pequenino, curioso e que não para quieto – igual a toda criança na idade dele. Mas já fazia estripulias que mostravam sua diferença e inteligência sagaz frente aos outros de sua aldeia: desde cedo falava na barriga da mãe, escolheu seu próprio nome desde que nasceu e sabia que seu destino é a liberdade, tanto que parte em busca dela para sua aldeia enfrentando a feiticeira Karabá. Kiriku também corre velozmente e consegue escapar de tudo quanto é ameaça com sua velocidade e inteligência.
A historia do filme é baseada em uma lenda da África Ocidental. Além disso, o filme em nenhum momento descamba para o chulo, ou estereotipo, ou agride a cultura africana em razão do humor fácil tipicamente hollywoodiano. Pelo contrário, até o tempo da animação é totalmente diferente dos filmes que nossas crianças estão acostumados a ver. O filme é cheio de silêncios e com passagens lentas, mas incrivelmente a animação em momento algum fica chata ou faz perder o interesse.
Kiriku e a Feiticeira teve anos depois (2005) uma continuação, lançada aqui no Brasil em pouquíssimos cinemas. Este filme, intitulado Kiriku e os Animais Selvagens na verdade trata-se de um prelúdio e é inferior ao original, apesar do apuro técnico ser incrivelmente maior ao primeiro filme. Na época, as canções do segundo filme ainda não tinham sido legendadas ou mesmo dubladas, ou seja quem não entendia o idioma perdia muito do filme, já que as músicas de Kiriku contavam a historia e não eram simplesmente um up na historia como acontece nos desenhos da Disney. Com o passar dos anos o problema foi solucionado.
Tanto Kiriku e a Feiticeira como a continuação tornaram-se febre nas escolas e projetos sociais, principalmente aquelas que seguem a lei 10.639 de forma correta. Sempre quando vejo um educador descobrindo Kiriku vejo três movimentos curiosos: o primeiro deste que cresceu sem referencias infantis negras e volta a ser criança vendo a historia do menino veloz. Depois, o professor passa para seus alunos uma animação estranha no começo – pelo protagonista, pela vilã, pelo território que passa a historia e também pela historia – mas que depois ganha o coração de todos. E o terceiro movimento, do professor tendo que repetir inúmeras vezes o filme em sala de aula, com as crianças pedido Kiriku pela qüinquagésima vez. Falo isso por experiência própria!
Engraçado que anos depois vários desenhos infantis ou não chegaram com historias e protagonistas negros. Produções como A Rainha Sol, Afro Samurai, A Princesa Sapo, As Aventuras de Azur e Asmar, Príncipes e Princesas (estes últimos do mesmo Ocelot que dirigiu os dois Kiriku), dentre outros abrangeram o cenário da cultura africana pelo mundo. Kiriku é um marco, como desenho para crianças, como animação adulta, como objeto pedagógico. Trata-se de uma animação completa.

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