quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Axé: Por uma música apolítica...

Greve dos PMS na Bahia, inúmeros saques a lojas, pânico nas ruas, assassinato aos montes, governo tratando grevistas como terroristas, televisão e facebook tratando de hora instaurar o terror, hora dar informação de qualidade... No meio disso, uma tentativa desesperada das autoridades em conseguir acordo – da forma deles – pois daqui a uma semana acontece o Carnaval, uma das maiores e mais rentáveis festas do país. Como o próprio governador afirmou está tudo pronto para a festa acontecer... E os artistas estão desesperados para que sua principal vitrine aconteça.
No meio de tantos acordos, desavenças, arrastões... O cantor Carlinhos Brown dá depoimento sobre seu nome em meio aos concorrentes ao Oscar de melhor canção e solta essa: “Estou trocando o Oscar pela paz na minha cidade e no meu país. Minha cidade deste jeito e eu pensando em comemorar? Não dá. Meu troféu é a paz. (...) Vou fazer o carnaval se tiver segurança. Sem isso, não dá. Não é que a cidade seja fascista. Mas tem gente que aproveita e vira baderneiro por 24 horas. A gente não quer ver cidadãos mortos, não quer ver guerra. Eu me sinto envergonhado de ser incapaz de fazer alguma coisa. A gente (os artistas) foi muito omisso nessa história",
Foram! Mas desde quando não foram?... O axé brilha de forma louca nesta época do ano aqui na Bahia. Axé, pagode, semba, samba-reggae, arrocha... E como é música feito aqui na Bahia, nos outros estados soa tudo como axé. Saiu da Bahia, é feita no verão e para dançar... é axé, pronto e acabou. Já vi isso acontecer muitas vezes. Então mesmo que o axé não seja hoje a música que mais traduz meu estado, é ela quem está na cabeça de quase todo brasileiro no quesito música produzida por aqui. Com toda essa repercussão musical da alegria, da vontade de beijar na boca, do amor, da paz sem limites mesmo com o empurra/empurra, os artistas que cantam/promovem o movimento da axé music estão também no centro da roda. E no quesito política a maioria sempre deixou a desejar.
Falo de política, no quesito mais amplo da palavra. Não a partidária, mas de voce enquanto cidadão ter POSICIONAMENTO. Cantor de axé na maioria das vezes sabe sorrir como ninguém, mandar a galera levantar as mãos e passar energia positiva, colocar microfone pro público e mandar cantar o refrão em uma só voz... Vai perguntar a ele sobre a situação da educação no país? Sobre a violência?... Às vezes nem sabem escrever direito, como foi o caso do cantor de pagode que escreveu loucuras sobre Daniela Mercury em rede social. Formador de opinião semi analfabeto que se considera príncipe. Assim o gueto tá lenhado!!!... Os artistas de axé vivem da alegria demasiada e o máximo que conseguem promover é a paz mundial, ou dizer “Um absurdo!”, “Não isso não pode”!, “Tá tudo lindo!”.
Inúmeros foram os cantores que cancelaram os seus eventos, shows e não deram UM pronunciamento sequer sobre a greve. Os que disseram algo acabaram mostrando o quanto são omissos e egoístas. Mais ou menos assim: “Meu ensaio hoje foi cancelado! A Bahia amanhece triste com tudo isso...” Como se o ensaio dele fosse a coisa mais importante da semana... Ou, “Faz um dia lindo nesta cidade encantada!” e o povo no facebook metendo o pau na estrela, dando o choque de realidade que ela merece e o alto do prédio em que mora não a deixa ver...
Cantor de axé tem argumentos quase sempre duvidosos. Já viram as duas estrelas que atualmente sobrevivem do fenômeno da “africanidade pop”? Ela dizendo que é africana, pois sabe descer até o chão e ele falando de África parecendo um hippie dos anos 70 sem pé nem cabeça... É esse o tipo de argumento que temos. É essa a política. Felizmente nem todos os cantores são assim. A música baiana não pode ser considerada somente como AXÉ!!! Tem outros sons... Caetano dá suas opiniões, geralmente consideradas bombásticas... Posso não concordar com muita coisa que ele diz, mas ele tem suas escolhas e fala sem medo. E é admirado e considerado polêmico por isso. Também, em um mundo de estrelas inertes, uma só que fala tem que ser considerada alguma coisa por alguém...
E me faço outras perguntas... Por que um movimento que apesar de ter nascido como fenômeno popular, mas hoje é exportado para burgueses ou super ricos em sua maioria brancos, vai se preocupar com a segurança de uma terra majoritariamente negra? Por que vão protestar para que a guarda nacional fique também no subúrbio? Por que eles vão se posicionar se este publico que mais sofre está do outro lado da corda no Carnaval? POR QUE?... Não é a parcela da população nitidamente rentável, então deixa ela pra lá...
Curioso como os cantores sabem falar de Deus, é Jesus pra lá, pra cá, quando não são cristãos, é boa energia pra lá, saudação em ioruba pra cá... Mas não sabem por os pés no chão. Com certeza, acham que a vida é um eterno palco e só por cima de muita terapia pra enxergarem que nem tudo é pacifico...
Acho a opinião do senhor Carlinhos Brown muito exigente com seus colegas de trabalho. Eles foram levados, pelo próprio fenômeno que ajudaram a construir, a não se posicionarem. “Não falo de política, falo de música!”. Orebas ricos que sabem cantar, pois o mundo de “Nárnia” de cima do trio é lindo e se voce cantar e virar as cotas pro que realmente acontece... Não verá uma só briga!...

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