quinta-feira, 24 de maio de 2012

Desde Que o Samba é Samba de Paulo Lins.


Infelizmente é inevitável não pensar em CIDADE DE DEUS quando se lê este DESDE QUE O SAMBA É SAMBA do renomado/concorrido/super cultuado Paulo Lins. Até o caminho da compra do livro, seu livro antigo que virou filme (um dos maiores sucessos de bilheteria nacional) faz questão de ser lembrado. Na prateleira da livraria olha Cidade de Deus pegando no seu pé das mais diferentes formas: edição antiga, edição de luxo pós sucesso do filme, edição de comemoração de tantos anos de lançamento com textos adicionais de fulano e beltrano...
Aí voce senta a bunda no sofá e começa a ler este novo livro de Paulo Lins. Um dos poucos escritores negros de sucesso aqui no Brasil. Meu objetivo na livraria nem era comprar um livro dele, mas algum livro falando sobre negritude que não fosse de tema sofrido. Se quisesse isso (JESUS!) tinha demais – curioso é o numero de escritores brancos que sabem ver um mundo sombrio dentro da negritude, mas isso é assunto para outra postagem... – mas um livro com personagem negro, protagonista, leve, nossa como é difícil conseguir...
Ate que me veio à cabeça Paulo Lins. E resolvi apostar. O livro dele estava ali, pedindo para ser comprado. Comprei! Acabei devorando ele em pouco mais de uma semana. Resultado? Um livro bom! Um protagnista marcante, humano (defeitos e qualidades que fazem ele se aproximar demais da gente...), um símbolo sexual feminino com certeza reconhecido daqui a muitos anos e mais uma vez fatos históricos maravilhosamente arquitetados junto à ficção.
Por que é um livro bom? Por que o livro começa de forma magistral, mas acaba de forma “qualquer coisa”. Qualquer coisa mesmo!!! Mas vale a leitura e uma boa leitura. O livro não é daqueles que te faz ficar ansioso pela próxima folha, ou adiar seu fechamento, já que te mantém grudado nele... Não. Este te seduz aos poucos, vai revelando o povo, as ruas do Rio de Janeiro, o samba tomando forma, o politicamente incorreto do mundo dos cafetões, a putaria das prostitutas que gostam do perigo, a putaria do povo politicamente correto que diz não fazer, mas não consegue viver sem uma boa sacanagem e a homossexualidade de alguns personagens (históricos ou não), tudo aos pedacinhos. Em um mundo que até a literatura atual mais se parece com textos de um blog curto, fazer escrever literatura que nãos e parece com roteiro de cinema é um desafio.
Desde Que o Samba é Samba fala sobre justamente o mundo do ritimo que transformou o Rio de Janeiro. O samba carioca e seu lugar e personagens de nascimento. Gente famosa e inventada, tudo junto e misturado. Vemos um Brasil, pós abolição, com mudanças históricas revolucionárias. É neste Brasil, mais precisamente no mundo das putas e cafetões, que o samba vai encontrar achego. Também o livro dá lugar merecido ao povo de santo (Ubanda e Candomblé), que em seus centros e terreiros este ritimo cresceu e viveu por muitos anos. Neste cenário Lins dá vida ao triângulo amoroso Brancura, Vladirene e Sodré.
Brancura é um protagonista marcante. Negro, alto, forte, terno muitas vezes impecável, politicamente incorreto, safado, puto, sem vergonha, trabalhador, humano, macho alfa, doido por uma confusão, desafiador dos fundamentos de Exu... Eis um personagem negro incrivelmente RICO! Em todos os sentidos. Só lendo para entender seu desenvolvimento, sua tentativa de sair do mundo da zona e suas justificativas quando descobre que aquele mundo é seu de verdade. Fora que Lins acabou escrevendo uma lenda!
Já Valdirene é um símbolo sexual de proporções gigantescas. Além disso, é uma mulher guerreira, força inigualável, safada como toda mulher puta tem que ser. Sua garra lembrou muito Rita Baiana de O Cortiço. Mas ela é ela rsrs! Escrita como uma mulher que consegue amarrar qualquer tipo de homem. Ela consegue fazer com que um personagem largue as surubas masculinas para ficar no aconchego de sua vagina! Isso é que é mulher! Outra personagem politicamente incorreta no texto de Lins.
O escritor Paulo Lins
O escritor Paulo Lins
Aliás, negros e brancos, putas e beatas, cafetões e funcionários públicos, sambistas e cantores burgueses, ninguém presta realmente neste enredo. O “não presta” significa descarado, que na primeira oportunidade da rasteira em ótario. Os únicos dentro da trama que tem algum respeito é o povo de Santo e olhe lá... Por falar neles, gostei da forma como Lins da voz aos Exus, caboclos, pomba giras  e deixam os Orixás “quietos” nesta trama. Eles fazem a comunicação direta com o humano, são eles que chegam e falam com as pessoas, dão conselhos e guarda a vida.
A homossexualidade está presente e é um capitulo a parte. O personagem Sodré, um descendente de portugueses, um idiota de quinta categoria, que tem um relacionamento pífio com a família, não quer saber de trabalho, vagabundo nato, é um caso a parte. Ele começa a tomar jeito de gente logo quando começa a... comer e dar o cu adoiado pro vizinho e fumar maconha!!!!! Acho que foi o mais louco desenvolvimento de personagem que vi na minha vida. Só neste aspecto da para ver que Desde que o Samba é Samba não é um livro qualquer...
E o vai e vem no tempo que Lins sabe fazer tão bem está aqui neste exemplar também.  Então espere por uma historia com inicio meio e fim bonitinhos, mas como outros inícios meios e fins pelo livro, tudo muito bem explicadinho e gostoso de ler. No final, Desde Que o Samba é Samba é um bom livro, nada de obra prima, pois no final o livro parece que foi apressado, tipo o editor botando pressão por conta do prazo no final de processo e por conta disso, o autor se meteu a escrever qualquer coisa. É uma visão de um leitor que esperava mais de uma trama tão gostosa de ler.

Um comentário:

Isto É Uma Banana disse...

Cara! Vou procurar esse livro, as vezes parece que todo livro ou filme brasileiro é sobre gente morrendo por conta do tráfico. É bom achar coisas novas