A história de Precious Jones não
é algo fácil de engolir. Nem em filme (aqui está a percepção que tive do filme em 2010), quanto mais em livro, que geralmente são
mais profundos em seus caminhos. Por isso comprei o livro e deixei na estante,
olhava pra ele, tomava coragem pra ler outra coisa e deixava-o lá quieto no meu
canto. Se o premiado filme de Lee Daniels já não era agradável de ser visto,
imagina a experiência em livro, em tom confessional, primeira pessoa?
Se voce achou Preciosa – o filme –
forte, chocante e a experiência de assisti-lo noa foi lá a mais agradável, então
passe longe do livro. Ele é curto, pouco mais de 150 páginas, mas incrivelmente
mais seco e muito mais abismal que o filme. Foi a primeira vez que li um livro
bem escrito e agradecer a Deus que ele fosse curto...
O livro, basicamente se divide em
duas partes: a primeira, evidenciada pelo filme, quando encontramos Preciosa
grávida pela segunda vez de seu próprio pai que a estupra. Sua mãe, é um
monstro que a violenta física, sexual e psicologicamente. Preciosa é negra,
obesa, tem 16 anos, mora em um bairro pobre, em uma casa desorganizada e suja,
sua primeira filha tem Síndrome de Down e o dinheiro da Previdência Social de sua
filha é roubado pela avó. Esse primeiro momento é podre, revoltante e
maravilhosamente bem escrito. Por sinal a escolha da autora Sapphire em
escrever o livro em linguagem “errada” – Preciosa escreve muitas vezes como se
fala, não respeitando as regras gramaticais, pois está aprendendo a ler – é um
dos pontos chave do livro. A história cresce e atinge um ponto crível
justamente por isso.
A segunda parte é quando Preciosa
tem contato com uma escola de ensino diferenciado, para pessoas na mesma ou parecida
situação social que a sua. Encontra lá a professora Rain (descrita de uma forma
completamente diferente da vista no filme) e começa seu caminho a redenção
consigo mesma. É justamente nesse segunda parte que o filme acaba e o livro tem
coragem de expor. Os conflitos da personagem principal e suas lembranças são levadas
a sério. Conflitos sociais, raciais, femininos, de beleza, amor, vida, filhos, futuro, aprendizagem, enfim, a dureza da vida vista por alguém que naquele momento deveria estar curtindo a irresponsabilidade da mesma. Não que o filme não exponha isso, mas a película dá muito mais ênfase ao
relacionamento entre mãe e filha que a personagem principal.
Destaco o valor da educação dado
no livro, de como o processo de aprendizagem faz com que a personagem encare a
vida de forma viva! Sem rodeios, com absoluta realidade, sem pisar na bola da “pedagogia
do herói”, daquele professor que faz milagre pelos seus alunos. Não, aqui é o estudante
que faz o seu próprio milagre, com ajuda do professor e também de seus outros
colegas de turma. Além disso, os vai e vens de Preciosa, seus sentimentos são descritos
de uma forma nunca vista por mim. As partes em que ela descreve o estupro, por
exemplo, são simplesmente impactantes. O estupro é algo errado, mas o que fazer
quando é seu pai que te proporciona um orgasmo, por exemplo? A única experiência
sexual dela foi com o pai, mas o biológico (órgãos sexuais tendo um contato com
o outro) mais a sensação que está em uma situação ruim provoca uma tempestade
de sentimentos insuportáveis, para
personagem e para quem lê...
No final das 150 páginas Preciosa
é um livro sensacional. Cru! Honesto! Violento. Mas ao mesmo tempo singelo,
simples, gracioso. E por mais pesada que a história seja, ao final do percurso,
acredite, virá um sorriso ao rosto de quem leu. Sorriso de alivio, por
finalmente ter chegado ao final de uma história tão difícil, mas também de um
livro bem escrito, que te faz dar valor a vida. Pois ela é curta, é difícil,
mas é valiosa. Preciosa!
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