domingo, 1 de novembro de 2009

Besouro (parte 1): Visões de um garoto no corpo de um homem...

Fiquei pensando enquanto saia da sala que exibia Besouro, relembrando as cenas de ação e as dos orixás protegendo o herói na minha cabeça, como seria a recepção de um filme desse quando eu era garoto. No cinema que estava vendo o filme a maioria esmagadora era de adultos, até porque a sessão era a noite, iria acabar tarde e “já era hora de criança ir dormir”. Sai do cinema ao som de aplausos (!!!) com caras de trinta e poucos anos vibrando parecendo moleques de doze. Só faltavam dizer que iriam comprar o boneco do personagem principal. Confesso que se tivesse a venda comprava de todos os personagens...

O filme é correto e pronto. Não trata-se de um filme magnífico, cumpre algumas promessas e foge de outras de fininho como quem não quer nada, mas mesmo assim é um bom filme. Mas o que BESOURO tem a oferecer acho é o que vem depois de assistir, é quando a tela para de projetar o filme e a historia ganha a força do boca a boca do povo, da imaginação dos meninos repetindo as cenas do filme, do herói que cresce na cabeça de cada espectador.

O filme do jeito que foi feito, com as frases de efeito, técnicas, roteiro passando determinado tipo de mensagem não poderia ser feito em outra época. Não poderia ver este tipo de filme na mesma época que, por exemplo, Jurassick Park. O Brasil não estava preparado, as pessoas não estavam preparadas para um filme onde os Orixás e os negros tem uma resolução tão bem acabada e respeitosa. Naquela época o movimento negro denunciava os abusos da mídia com os afro brasileiros, hoje seu poder já sai do discurso engajado da academia e chega até as ruas. De uma forma completamente diferente, muitas vezes modificada até para o melhor, mas hoje o brasileiro por conta de inúmeras iniciativas anti racistas tem uma outra perspectiva do processo brasileiro contra a desigualdade.

Mesmo assim ainda existem pessoas que não estão preparadas. Estavam lá as pessoas rindo pois achavam divertido as frases de um dos vilões do filme e se divertia a cada episodio que BESOURO pisava na bola. Acho que este numero de pessoas anos atrás poderia ser melhor. Hoje já não se manifestam tanto (nem todos tem coragem de explicitar seu pensamento, mesmo dentro de uma sala escura) ou construíram uma outra Idea sobre a cultura africana e afro brasileira.

Besouro não poderia ser feito anos atrás, seria muito avançado e até o cinema nacional não funcionava naquela época como funciona hoje. Era tudo invertido. Mudamos do avesso para o direito e hoje os molequinhos podem continuar as aventuras de Besouro e Dinorá quando o filme acabar...

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