segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Princesa Sapo: O sapo que vira Princesa ou a Princesa que vira sapo?

Fui ver a primeira princesa negra e a volta dos desenhos em 2D da Disney ansioso. O estúdio do ratinho mais famoso do mundo nunca foi de acertar muito quando o quesito é a diversidade. De todas as princesas e contos de fadas passados para a tela somente três, Pocahontas, Mulan e Jasmim eram de outra raça, o resto foram loiras de olhos verdes/azuis, indefesas na sua maioria e chatas!... A Disney lançava fotos dali, um fiapo de historia daqui para aumentar a expectativa do que estavam fazendo e o que iam entregar. Logo de cara duas gratas surpresas, no time que dublaria as personagens estavam Oprah Winfrey e Anika Noni Rose (de DreamGrils) e a direção de John Musker e Ron Clements (A Pequena Sereia, Alladin) me fez respirar aliviado. Mas o selo Disney ainda me incomodava...
Uma outro fator de incomodo era a historia. Princesa, que não era bem uma princesa, virava sapo após beijar outro sapo acreditando que seu beijo o transformaria em um príncipe... Que historia seria essa de uma princesa que viraria sapo? Ao contrario de outras princesas que tinham o poder de transformar sapos horrendos em belos homens a primeira princesa negra da Disney daria o beijo no sapo e ela era quem viraria sapo? Medo!!!!!!! Além disso, começaram a chover criticas da militância negra norte americana e também de alguns críticos de cinema antes mesmo do filme estrear... Estava apreensivo com o lançamento do filme e via cada noticia com uma forte expectativa. Até que vi o filme no cinema...
É claro que o produto, apesar de correto, leva a marca Disney e o desenho tem bastantes problemas. A história apresenta Tiana, moradora da cidade de Nova Orleans, menina que sonha ter um restaurante grandioso e trabalha feito uma condenada para realizar seu sonho. Ela só pensa no trabalho, tem dois empregos e quer realizar seus sonhos fazendo todo esforço possível. Do outro lado, está o príncipe Naveen (um porre!!!), um playboy de ultima categoria que perdeu a mesada dos pais e vem para os EUA tentar casar com um ricaça qualquer para que sua boa vida não cesse de vez. Em uma reviravolta que mistura vodu e seu criado ressentido, o príncipe vira sapo, encontra Tiana, pede a ela que o transforme em príncipe novamente e ela quando o beija... vira sapo.
E é este o fiapo de historia! Mas desenhos animados infantis nem sempre tem roteiros mirabolantes (principalmente os desenhos da Disney) que vão mudar sua vida ou vai fazer você pensar em algo mais sério. Retiro o que disse somente vendo filmes da Pixar, que espertamente foi comprada pela Disney que não é boba nem nada de ter em suas mãos o estúdio com colaboradores mais originais de todos os tempos. E o fiapo de historia de A Princesa Sapo é conduzido de forma bastante eficaz, o filme tem ritmo, canções boas e cores muito bem suadas em toda projeção. Mas A Princesa Sapo tem problemas... e nãos ao poucos...
O primeiro que o filme inventa de nunca tocar no assunto cor (!). Parece que Tiana não é negra, mesmo ela vivendo na década de 20, tendo contato com pessoas em um bairro francês, convivendo com pessoas brancas e ricas. Parece que racismo nessa época (pasmem!) não existe e a única coisa que a princesa enfrenta é o preconceito social e também o fato de ter sido transformada em um sapo fruto indireto de um feitiço vodu (!!). Outra coisa é o tratamento dado ao vilão um mestre vodu macabro e ao culto dos ancestrais (os ditos “amigos do outro lado” no filme) que são apresentados em uma musica divertida, coisa bem da Disney apresentar o vilão que mata, rouba, faz chorar mas com muito bom humor... Em contra partida, o desenho mostra uma típica fada madrinha também do vodu, que é absolutamente uma das melhores personagens (se não a melhor) do filme, mas a senhora que quebra qualquer feitiço inventa de cantar uma musica ao estilo gospel com direito a coro e tudo (!!!). E tem coisa pior que apresentar uma princesa negra, mas que nem parece que é, é apresentar uma princesa negra que se transforma em sapo durante muito tempo do filme, ou seja, ela nem aparece direito (!!!!).
E ai vem às perguntas? Para que alardear o mundo inteiro com a propaganda de uma princesa negra, se a princesa negra poderia ser interpretada por uma atriz branca que não faria diferença – ela e Helena seria intimas! Como escreveu certa vez Aguinaldo Silva em um lugar que não me lembro muito bem, não dá para escrever um personagem negro sem levar em consideração tudo que sua cor condiz à sociedade. Uma outra pergunta é por que a fada madrinha para ser considerada legal tem que evocar um coral gospel – uma canção até boa diga-se de passagem... Mas vodu e gospel combinam desde quando?
Por isso, a ultima vez que vi um desenho em 2D infantil que prestasse foi em... Hum... Aladim, no longínquo ano de 1993. Ainda prefiro a Pixar, com seus bichinhos engraçadinhos (Nada é melhor do que Procurando Nemo até hoje) que fazem sorrir, chorar, sonhar na medida certa. Ver Tiana na tela foi lindo, mas o feitiço vira sapo e não chega a se transformar em príncipe, por mais que o beijo seja poderoso!...

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