quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

SOLIDÃO.

Ligo para um amigo, já na rua, ele atende... Onde você está? Aqui no Porto da Barra rapaz, um restaurante aqui em frente à praia... Ele me diz o nome e logo depois pergunto. Onde você está? Não se preocupe, não vai ter trabalho de me achar, sou o único negro do restaurante. Estranho a resposta do meu amigo, desligo o telefone e sigo em frente. Quando chego ao tal restaurante, vejo que clientes e garçons são brancos. Me sinto estranho, não sei por que, mas continuo. Almoço com meu amigo e combinamos de ir ao cinema. O ônibus demora e daqui a alguns minutos a sessão do filme vai começar. Passa então o que aqui em Salvador chamamos de frescão – microônibus com ar condicionado que geralmente custa o dobro da passagem normal – entramos no veiculo e em um ônibus quase lotado somos os únicos negros, a maioria eram turistas...

Saímos do ônibus, em frente ao cinema, um artiplex charmoso no centro da cidade, na verdade um antigo cinema de 700 lugares com parte superior e inferior que foi totalmente transformado em 4 salas, uma livraria, cafeteria e restaurantes, pegamos a sessão a tempo. Quando entramos no cinema, ainda com suas luzes acesas somos eu, meu amigo e mais duas moças no centro da sala de negros. Cerro os olhos, estranho novamente, mas desvio minha atenção para o filme que começa. Saímos do cinema uma hora e meia depois. Ele diz que tem que passar em um shopping, mesmo longe resolvo acompanhá-lo... Depois das compras, na praça de alimentação, sentamos e vejo entre uma batata frita e outra que existe uma parte da praça em que o ar condicionado é bem mais forte que o resto do shopping e que a maioria das pessoas são... hum... digamos, não negras...

Fico pensado onde está a Salvador da mistura de raças, ou melhor, a Salvador que o IBGE me afirma ter 83% da população negra... Onde está?... Acredito que a população negra não somente trabalha, ela também se diverte, seja onde for. Tem direito de ir ao cinema (localizado no centro da cidade), ao shopping e comer, ao restaurante... Em nenhum lugar vi escrito “proibido a entrada de negros”... A cabeça martelava, mas sei que até em certos ensaios que antecipam o carnaval a presença de brancos é bem maior que a de negros...

Não é a primeira vez que noto isso. Varias vezes já constatei ser um único ou o participante de um conjunto de dez negros dentro de um estabelecimento de diversão qualquer aqui em Salvador. E nem todas as vezes fui fazer o programazinho de “linha burguesa”, mas também fui experimentar produtos da cultura negra e me senti de uma certa forma sozinho. Como da vez que fui ver o maravilhoso espetáculo AFRICAS do Bando de Teatro Olodum, ou mais recentemente quando fui ver a primeira princesa negra da Disney, Tiana... O publico ali era majoritariamente branco. A partir desta postagem deixo aqui muitas perguntas, são obvias então nem perder tempo expondo-as por aqui. Se acompanha este blog, sabe muito bem minha opinião sobre o que escrevi acima. Eu tenho minhas conclusões. Tire as suas...

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