domingo, 28 de fevereiro de 2010
Tyler Perry... Quando?...
sábado, 27 de fevereiro de 2010
O TEMPO, O NEGRO E OS FILMES DE SUPERAÇÃO...
Isso seria óbvio até. Uma das funções do cinema é nos passar lições, às vezes sermões, sobre determinadas dificuldades e como podemos superar tudo da melhor forma possível. E dentro de duas horas o cinema constrói a ilusão, convence você de que de alguma forma tem algo haver com aquilo – se identificando muita das vezes com os personagens da tela – resolve tudo em um piscar de olhos e o convence de que alguma forma pode fazer igual também. Além é claro de fazer você, depois de muito tempo acompanhando o sofrimento alheio, sorrir, sair do cinema coma cabeça fresca, fria, leve, tendo a certeza que tudo em fim acabou bem.
Um cinema Ph. D em fazer isso? O americano. Filmes de superação já deviam estar nas prateleiras das locadoras separados em gênero fílmico. Sessão de filmes dramáticos, de filmes de comedia e em algum lugar, talvez ao lado dos filmes de ação, os filmes de superação. Posso listar inúmeros. Uma lista interminável. Mas parece que com as crises (financeira e do terrorismo) que abalaram os EUA, os filmes deste porte vem ganhando uma atenção desmedida em Hollywood.
Estes filmes passam em pouco tempo um problema que pode (aparentemente) não ser solucionado de forma alguma, o sofrimento dos personagens para atenuar as situações e um final estupendo que faz tudo em questão de minutos ficar pronto e perfeito. Claro que um personagem principal cativante ajuda e muito ao público que às vezes realmente precisa de um ponta pé inicial, ou um filme de auto-ajuda.
Dentro deste “gênero” a maioria das produções do cinema negro está contida. Existe o racismo, grande vilão a ser combatido e o negro, visto como herói, guerreiro, lutador constante, que somente por ser negro, ou por acordar e não se deixar apagar pelo que a segregação te proporciona, tem que lutar e ser o bam bam bam da vez . Existem vários exemplos, a Celie de A Cor Púrpura, Sethe de A Bem Amada, o Mandela de Invictus, Effie de DreamGirls, o Biko de Um Grito de Liberdade, a menina que é fã de Nelson Mandela em Sarafina, o Chris Gardner
Mas qual espectador fica aliviado?... Que tipo de espectador fica aliviado com os caminhos escolhidos pelos roteiros de Um Grito de Liberdade ou Hairspray ou até mesmo o Invictus... Não vou falar da cor de determinado público agora, mas sim o espectador que quer manter-se de olhos bem fechados. Independente de sua cor, mas da forma como ele encara os problemas do mundo. Desta forma, para quem quer manter-se em decisões e debates ralos o tempo ilusório que o cinema propõe é mais do que o suficiente para tudo estar resolvido. O mesmo cinema que provoca, instiga, e abre a ferida, também fecha todos os martírios com chave de ouro.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
CARNAVAL 2010. Dê-me um ouvido seletivo agora!
Mas... Sempre ele não é mesmo?... Por mais que a gente se esforce e vá para a rua somente com sentido de se divertir certas coisas acontecem para deixar a língua e ouvidos de qualquer um (ou pelo menos dos mais atentos) coçando. Sempre tem um comentário chato, ou algo que você vê que não agrada aos olhos, tem vezes que você torce para ter ouvido seletivo, mas infelizmente não tem. Sim, neste carnaval ouve pérolas das mais distintas. Diverti-me claro e muito, mas como não sou idiota também reparei em muita coisa por trás da premissa de festa da diversidade como o Carnaval é vendido para turistas e baianos.
Tem coisas que de tão no lugar todo ano já se tornam clichês do carnaval soteropolitano. O racismo é uma delas, cordeiros quase que totalmente negros, se espremendo na corda e dando proteção (em alguns blocos) a uma maioria branca dentro da corda. Turistas de fora indo atrás da cultura do “nego do pau grande” e da “nega fogosa”. Tinha gente que não agüentava e gritava aos quatro cantos “Eu quero um negão! Só presta se for negão!”. Vi isso uma dezena de vezes. Tornou-se quase um movimento cotidiano, quase que invisível, como uma estatua que fica na praça, é presente, mas todos que passam não dão a mínima para ela. Gente branca chegando perto de pessoas negras e dizendo que o clima ali não estava mais legal, que ali só tinha ladrão, que tudo estava pesado e que queriam ir embora. Chega a ser louco o medo que a população branca tem da negra, que expelem seu racismo de uma forma tão aberta sem nem reparar quem transformam em vilão.
Também tem a máxima: “É bom ter carnaval em Cajazeiras. (subúrbio de Salvador) Gosto da idéia. É bom que mantém aquele povo lá longe. Não vem pra cá. Aqui fica mais tranqüilo”. O “aqui” seria a Barra, local onde se concentram a população mais abastada da cidade e onde tem mais turista também. O objetivo da prefeitura foi reparado por aquele que vai usufruir daquilo que ela tanto quer mostrar. A prefeitura afasta o povo “baixo astral” e os cidadãos de bem agradecem... Dentro desse patamar racista, o Carnaval de Salvador também abre janelas para outros conceitos bem formulados: homofobia, sexismo, preconceito de classe, preconceito contra pessoas com deficiência física etc etc etc...
Sim, eu me diverti e muito. Dancei do axé mais louco á marchinha de carnaval mais antiga. Mas não vou ficar imune as coisas que ouço ou fechar os olhos as coisas que o mundo insiste em me mostrar. Carnaval é dançante, mas como todo mundo ta na folia, meio alto na maioria das vezes, tudo se torna mais explicito.
Mas ás vezes... Somente as vezes... E o carnaval é uma ótima época pra isso... As pessoas esquecem suas diferenças e toleram certos tipos de comportamento que são proibidos depois da quarta feira de cinzas. Quer um exemplo? Nunca vi tantos homossexuais se beijando na rua, realmente aumentou o nº de casais gays que se beijavam livremente independente do bloco ou de onde estavam. Um estudo mais detalhado sobre isso, pra quem se interessar, procure os trabalhos do brasilianista James Green. Homem com homem e mulher com mulher não viram jacaré no carnaval, mas vai fazer isso em uma praça de alimentação de um shopping depois pra ver se acham bonito, vai!...
A beleza da mulher baiana é ressaltada a toda hora. E as mulheres dos blocos afros são cobiçadas como pepitas de ouro. Lindas, maquiadas, negras, com adornos na cabeça, um orgulho de ser mulher... Chove homem ressentido doido para pegar as deusas do ébano, usá-las como objeto sexual e status e depois largá-las sem que nem pra que... A garota que “tem cara de empregada doméstica” é cobiçada de uma forma incrível. Até por que na maioria das músicas ela é descrita como um tesouro. E ai o turista quer saber que tempero é esse que inspira tantos artistas...
Fui para me divertir e acabei encontrando mais do mesmo. Sabe aqueles velhos clichês, os velhos dizeres das cartilhas preconceituosas de todos os anos, os policias batendo na população suspeita – dou um doce pra quem adivinhar a cor dessa gente – é sempre a mesma coisa. Gente se divertindo e voltando em buzu amarrotado, taxista que se recusam a fazer corrida rápida, policia violenta alegando proteger a população, cantor em cima do trio dizendo que o Carnaval é lindo e que não viu uma briga (!!! Ligue não, artistas geralmente são cegos!), turista sedento por carne negra, muita festa, camarotes cada vez mais altos, muita festa, muita alegria, trios revisitando clássicos do axé...
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
PRECIOSA.
Preciosa não é um filme qualquer. Não tem como você sair imune deste filme. Sabe aquele filme que te pega e te vira pelo avesso? Aquele que te dá um golpe certeiro na garganta e te deixa quieto, pensativo, triste, mas ao mesmo tempo esperançoso? A ultima que me senti assim foi em Distrito 9 (que como Preciosa também concorre ao Oscar de Melhor Filme este ano) e o documentário Olhos Azuis. Preciosa também me fez chorar (de tristeza mesmo! Além de fazer chorar quem estava do meu lado no cinema), me fez ficar congelado de tensão, mas o mais importante, por mais que o filme exprima dor ele nunca faz você ficar em revolta ao ponto de estar desinteressado por ele. Preciosa cativa.
O filme dirigido por Lee Daniels – primeiro cineasta negro a ter um filme seu concorrendo ao Oscar, além de também concorrer na categoria de direção – conta a historia de Preciosa, uma garota negra, obesa, pobre, analfabeta, que sofre de violência domestica pela mãe, tem 16 anos e está já na sua segunda gravidez, sendo que a primeira filha tem síndrome de down e vive de planos de assistência do governo, isso tudo em 1987 nos EUA. Preciosa é tímida ao extremo, completamente um burro de carga dentro de casa, sendo obrigada a comer compulsivamente comidas nada agradáveis pela mãe, é humilhada em todo canto que chega. Uma outra característica que chama atenção é o fato dela olhar sempre pro chão, nunca para frente de cabeça erguida evidenciando o grau de submissão perante a sociedade. Preciosa não enfrenta as circunstâncias, não tem forças para isso, muito pelo contrario, ela se entrega totalmente e torna-se um protótipo de solidão, amargura e estima baixa. Para escapar da vida horrível que leva Preciosa sonha com um mundo da fama cheio de acontecimentos e com um namorado de pele clara. E sim, existem outros problemas que Preciosa vai enfrentar que não me atento contar aqui...
Mas não se engane, Preciosa não é do tipo de filme de um personagem “Zé ninguém” que consegue dentro de duas horas se safar de todos os problemas existentes e dar uma lição ao publico de que tudo de ruim pode ser superado. Preciosa encanta justamente por trazer o contrario. O que ela ensina a nós publico é uma outra lição, não vou entregar o filme – você vai ter o prazer de ver essa maravilhosa produção – mas como já diz o cartaz, “A mais longa jornada começa com o primeiro passo.”.
Produzido pelos dois Midas norte americanos, Oprah Winfrey e Tyler Perry, que dispensam apresentações, o filme está concorrendo a seis Oscar, filme, direção, atriz, atriz coadjuvante, roteiro adaptado e edição, todas as indicações são merecidas. O de filme Preciosa não leva infelizmente, pois tem candidato mais forte/mais cara da academia este ano concorrendo junto com ela, além que tem Avatar que não deveria ganhar, mas pode dar o ar de sua graça com o premio principal. Apesar do belo trabalho, Lee Daniels pode não ganhar para o ótimo trabalho de Quentin Tarantino com Bastardos Inglórios. A estreante Gabourey Sidibe apesar de interpretação avassaladora pode não ganhar para o furacão papa premio Sandra Bullock com Um Sonho Impossível. Já com o premio de Atriz Coadjuvante a comediante Monique pode levar o Oscar, sua intepretacao é muito bem feita, tem só
Mas independente dos prêmios que ganhar ou não, e olha que já ganhou uma infinidade, Preciosa vale muito a pena pelas lições que projeta no espectador. Não é um filme de lições de moral, mas para cada pessoa vai inserir um sentido diferente. Mesmo que você seja completamente diferente da protagonista. O filme vale muito a pena, é bonito, não cai no melodrama fácil, não é em nenhuma parte um filme didático, é seco, difícil de engolir, mas mesmo assim é a experiência cinematográfica mais feliz que tive
Show de Beyonce em Salvador...
OK, Ok. Demorei de postar algo sobre o show de Beyonce. Demorei, mas a postagem está aqui. Foram cinco horas na fila, mais três horas e meia esperando o show principal começar, some também cinqüenta mil (!!!!!!) pessoas no parque de exposições separados em pista vip, pista normal e dois camarotes. Existem outros números é claro, ingressos vendidos exorbitantemente a preços que variavam entre R$ 60 (primeiro lote) e R$ 370 reais, água mineral (no local do show, copo aberto com 400 ml) a R$ 4,00, camisas feitas com tecidos fubengas pela “bagatela” de R$ 20,00, entre outros absurdos... Mas no final das contas tenho a certeza que quem foi (independente de onde estivesse no Parque de Exposições) não se arrependeu e adorou o show da diva e inesquecível cantora Beyonce.
Aqui em SSA foi o ultimo show da turnê I AM... Tour! no Brasil. e depois de tanta espera, do show ter passado por três capitais, sendo que no Rio de Janeiro foram duas apresentações, a vontade de ver a mulher do ano eleita pela Billboard norte americana só aumentava. Mas o dia chegou e sem exageros nunca vi nada como o show de Beyonce. A produção, a banda, os dançarinos, os fãs, o som, aquele telão gigante reproduzindo imagens gravadas e ao vivo. Impressionante! Tudo no show da cantora é grandioso, e a diva que nos CDs faz musicas esplendidas, ao vivo torna-se quase como uma deusa. Canta muito, dança de forma fenomenal, é simpática (algo necessário atualmente para sobreviver no concorrido mercado da música atual. Nada de chiliques, ok?) e dá para ver que adora o que faz e não é mais uma diva fabricada.
O show começou atrasado, depois da pontual abertura de Ivete Sangalo, meia hora. O que no meio de uma platéia de mais de 5000 pessoas, números da pista vip, não era nada confortável esperar. Mas depois de tanto aperto o show começa de forma brilhante, abrem-se as cortinas e a silhueta da cantora aparece em meio a som de passos a lá Michael Jackson (que vai ser referencia mais três vezes durante o show), ela canta a introdução de Deja Vu, musica de seu segundo cd, e logo depois engata o seu primeiro sucesso solo Crazy In Love, no meio da música um pedaço de Work It Out – também do primeiro cd - com direito a saxofones enfurecidos. Chega a superar a introdução do Show Experience, não sei se por conta que dessa vez vi ao vivo ou por que é realmente melhor...
Depois da esplêndida introdução, Beyonce destila sucessos como Naughty Girl, Freakum Dress e Get Me Bodie não deixando a platéia tomar fôlego e entregando tudo de uma vez só, sem perdão. A banda nessa hora se destaca com grande competência e também as Suga Mamas, trio de backs com potente voz. Também tem destaque o telão disposto atrás da banda, lindo, exibindo imagens com alta resolução. Simplesmente impressionante.
Logo depois vem a parte mais calma do show, Beyonce canta as baladas Smash Into You (iumpressionante!!!), Ave Maria (a troca de roupa feita no palco é fantástica), Broken-Hearted Girl, além de If I Were A Boy que no show assim como Freakum Dress ganha uma batida rock bem pesada. Além disso, Alanis é citada durante a música com You Oughta Know.
Para introduzir seu terceiro ato, Beyonce canta Baby Boy próximo dos fãs e chega a um palco no meio da pista vip. É lá que sua carreira como Destiny Child vai ser relembrada. Muito do álbum Survivor – que dizem as más línguas é na verdade o primeiro álbum de Beyonce solo com apoio de suas backs Michelle e Kelie – é revisto e também do segundo cd do grupo. É nesta hora também que acontece uma das partes mais aguardadas pelos fãs de Salvador.
Depois Beyonce retorna ao palco principal e destila mais sucessos desta vez do terceiro cd em um quarto ato maravilhoso que culmina na musica mais esperada ao vivo naquele dia, Single Ladies o incrível sucesso com coreografia copiada em várias partes do mundo. Experimente colocar o nome da musica no you tube, tem material para você ver durante uma semana ou mais e algumas coisas são realmente boas. Todo este sucesso foi sentido pela produção e pela cantora que resolveram repercutir isto no show com uma introdução/vídeo com varias pessoas dançando e cantando Single Ladies pelo mundo a fora. É a parte mais criativa do show e divertida também. Com direito a Obama dançando o já famoso “oh oh oh”. Depois da introdução vêm os primeiros acordes da musica a explosão da canção com sua coreografia famosa. Sim, aquele agachamento é real!!!!...
Um pouco depois do “final” Beyonce canta “Halo” em homenagem a Michael Jackson, lindo exibido no telão em pose estilosa e antológica. Despede-se dos fãs cantando parabéns pra você – ela queria alguém que fizesse aniversario naquele dia, mas todo mundo dizia que estava fazendo aniversario. A cantora riu com a loucura dos fãs, mas acaba cantando a musica mesmo assim.
Foi um show muito bom. Tecnicamente potente, perfeito, a banda formada só por componentes femininas é maravilhosa, as Mamas são um encanto, os dançarinos e dançarinas TODOS são lindos e dançam muito. Ok, mesmo para padrões soteropolitanos o ingresso custou caro, os produtos vendidos dentro do espaço do show eram ruins, o atendimento horrível, a organização bem precária, mas a qualidade do show valeu cada centavo. Realmente um momento que faço questão de lembrar sempre. Sou admirador do trabalho desta maravilhosa cantora. Inesquecível!
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
SEGUINDO EM FRENTE...
CABARÉ DA RAÇA.
Das três vezes que assisti Cabaré da Raça nunca me senti satisfeito com tudo que vi no palco. O que sentia era que faltava alguma coisa... O espetáculo do Bando de Teatro Olodum que já tem mais de dez anos, encenado em várias partes do mundo, é uma revista musical que foi feita inteiramente para provocar. Independente como isto chegue ao público o primeiro objetivo do espetáculo é a provocação. Isso fica nítido nas interrogações propostas a platéia pelos atores. E as perguntas/provocações não são poucas, já que Cabaré da Raça fala sobre racismo no Brasil, abordando muitos dos subtextos que este tema pode abrir como, presença do negro na mídia, identidade racial, religião, abolição da escravatura – 13 de maio, cotas nas universidades, mito do negro como objeto sexual e situações de discriminação no dia-a-dia, entre outros. Tudo com muita música, muito bom humor e muita (muita!) provocação.
E das três vezes que vi este Cabaré presenciei espetáculos completamente diferentes. Desde o figurino que mudava a cada temporada (vi um com todos os atores com roupas que caracterizavam seus personagens, outra com todos vestidos de branco – o melhor até hoje – e um vermelho não muito bom), até atualizações no roteiro e na forma como abordavam a platéia. Também as músicas mudavam vez por outra, uma coisa que via de uma forma em um ano, no outro estava bem diferente. Cabaré tem este ponto a favor, como trata de um assunto que se reesignifica como o racismo, existem possibilidades do espetáculo também se transformar. O espetáculo mistura canto, dança, interação com a platéia e tudo mais que o caldeirão do Bando de Teatro Olodum quiser misturar.
Mas o que me incomodou tanto das três vezes que vi Cabaré da Raça? O texto! O texto para mim é um problema. Não que seja ruim, mas nunca me contemplou. O texto do espetáculo – uma parceria entre Marcio Meireles e o próprio Bando – oferece lacunas demais, existem buracos enormes. Neste ponto o texto deveria ter mais foco, não oferecer tantas perguntas e sim respostas. Cabaré provoca, mas ao mesmo tempo não informa em muitas das suas passagens. Deixa coisas como o mito do negro como objeto sexual ao desleixo, sem desenvolver um assunto que gera prostituição em zonas, por exemplo, como o Pelourinho, entre outros lugares.
O texto muda, ele não se mantém estático no tempo. O Bando sabe muito bem que o racismo e a luta contra ele se transforma e fala por exemplo de cotas nas universidades. Mas a abordagem é rasa, as perguntas são muitas e no final a provocação sem conteúdo fica no lugar da informação que aguça. Outro ponto são os brancos da platéia – que vão em massa ver o espetáculo (ainda bem!) – eles saem do teatro satisfeitos. O texto fala sobre racismo, mas não atinge seu inventor e principal beneficiado, o branco. Não digo que os atores deveriam ofender e fazer um complô contra o publico branco que está na platéia, mas este mesmo publico se diverte, ri e parece nunca se incomodar com a forma que o assunto é tratado. Existe uma parte que sempre me marcou, uma das ultimas passagens de Cabaré da Raça em que os atores recitam frases que degradam o negro que são clássicas como “Negro quando não caga na entrada caga na saída”. Das três vezes reparei que a platéia se divide em aqueles que riem – na sua grande maioria brancos – e aqueles que se calam e se revoltam , na maioria negros.
Os personagens também beiram ao caricato quando não se entregam de vez a ele. Principalmente o personagem homossexual, que mais parece um hetero imitando um gay bastante efeminado, o clássico personagem gay pintoso que o teatro homofóbico consegue enxergar e adorar. É curiosamente um dos personagens que mais tem falas que informam sobre racismo, mas a seriedade daquilo que fala é cortado pelo tom com que este personagem chega a platéia. É uma alegoria, um palhaço de luxo. Surge a pergunta: Quando o teatro baiano vai aprender a fazer personagens homossexuais que não sejam meros imbecis para heterossexuais rirem?...
No final fica a sensação de vazio. E também de esperança. De que informem sobre racismo e não só provoquem. Cabaré da Raça é divertido, é alegre, tem musicas lindas, tem questionamentos muito válidos, mas a sensação de vazio mesmo depois da terceira vez continua no peito. Fica faltando alguma coisa, fica parecendo àquela conversa de bar que não se completa, não atinge um sentido. E o racismo tem sentido e objetivo muito vivos.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
INVICTUS.
Clint Eastwood nunca foi para mim exatamente um grande diretor. A critica se derrete a cada filme que ele lança, são elogios e mais elogios, junto a todo reconhecimento dos especialistas em cinema vem os prêmios e mais prêmios conquistados em anos de carreira. Dos que vi, e não foram muitos, os filmes dele que me tocaram foram o “antigo” As Pontes de Madison que vi muito mais por conta de Meryl Streep que por ele e este Invictus.
É um filme simples, como tudo na carreira de Clint. Trata-se de um filme contido que vai crescendo dentro de você. Portanto não espere por grades planos, uma reviravolta contagiante, pois não existe esse tipo de coisa aqui. As vezes o filme se aproxima muito de filmes feitos para televisão de tão simples que é. Sim, Mandela merecia um filme maior, mas este, considerando a cinebiografia do ativista, já esta com um tamanho bom. Não é um filme surpreendente, mas se mantém correto do início ate o final sem muitos alardes.
A primeira coisa que gostei do filme é não falar da vida de Mandela desde o inicio. Eu realmente odeio filme de origem. E afinal de contas Mandela não precisava disso, já que todo mundo sabe de alguma forma o que aconteceu com ele, que ele ficou na prisão durante anos, isso pelo cinema já foi explorado. O filme pega outra porção do grande líder Mandiba, explora a situação depois da sua posse como presidente da África do Sul onde negros estavam com sede de vingança e os brancos receosos... Como um homem poderia governar com uma bomba relógio na cabeça prestes a explodir. Isso sim é um bom mote para o filme.
E é através do rugby – símbolo da política racista segregacionista da África do Sul – que Mandela vai tentar unir o país em uma democracia. O filme vai se concentrar em torno desta passagem, do esforço que ele faz em convencer a população tanto negra quanto branca que precisam estar juntos em uma nova situação
O filme tem muito a seu favor no carisma de Mandela encarnado maravilhosamente por Morgan Freeman, também foi o próprio Mandela que incentivou durante anos que o ator fizesse seu papel no cinema. Está perfeito e digno de prêmios e muitos aplausos. Além disso, o elenco coadjuvante esta perfeito. Sem tirar nem por. Na proposta do filme esta maravilhosos. O filme também resolve discutir, e isso é um fator esplêndido, o clima tenso com bom humor, principalmente o de Mandela que encarna todas as dificuldades de forma bastante positiva.
Claro, o filme tem seus problemas. O regime do Apartheid nunca foi simples, as relações entre negros e brancos apesar da lei de segregação não estar mais em vigor continuaram existindo no país, por mais que o filme queira convencer o espectador a esquecer simplesmente. Outra coisa é que o filme muitas vezes é piegas: Mandela saiu da prisão onde passou mais de 30 anos pronto para governar e perdoou aqueles que o colocaram lá. Ele perdoou, mas a população não. E por mais que o filme no final incentive a paz e o sucesso da política do “paz e amor” sabemos que o jogo de rugby só serviu para amenizar as coisas. Era esse o real objetivo de Mandela no começo, amenizar o conflito e ter brancos e negros quietos para que ele pudesse governar
Um outro ponto que me chamou atenção foi que o diretor e roteirista dão pequenas pinceladas, mas não exploram a vida pessoal de Mandela. Que depois de 30 anos de exílio e de sua família ter se desequilibrado totalmente e seus filhos não sabem direito que é o pai verdadeiramente, pois só tem a visão do herói que levantou o país. Isto daria um ótimo filme e que infelizmente é uma realidade de outros líderes ativistas. Alguns esquecem e são obrigados a deixar de lado a ida pessoal por conta da militância. Dramático? Não sei. As vezes pode ter sido uma fuga, sei la. O documentário A Caminhada de Nelson Mandela mostra que a vida do grande presidente da África do Sul nunca foi um mar de rosas...
O filme está concorrendo a dois Oscar. Morgan por ator e Matt Damon por ator coadjuvante. Enquanto o primeiro só sofre com a concorrência de George Clonney que esta ótimo