Como a música apareceu na sua vida?
Na minha primeira eucaristia aos 10 anos de idade. Eu solei uma parte de uma das músicas da cerimônia, as pessoas levantaram pra me aplaudir e aquilo me marcou, me emocionou muito. De lá pra cá não parei mais.
Meu timbre sempre foi uma mistura do forte e melódico, isso fez com que eu me interessasse em ouvir pessoas que cantassem parecido comigo pra que eu pudesse ir comparando e vendo onde eu podia melhorar. Minha referência até a adolescência era apenas o gospel e com o tempo fui descobrindo que a música feita por pretos, principalmente os norte americanos, me fazia alcançar níveis mais altos de inspiração para interpretação. Passei a ouvir de tudo que se referia a música negra norte - americana (soul, jazz, blues, funk norte americano, R & B, etc). Depois de um tempo estendi ao que era feito em outras partes como reggae e o samba brasileiro e nisso fui tendo noção do que eu era capaz de fazer. Essa mistura fez com que eu me abrisse para outros estilos (de igual modo feito por negros) e hoje ouço desde as primeiras que citei até o samba – reggae e o afro pop (estilo batizado recentemente pela grande Margareth Menezes).
Sim, adoro o Brian. Tenho a discografia completa! (risos).
Eu sou Baba Alagbè (título dado no terreiro em que sou iniciado a quem é o principal responsável em cantar e dirigir os demais Alagbés na entoação das cantigas nas festas, ritos e cerimônias) e em 2008 surgiu a necessidade de se estender o xirê especial ao Orixá Iroko. Minha Yalorixá então pediu que eu reunisse os outros ogãs e ekedjis para que ficasse uma “coisa de peso” (palavras de Mãe Olga - risos). Como já fui diretor musical de alguns projetos não foi difícil encontrar algumas coisas boas vindas de Nigéria, Cuba e principalmente de nossa tradição Yorubá. Me reuní com o pessoal e cara, ficou muito bom! No dia da festa só via a turma elogiar o trabalho.
Essa vontade de construir um coral afro foi influenciada na sua entrada no candomblé, já que é uma religião que lida com uma forma de musicalidade diferente e também uma cultura díspar da dita como oficial.
Não. Pra mim a música em si tem uma força tão grande que transcende qualquer cultura ou religião. Ela tem vida própria entende? Eu já tinha essa opinião e só se confirmou.
Nos apresentamos poucas vezes fora das casas de axé. Mas quando nos apresentamos conquistamos e os integrantes foram entrevistados (risos). É tudo muito novo, ainda não temos a estrutura necessária para uma “explosão”, mas estamos trabalhando pra isso.
Temos grandes artistas, isso é fato. Mas a música, assim como as demais vertentes da arte que é feita no interior ainda é muito desvalorizada e excluída. Pra você ter uma idéia, a maioria dos artistas de Alagoinhas e Região que são reconhecidos de alguma forma hoje, primeiro tiveram que mostrar seu trabalho em Salvador e em outros estados. E não é porque a turma não tem qualidade, porque tem. É porque os contatos que podem notar essa qualidade e proporcionar uma ascensão está na capital. Acho que o poder público deveria ajudar nesse processo, proporcionando um alcance maior de seus editais ao interior, tanto na divulgação eficaz quanto na “fatia do bolo”.
Eu estou tentando lembrar de um único artista negro brasileiro que seja uma celebridade com a mesma popularidade das artistas brancas que você citou agora e não estou conseguindo. Tem o Carlinhos Brown que arrasta multidões na Bahia, o Djavan que lota casas de espetáculo famosas e outros artistas que podem ser considerados monstros sagrados da arte brasileira, mas pra lotar um estádio de futebol como o Maracanã, deixa eu ver... não, não estou conseguindo lembrar. Mas, talvez seja só coincidência.
Vedada e cínica! Outro dia me disseram mais uma vez que o racismo está na cabeça de nós negros, que racismo não existe. O racismo é real, o pré-conceito pela cor da pele existe e está no meio da arte também. Meu povo sofre na pele a intolerância por integrar uma religião de negros, que desde a chegada dos nossos antepassados aqui no Brasil sofre uma tentativa de sufocamento quando “demonizam” tudo que nos pertence. Li um comentário sobre uma famosa cantora brasileira outro dia quando diziam pejorativamente: “aquela macumbeira até que canta bem”.
Você se envolveu no moimento negro, participou do CEN, fundou junto com outros amigos o JUNA também trabalha na Prefeitura de Alagoinhas. A política e a arte negra sempre andaram juntas ou são coisas que precisam andar separadas para se desenvolverem?
Eu ainda sou filiado ao Coletivo de Entidades Negras, mas não me chamam pra fazer muitas coisas por lá (risos). Adoro o pessoal e acho que é um dos movimentos com maior representatividade no que concerne a militância negra. A JUNA foi uma tentativa de fazer com que jovens das comunidades periféricas de Alagoinhas e Região tivessem melhores oportunidades. Eu saí da liderança 2008 e não ouço mais falar neles enquanto grupo, mas individualmente tenho uma boa relação com todos e sim, sou um servidor municipal e músico (nunca deixo de mencionar).
Como ultima pergunta: Qual a sua visão de musicalidade negra atual e como enxerga essa vertente musical daqui a alguns anos?
Um comentário:
Eu adoro cantar ,sou branco ,mais amo a música negra ,amo mesmo é verdade ,meus amigos dizem ''Vc tras a raça negra na alma '' .Vou tantar cantar mais ,me soltar ,os orixás me ajudam a me soltar ,sou Sopranista
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