domingo, 25 de abril de 2010

O Humor Negro.

O homem é o único animal que ri com consciência do que está rindo. É através do humor que podemos compreender, por exemplo, os costumes das sociedades, seus preconceitos, sua cultura, como ela encara os acontecimentos que permeiam sua existência, pois o humor é um termômetro do ser humano. O que ele pensa, realmente, pode ser descoberto através da estrada do riso. Pois quando ele rir, de alguma forma concorda/aprova o que está sendo dito.
Como o humor é um termômetro das sociedades e as sociedades mudam conforme o tempo passa, o que faz determinado povo rir em uma época pode chocar e não ser motivo de riso em outra. Ou determinados assuntos que nunca iriam ser discutidos passam a estar em voga por conta do riso. O humor acompanha as tendências das sociedades e modifica-se conforme ela se transforma.
Nesse nosso mundo globalizado, que briga entre o universalismo de plantão e a diferenciação urgente, o riso é um espelho às vezes provando que as sociedades mudaram, mas que também seus velhos costumes continuam passeando pelas esquinas e sorrateiramente, através de uma gargalhada, o podre de determinada pessoa pode ser descoberto.
Então... O que faz você rir? O que te leva a soltar uma boa e sonora gargalhada? Considero o humor, algo muito complexo de ser analisado, por que pra mim ele envolve vontade humanas sorrateiras, que nos esforçamos a esconder no nosso dia a dia. Independente do tipo de humor que o espectador esteja vendo (clown, sátira, de costumes, pastelão, stand up...) o riso coloca pra fora de forma explosiva àquilo que você quer abafar, aquilo que você acha que pode ser avacalhado, que pode estar em um grau de submissão a ponto de ser motivo de chacota. Não é a toa que um dos pressupostos do humor é a superioridade. Para rir de determinada situação ou indivíduo, você precisa estar em um ponto de auto-suficiência ou até mesmo dominação perante o outro que é motivo da risada. O riso é a glória daqueles que se sentem maiores, em um grau elevado, pois o humor transcende as regras morais da sociedade, traz uma sensação de alívio para o ser humano através da quebra de paradigmas, ele escancara a verdadeira vontade do ser humano.
E em uma sociedade hipócrita como o Brasil, o humor às vezes é visto como algo perigoso, apesar de ser evidenciado muitas vezes como alivio brasileiro das dificuldades cotidianas. Quantas vezes você já não ouviu que o brasileiro através do riso se solta, usa a comédia para escapar dos problemas?... Mas você já reparou o que faz o brasileiro rir?... O que ele traz de mais escondido que faz soltar gargalhadas involuntárias? Muita coisa. Assuntos que se tornaram motivo de chacota universal como política, televisão sexo e outros que também acontecem em toda parte do mundo, mas que em cada território encontram especificações. E no Brasil, com um jeitinho próprio, o humor também vai tocar em um ponto que a sociedade brasileira insiste em esconder, o racismo.
Não é novidade ligar a televisão e curtir no conforto do sofá qualquer programa humorístico destilando veneno a partir da negritude. O (há muito tempo sem graça e ultrapassado) Casseta e Planeta Urgente faz isso desde o começo lá nos anos 90. Mas a televisão nos últimos anos acabou se modificando e a forma de fazer humor também. Hoje temos programas como Furo MTV, CQC, Pânico na TV, Os Caras de Pau, que se esforçam para rançar do espectador risos, gargalhadas. Mas repare que é um humor tipicamente branco. Branco na sua composição e branco na sua representação. São, em sua maioria humoristas brancos no palco compondo piadas que na maioria das vezes somente os brancos se divertem e por conta de toda a construção do racismo no Brasil fazem também os negros rirem sem sentir que estão sendo degradados.
E ai todo mundo põem-se a rir do cabelo black da negona, do pau enorme do negão que tem um tição gigantesco, da empregada negra desbocada, da travesti negra que só pensa em fazer baixaria e por ai vai... Claro que a branquitude também tem seus “pontos fracos”, o caso da “loira burra” está ai há anos e parece invicto, mesmo com todas as loiras fazendo campanha para que este tipo de humor acabe (Elas sofrem tanto com isso gente!!! Oh que peninha...). Ocorre também o tipo clássico de humor brasileiro (importado nos EUA segregacionista aberto dos anos 50) o ator branco vestido/pintado de negro e fazendo muita besteira e malandro como ele só... A todo o momento os humoristas (brancos) brasileiros (da velha geração e da nova) recorrem a este tipo de artifício para fazer rir... O que seria do humor tupiniquim se não fosse pelo racismo, não é mesmo?!!! Olha que honra...
Mas também temos outro lado. O humor negro! Humor feito com humoristas negros. Gente como Chris Rock, Monique, Whoopi Goldberg, Martin Laurence, dentre outros que fazem as platéias (americanas) rirem das situações do dia a dia a décadas. Por conta do you tube esses humoristas podem ser encontrados legendados fazendo suas peripécias nos palcos. Coloca o nome deles e aproveite muito, esses artistas falando sobre racismo, relações entre gente branca e gente negra, Obama, cultura negra, musica negra... Às vezes de uma forma politicamente incorreta, mas extremamente divertida. E se você for negro vai rir mais ainda... A questão racial no EUA é levada a sério e é discutida de uma forma muito aberta. Aqui no Brasil muito dos shows seriam considerados absurdos. E repare em como o humor é diferente a partir do lugar de que se fala. Ou seja, humoristas negros falando sobre racismo têm piadas diferentes que humoristas brancos falando sobre o mesmo assunto, fazem rir de uma forma diferente, a platéia branca reage de uma forma diferente da platéia negra. Isso é perceptível quando são mostradas as platéias.
E aqui no Brasil? Hum... Existem humoristas negros... O Zorra Total está cheio deles, para o bem ou para o mal... Às vezes nem trabalham essencialmente com comedia como fazem alguns comediantes... Mas estão lá... Mussum é um exemplo da velha guarda... Existem outros que se destacaram é verdade, mas chama atenção no cenário do stand up brasileiro o ator Robson Nunes (que fez Carandiru, Domésticas, Boleiros e a novela Malhação) que logo quando chega ao palco se apresenta: "O pessoal me convidou pra vir aqui hoje porque acharam que estava faltando humor negro". O ator brinca com a questão da raça. Outro que consegue fazer um humor muito bom é o ator Luiz Miranda. Quem teve a oportunidade de ver seus personagens sabe que com muita propriedade ele desconstrói mitos e assuntos muitas vezes silenciados e transforma isso em humor de primeira qualidade. Isso sem ofender a platéia branca que também ri... Às vezes, já que o humor não é feito para eles...
Curioso é presenciar shows desses humoristas que sempre fazem do riso uma válvula de escape para suas opiniões racistas. E se o negro ou negra se ofender com tudo que esta ouvindo vem as máximas: “Vocês não sabem levar as coisas na esportiva!” ou “Tá vendo, vocês mesmo se descriminam!” ou “O preconceito esta nos olhos e na cabeça de quem vê!”. Ai pergunto... Como vou rir de alguém que deprecia meu cabelo? Que faz graça do apetite sexual que nunca tive por conta da minha cor? E se eu dou gargalhadas com este tipo de piadas, o porquê eu me divirto com elas?...
E o que fazemos com tudo isso? Censuramos a comedia? Proibimos determinadas piadas de serem ditas. Impossível fazer isso! E até improdutível, confesso... Por que o humor é também uma arma. E se é por ele que a sociedade se vê a vontade para desabafar aquilo que esconde, que ele seja muito bem vindo. O HUMOR É UMA ARMA! Ele do seu jeito conscientiza. É por isso que o humor nos EUA é dominado por uma parcela negra dos atores. O humor alivia, mas também pode entrar como uma bala na sua alma e explodir algo que estava ali quieto, dentro do seu irmão que esta ao seu lado e pode se mostrar, através do riso que ele não está tão do seu lado quanto você imaginava...

sábado, 17 de abril de 2010

A RAÇA.

Demorei com um post sobre a RAÇA, mas aqui está. Afinal de contas, escrever sobre a única revista que trata sobre negritude no Brasil não é algo fácil. A RAÇA apesar de muitos anos no mercado editorial brasileiro e de ter se mantido com muito sucesso ainda provoca polêmica em um país insatisfeito em possuir uma revista com os dois pés na negritude e que vem de forma séria e contundente abordando o universo da cultura negra no país.

O primeiro numero que vi da raça tinha um Martinho da Vila na capa, uma edição bem antiga. Me surpreendi com a revista desde a primeira vez que vi. “Cadê os brancos?” eu perguntava, naquela época em que minha consciência sobre a questão racial não estava “viva”. A RAÇA me despertou em primeiro lugar para uma coisa, peguei uma VEJA e uma NOVA de minha tia, e comecei a procurar... “Cadê os pretos?” e não encontrava nenhum... Ou seja, a Raça abriu meus olhos pra que eu procurasse me enxergar nas publicações em que gastava meu rico dinheirinho.

A RAÇA mudou e muito com o passar dos anos. Era uma revista fútil, hoje trata-se de uma revista pseudo intelectual para a elite negra... Já passou por várias fases, uma delas que eu odiava que era a da chapinha e cabelo liso, depois começaram a publicar nego com cabelo crespo (lindos e lindas por sinal) e virou uma revista quase que exclusivamente estética – o que não era de todo mal (rsrs). Com a entrada de Mauricio Pestana na publicação a revista parece que deu um up e mesclou durante um bom número de edições entre informações sobre cultura negra nacional e estrangeira e estética negra feminina e masculina de primeira qualidade. Hoje, não existe mais o editorial de moda (que tanto amava!) e a parte sobre cabelos, maquiagem acessórios foi banida (queria saber o sabido que teve esta excelente idéia!!!!!!!Jesus!), dando forma a um conteúdo que nem sempre surpreende ou informa de verdade.

Tem seus méritos, é claro. Ainda continua sendo uma das publicações brasileiras mais baratas, traz a tona gente que você nunca conheceria por conta do showbizz racista nosso de cada dia, traz negros e negras artistas, militantes de uma forma muito positiva e tem uma qualidade gráfica impar. A raça aqui em casa ainda é um xodó, confesso. Ela trouxe inúmeras possibilidades que poderia fazer no meu cabelo, balck, tranças, raiz, moicano black, moicano black com trancas, dread, trançado de dois, cabelo raspado com desenhos inspirados na cultura africana, tanta coisa, descobri que posso usar roupa coloridissima sem problema, as batas de todas as cores... Devo muito da minha estética atual a revista. Também informação sobre artistas, CDs, livros (não muito!!!!!) dentre outros quesitos. Não sigo a risca tudo que ela faz, mas que me deu capacidade de imaginar muitas coisas isso ela me deu! Hoje compro a revista esperando que ela traga uma mistura perfeita entre informação de primeira qualidade e estética, já que não sou só cérebro... Um dia quem sabe!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Se Acaso Você Chegasse.

O musical é um gênero que já aportou aqui na Bahia algumas vezes. Peças como Os Cafajestes, Abismo de Rosas e Cabaré da Raça (as três de grande sucesso) já mantinham a tradição da cantoria nos palcos aqui no estado. Portanto, não é experiência nova presenciar um musical nos teatros da cidade, apesar dos grandes musicais do sudeste, muitas vezes versões de espetáculos de fora do país, são os que ganham mais foco na mídia, às vezes da própria mídia baiana.

Esse gênero teatral, que muitas vezes foi exportado para o cinema de forma arrasadora, tem como grande característica a grandiosidade. Números muito bem coreografados, sincronizados, toneladas de equipamentos e cenários gigantescos... para ser considerado bom um espetáculo musical têm que primeiramente ser grandioso. Certo? Não absolutamente. Pois indo totalmente à contra mão dessas “regras” Se Acaso Você Chegasse é um espetáculo sim, mas pequeno, simples, que trata sobre a vida de Elza Soares de forma majestosa e definitivamente humana.

A peça, em cartaz no teatro XVIII no Pelorurinho, não é uma peça de origem. Não mostra a vida de Elza desde quando era criança e também não tem inicio meio e fim muito bem demarcados. É um espetáculo em que o texto da vazão ao espectador imaginar, criar, e ter opiniões diferentes sobre aquilo que vê. Primeiro que não é somente uma atriz que faz a cantora Elza Soares, mas sim várias, quer dizer... Você vai descobrir que até a parte masculina do elenco faz Elza de certa forma... Dessa forma o espetáculo vai além, ele cresce e transcende os palcos, chegando aos olhos do espectador de forma a ele ali no meio do público se identificar coma a vida miserável e glamurosa da diva do samba.

Aos olhos e aos ouvidos, diga-se de passagem, por que Se Acaso Você Chegasse é um musical. E a voz de todo o elenco em números individuais e em grupo está afinadíssima. As canções do repertorio da cantora são postas em todos os momentos de forma avassaladora, às vezes emociona, às vezes faz a gente sorrir, muitas vezes provoca, mas acima de tudo meche com a platéia de forma única. As canções estão de forma certa no lugar certo. E escolhendo um caminho inteiramente simples para chegar ao espectador.

Defeitos? Sim tem! Alguns atores falavam baixo demais no dia que estava, não dava para compreender algumas partes. E olha que estava na frente. Mas o principal ponto é que a peça apesar de simples é gigantesca. Merecia estar em um teatro maior, com cenários maiores. Aquele elenco quase perfeito tratando de uma historia avassaladora como a de Elza em um palco tão pequeno incomoda. Não que o XVIII não tenha estrutura, ele tem (e das boas!!!), é aconchegante, é lindo, mas é pequeno. Tomare que a peça faça sucesso comece a lotar e tenha que ser transferida para um lugar maior... Elza merece um palco do tamanho da sua vida. Gigante!
ps: Vale lembrar que em uma cidade em que os espetaculos teatrias chegam a custar R$ 30,00 ou até mais, ir ao teatro ver uma peça de qualidade por R$ 5,00 é um acontecimento de primeira grandeza. Se Acaso Você Chegasse está em cartaz por este preço. Entre pagar o caro e ver o duvidoso e pagar uma boa quantia e ver algo realmente belo... fique com a segunda opção.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Afrika Bambaataa no Pelourinho dia 16!!!!!!!!!!!!

Cruzem os dedos! O DJ norte americano Afrika Bambaataa se apresentará no Pelourinho dia 16 de abril, inteiramente de graça. Ele é nada mais que o criador do movimento hip hop. O show acontecerá no Largo Pedro Arcanjo. O evento é uma realização do Pelourinho Cultural, programa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, em parceira com a Favela Music Productions.

Bambaataa nascido e criado no Bronx, se utilizou de diferentes bases de musica para criar os raps. Usando sons, que iam desde James Brown até o som eletrônico da música "Trans-Europe Express" (da banda européia Kraftwerk), e misturando ao canto falado trazido pelo DJ jamaicano Kool Herc, Bambaataa criou a música "Planet Rock", que hoje é um clássico.

É esperar pra ver. Som e primeira qualidade, de graça, próxima semana no Pelourinho!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O LIVRO DE ELI.

Denzel Washington é um ator de múltiplas faces. Disso todo mundo sabe. Por mais que seja famoso, de sua figura como astro seja forte, ele sempre convence o espectador de que o que está fazendo é mais que uma simples interpretação. É um grande ator sem duvida. Infelizmente O Livro de Eli ainda não é o que podemos dizer de um grande filme, como Malcom X, ou Huricane – O Furação. Mas isso não afeta muito o resultado do mesmo. Este Livro de Eli foi otimamente bem nas bilheterias, tanto nos EUA quanto pelo mundo afora. Não necessariamente pelo carisma de Denzel, que não é um ator muito bem visto, por exemplo, em algumas partes do Oriente, mas por conta da trama que envolve uma propaganda muito bem vinda ao cristianismo.

O filme conta a historia de Eli, um andarilho solitário que vaga pelos EUA depois que uma guerra com alguns toques divinos acaba com o mundo. Algumas pessoas sobrevivem e desde então se vêem obrigadas a sobreviver da forma mais violenta possível. Eli, ao contrário dos outros poucos habitantes não quer apenas sobreviver, ele anda em direção ao Oeste com o objetivo de proteger e entregar um livro que não pode de forma algum cair em mãos erradas. Que livro é esse? Descubra! Se não estrago muita coisa... A partir daí, o bolo da história é recheada por lutas coreografadas, violência estilosa, piegismo de primeira categoria, figurinos clichê de fim do mundo e a tal propaganda indireta das lições do cristianismo. Na verdade trata-se de uma mistura de Mad Max mais pitadas calorosas de religião.

O filme é bom. Não vai mudar a sua vida, não mudou a minha, um pouco a de Denzel, já que o filme foi bem quisto pelo publico em geral. Mas tem algo louco ali dentro de toda aquela mistura... É violento e ao mesmo tempo puritano demais. O carisma e a boa interpretação de Denzel às vezes afasta este aspecto do filme e às vezes não. Mas se seu objetivo for ver um filme bom, regado a baldes de pipoca e depois sair com os amigos para comer uma pizza, O Livro de Eli é uma ótima pedida. Nada demais disso