terça-feira, 15 de junho de 2010

O Pornô Inter-racial.

Vou logo avisando, se você for moralista não continue lendo o post, ok? Já falei de pornografia em dois momentos aqui no blog, uma sobre o mundo do obsceno como um todo e outro sobre o nome masculino mais famoso do pornô nacional Agora ela é assunto novamente aqui. Dado os devidos avisos, continuo.

Todo mundo sabe que a indústria de filmes pornográficos no Brasil deu uma catapultada nos últimos anos. O mundinho pornô brasileiro geralmente se manteve restrito a ele mesmo, mesmo depois da popularização do pornô pelo vídeo cassete, do DVD e atualmente da internet, já que ninguém precisa mais sair de casa para ir a um cinema ver pornografia. Mesmo com toda essa “discrição” e comodidade, a pornografia conseguiu sair nos últimos anos do seu mundinho e ir além. Hoje seus artistas aparecem em programas de TV aberta, falam do seu oficio em entrevistas, desmistificam muita coisa. Isso se deu com certeza também por conta da passagem de personalidades e atores famosos do maestrean nos últimos anos para o mundo da pornografia. Também os filmes pornográficos no Brasil se profissionalizaram e muito. Hoje existem produtoras que se preocupam e muito coma qualidade de suas películas e apostam na carreira dos profissionais e na rede de relações presente no pornô.

Mas, mesmo com toda esta renovação e da abertura, o pornô continua tradicional em alguns aspectos. Logo ele, que colocou para fora fantasias trancafiadas há séculos entre quatro paredes, para todos no século XX e XXI observarem atentamente. Na verdade no mundo do obsceno, realidade e “ficção” se misturam; não se sabe muito bem quem inspirou quem, se a realidade serviu de exemplo ao pornô, ou o pornô guiou a realidade. Sabe-se hoje que o pornô é um gênero fílmico consumido a exaustão, que movimenta muito dinheiro, se sustenta basicamente hoje pela net e pelos DVDs e que as fantasias expostas por suas lentes estão na cabeça de cada um dos brasileiros espalhados deste país. E como estamos no Brasil, país que é conhecido internacionalmente como (e faz até hoje propaganda desse aspecto “ímpar”) miscigenado, misturado e como aqui também, como em outros países da America, existiu todo um processo de escravidão negra, temos como característica nacional uma das fantasias mais trabalhadas pelo pornô: o sexo inter-racial.

O pornô é um estilo que é feito para expor o proibido. Sem o proibido ele não existe. E quer algo mais proibido nas Américas que uma relação inter-racial? Você pode estar achando que isso aqui no Brasil nunca foi tabu, que aqui todos se amam e tudo é liberado. Engano seu. As relações inter raciais foram feitas de formas, digamos, suspeitas. Pela exploração do corpo negro pelos brancos na época colonial, com objetivo de embranquecimento da população brasileira no final do século XIX começo do século XX (acreditava-se que a mistura entre negros e brancos com o passar das gerações fizesse do Brasil um país branco e assim ele atingiria o desenvolvimento), e no Brasil contemporâneo arraigando todos os tipos imagináveis de estereótipos ligados ao corpo negro. Portanto, o sexo inter-racial é sim uma fantasia, desde o senhor de engenho que saia sorrateiro pela casa grande para pegar as negras da cozinha ou da Senzala, até hoje. Brancos e negros, gays ou héteros, se envolvem sim, mas o corpo negro é visto como um objeto ótimo para o sexo e também um tabu. Isso também se deu em países com regimes segregacionistas ferrenhos como EUA e África do Sul, mesmo lá existindo proibição perante a lei, negros e brancos se envolviam e a miscigenação virou uma fantasia proibida no coletivo das populações.

Como as relações raciais tornaram-se tabu, o pornô fez questão de assumir e transpor em forma de filme. Primeiro que o corpo negro no pornô brasileiro é configurado de acordo com as exigências do mercado. No pornô heterossexual existem empresas que trabalham com elenco negro em sua maioria, como por exemplo, As Panteras. Já outras fazem uso do corpo negro somente em filmes inter-raciais e também em gang bangs, filmes com vários homens e uma só mulher, geralmente loira. No pornô gay brasileiro o negócio fica um pouco mais restrito, já que não existem empresas que trabalham com este arquétipo e poucos são os casos de pornôs nacionais onde o negro esteja em evidencia, mesmo com os estereótipos existentes, apesar da fileira inter-racial conseguir algum destaque nos últimos anos. No caso das travestis, a diversidade é a principal característica, louras, morenas e negras com a pele mais clara são recrutadas, mas é preciso ter em mente que muitas travestis de peles mais escuras e feições mais próximas do negro, freqüentemente transformam seu visual mediante o uso de longos cabelos louros e de cirurgias faciais.

Os corpos negros no mercado pornô são simbolicamente associados com imaginários que falam de potência sexual, de tamanho, de extrema lascívia e da virilidade no caso masculino. Já o corpo branco é um objeto do desejo, de alcance, do belíssimo, do perfeito. Juntos, o protótipo de beleza + o protótipo de lascívia dão uma boa mistura, diz o mercado. E existem técnicas especiais para lhe dar com o desempenho dos dois corpos juntos. A luz, por exemplo, é uma delas. Há certa dificuldade em filmar pornôs inter-raciais, por conta do contraste dos dois corpos e os desafios técnicos devido ao ajuste de luz. Alguns câmeramen dizem que a luz para o inter racial tem que ficar perfeita, bem mais que filmes convencionais, se não a pele branca na imagem pode estourar, ou a pele negra pode ficar feia como mancha borrada, o aumento de luz etc. estes profissionais dizem também que no contraste das peles o pênis do ator negro que fica maior do que ele é realmente.

Também a forma de distribuir o filme pornô inter-racial é bem diferente dos demais. No pornô heterossexual, por exemplo, a mulher é o grande mote e o homem um mero objeto, aparecendo em muitas filmagens parte do seu corpo, pênis principalmente. No inter-racial o homem negro também é evidenciado, na divulgação geralmente é destacada sua virilidade, com fotografias que destacam o tamanho do seu pênis. O recurso de programas como photoshop são fundamentais já que o corpo no pornô não pode parecer em hipótese alguma com o corpo “normal”. Outro fator são os títulos e as legendas, já que é por eles e as imagens que o consumidor basicamente verá o que vai levar para casa. E para atingir esta meta, tudo é valido, desde o uso de palavras chulas, até o de humor, objetivando sempre uma ação, através do exagero, outra marca básica do pornô. Como a relação inter-racial é uma fantasia, o pornô dá sua exagerada para vendê-la conforme seus padrões.

Então, não se vêem somente corpos, mas corpos incríveis, não somente loiras comuns, mas loiras que vão deixar você louco, não qualquer tipo de homem negro, mas aquele que tem um pênis gigante, grosso. E para divulgação destes corpos ilustres, envoltos nessa fantasia, como em um espetáculo circense, são de uso freqüente frases como: “as maiores picas do Brasil”, “a perfeita combinação de inocência e safadeza”, “as loiras mais perversas do cinema pornô, se mostram taradas por negros viris e extremamente dotados”, “filme imperdível, com anal inter-racial em todas as cenas, além de DPs e ejaculações faciais”, “É um pássaro, é um avião? Não, espere, é o pau gigantesco de Shane Diesel”, “Negras deliciosas mostram quanto prazer elas podem dar aos apreciadores de sexo com mulheres da cor do pecado “É um site dedicado ao sexo inter-racial. É pornô puro e duro com homens negros com picas gigantes a fuder mulheres brancas doidas por fazer mamadas e por foda”, “Muitas mulheres tem vontade de dar para um negro pauzudo e este filme vai mostrar como eles seduzem suas vitimas sexuais”. Para o titulo destes filmes, é colocado em evidencia o papel bestial que o corpo negro adquiriu ao longo da historia chamando atenção para sua virilidade e safadeza exacerbada. Títulos como Blackzila, Rola Monstro, Só Negros Comem Assim, Negras Fogosas 2, pipocam nas locadoras e nos sites de todo Brasil.

Os produtores dos filmes pornográficos consideram os múltiplos fetiches do seu mercado consumidor antes de executarem os filmes. E o fetiche do sexo inter-racial é ver o animal cheio de volúpia (negro) a fornicar o objeto perfeito do desejo sexual (corpo branco). Também os antigos papéis sócias se reafirmam, o branco como objeto perfeito do desejo está em um lugar de poder e o negro aparece somente para satisfazer a fantasia do outro por um tempo determinado. No pornô inter racial somos meros coadjuvantes disfarçados de protagonistas mambembes, voluptuosos, como fome animal por sexo, somos senhores do poder ali na cama e somente na cama. Somos tidos como os reis do sexo, pois este é o único lugar onde podemos ser reis, devidamente coroados pelos brancos, que desejam nosso corpo como fantasia. Em terra de racista, quem tem um pau negro é rei!

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