
E se você pensa que os espetáculos beiram ao amadorismo, não tem qualidade técnica, está muito enganado. É claro que existem peças e peças, mas no geral o produto que chega ao público e de uma qualidade forte. O festival abriu com nada mais que Frank Menezes no monólogo “Indignado”, sucesso do teatro baiano, a R$ 2,00 inteira. A praça situada na frente do teatro ficou lotada com gente de todo tipo e canto da cidade indo prestigiar Frank, seu espetáculo, o teatro e também conhecer o Festival do Subúrbio. O mesmo espetáculo localizado em teatros do centro da cidade ficou a preços de R$ 20,00 a meia. Ou seja, o festival entrega também grandes sucessos a um preço MUITO acessível ao publico da região e a quem estiver disposto a quebrar seu preconceito com o subúrbio e vir prestigiar o festival onde ele acontece.
Ontem fui ver O Vento. Foi minha primeira vez no festival, primeira também em Plataforma (pego dois ônibus de onde moro para estar lá) e primeiro contato também com a Cia Falando Sério de Teatro. A peça basicamente fala sobre duas coisas; feminilidade e fertilidade. Estes dois temas são cruzados por muita poesia, muita música – feita ao vivo pelos atores e músicos da Cia. – mitos africanos, Fernando Pessoa, Chico Buarque. Enfim um caldeirão. A história é básica, simples e boa: a grande mãe Gaia é germinada pelo vento e pare a humanidade, os filhos do mundo. E quem faz as mulheres que norteiam o espetáculo são os homens da Cia. Isso é um ponto muito positivo do espetáculo, pois os meninos não precisaram ficar femininos para convencer como mulheres, com suas vozes grossas e sem perder a masculinidade fazem sua performace sem muitos problemas.
Sim, a peça tem problemas, as vezes a junção de tantas culturas não fica concisa no palco. E a colagem do texto parece solta e em alguns momentos não combina. Isso destoa um pouco e mantém o público afastado da peça e a gente sabe que apesar do público estar lá sentado quietinho de alguma forma ele tem que participar da peça. Esse (acredito eu) é um dos encantos do teatro. Publico e atores se encontram de alguma forma. E em alguns momentos este encontro não era feito.
Outro ponto que enfatizo é a plasticidade do espetáculo. Simples e boa. Nada que venha a mudar sua vida, te faça transcender, mas é correta. E diga-se de passagem, foi o primeiro espetáculo teatral que vi em 2010 que não saio aborrecido com o responsável pela iluminação. A luz surgia nos momentos certos, mudava nos momentos certos, tudo muito bem feito. Engraçado que encontrei perfeição técnica no subúrbio, longe de toda parafernália dos grandes teatros e dos majestosos profissionais com diplomas etc. Contraditório? Sei não viu...
O festival acontece até Domingo, com outras peças, outras temáticas, muito teatro, a dois (DOISSS) reais a inteira e tem meia entrada sim. Além disso, tem o encanto da cidade baixa e seu clima de cidade do interior, a pracinha e suas guloseimas gordurosas sendo vendidas (adoro coxinha de frango, pastel da hora, acarajé, abará, essas coisas...) e prazer de presenciar um teatro diferente feito em um local “diferente” e ótimo.
Você pode ver a programação do festival e as peças que acontecem clicando aqui.
Um comentário:
É um grande prazer fazer parte deste espetáculo na condição de músico. A fertilidade é algo por demais visto nesta arte maravilhosa que é o teatro.
Sou feliz por viver de minha arte e fazer parte da vida de pessoas tão especiais como estas do espetáculo "VENTO"
Kadu Fragoso
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