terça-feira, 2 de março de 2010

AÚ.

Essas é um daqueles exemplares que você lê em uma sentada. Não se engane caro leitor, isso não é um propriamente um elogio! Criado pelo cartunista Flávio Luiz Aú, o capoeirista conta a história de um garoto, como o próprio titulo entrega, capoeirista que mora em Salvador, mais precisamente no Pelourinho, tem como fiel companheiro um macaquinho de estimação chamado Licuri e vive mil e uma aventuras junto com sua turma pela cidade de Salvador.

Aú é o típico “pelôboy”, negro, dono de um corpo definido, exibe um sorriso farto, é hospitaleiro com os turistas, chama atenção das gringas que passam por ele, sabe mais de um idioma – fruto da convivência com pessoas de todas as partes do mundo no Pelourinho – é capoeirista (tem algo menos clichê não?) e tem uma mãe quituteira de mão cheia. A Salvador em que Aú vive é hiper colorida, com Sol brilhante sempre, cheia de turistas fotografando cada detalhe, movimento contínuo, quase um O Pai Ó.

A historia é super simples. Aú e sua turma são ameaçados por um mafioso tipo gangster italiano (!) chamado Aramando Confusionni (!!) por conta de um casarão em que o bandido está interessado em transformar em hotel. Tramando um incêndio para acelerar seus planos de tomada do casarão os capangas de Confusionni acabam sendo vistos por Nathalie, uma adolescente francesa que é raptada pelos mesmo para uma ilha particular. Do mais a historia se segue como típica caçada ao vilão pelo mocinho, nada demais.

Au, apesar da publicação ser de 2008, foi criado em 1992 pelo cartunista Flávio Luiz feito para a exposição Bandes Dessinée – Quadrinhos Franco-belgas, em parceria com a Aliança Francesa, em Salvador. Depois de muitos estudos, esboços etc etc chegou-se ao personagem principal e seus companheiros. A historia passa fácil, é simples, conta com personagens realmente carismáticos. Mas o que incomoda mesmo são os clichês. Não sei como será a visão do público alvo, mas a historia do “peloboy” que salva a francesinha indefesa do mafioso com ares italianos não encheu meus olhos. Além disso, a francesinha não é um interesse romântico central de Aú, mas uma baiana, negra, chamada Bezinha que é descrita no site da revista (http://www.auocapoeirista.com.br/) como “namorada” de Aú. Quando li a historia não entendi bem o que havia entre eles dois e achei que Nathalie seria o par romântico do capoeirista, mas no final nem bezinha namorada entre aspas, nem a francesa indefesa.

A revista, com 48 páginas, coloridissima, no formato 21,5 x 29 cm, com capa dura custa a bagatela de R$ 48,00 (!!!). Com certeza acessível a todas as crianças e pré-adolescentes baianos, soteropolitanos, brasileiros etc... Fica a pergunta para que construir um herói popular se o publico que é parecido com ele não irá desfrutá-lo. Parece uma tentativa de divulgar a cultura baiana, o Pelourinho, a cultura negra até, mas para quem acontece esta divulgação?... Por R$ 48,00 fica difícil!... A revista é super bem estruturada, a qualidade é impar, mas faltam uma história com menos chavões e um preço mais acessível para a maioria das pessoas pelo menos. Aú salvou o dia... somente dentro da sua revista e poucos irão ver.

2 comentários:

Michele Oliveira disse...

Adorei ... seu desabafo, devemos realmente trabalhar para levar qualidade e em valores acessíveis a população.R$48,00 realmente não é nada acessível.

Filipe Harpo disse...

É Michele... o preço de uma HQ como essa poderia ser mais barata, talvez até uma edição mais popular... Obrigado por comentar o post.