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Jefferson Oliveira |
Jhê Oliveira (ou Jefferson Oliveira) é ator e coreógrafo ilheense. Vive em Salvador desde 2004. No mesmo ano ingressou no Curso Livre de Teatro da UFBA, originando a montagem de Boca de Ouro de Nelson Rodrigues, dirigido por Paulo Cunha. O ator participou de duas montagens ano passado de grande repercussão na cidade OGUM – DEUS E HOMEM de Fernanda Júlia e AS VELHAS de Luiz Marfuz. Em entrevista ao PÉLICULA NEGRA, Jefferson, fala sobre o ofício de atuar, da cena teatral baiana, diretores, política e também sobre a arte de ensinar o que aprendeu.
Voce é natural de Ilhéus, seguiu o caminho de muitos artistas do interior que vem tentar uma carreira na capital do estado, Salvador. Em 2004, quando chegou, o que destaca de mais difícil e o que lhe surpreendeu positivamente na cena teatral soteropolitana?
Quando resolvi vir para Salvador eu tinha apenas 3 sonhos distintos. Já realizei os três. Lá em Ilhéus já não tinha espaço pra crescer e eu não acreditava que tudo estava ali, e realmente não estava mesmo! Tive professores como Pedro Matos e Equio Reis Grandes ícones do teatro baiano. Em 2004, quando cheguei em Salvador, acontecia o projeto ”Julho em Salvador” promovido por Virginia D’rim. Logo de cara eu falei “È isso que quero pra mim”, essa produção, essa oportunidade de fazer e de ver teatro “profissional” . Mas eu era só um jovem cheio de fantasias e vontades que me motivaram a ter o meu lugar hoje na cena soteropolitana. Mas ainda assim o que me deixa com o pé atrás é o discurso de algumas pessoas respeitáveis do meio que teimam em fazer panelas e só priorizarem “os mais experientes”. Acredito que existe lugar pra todo mundo, mas essa coisa de dizer que fulano, ganha mais porque tem mais tempo de carreira precisa acabar e logo.
Muitos atores reclamam, chamam atenção, para as dificuldades que se têm quando decidem viver de arte em Salvador, outros que conseguem se “dar bem” evidenciam o outro lado. Qual o seu ponto de vista sobre este assunto?
É realmente muito difícil! Muito mesmo! Às vezes constrangedor! Eu vivo só do “ser Ator”. Trabalhei o ano todo de 2010, esse ano já tenho meu primeiro espetáculo. Mas ainda não recebi muito cachê do ano passado, e os desse ano já estão atrasados. Falta compromisso com o repasse de verbas e isso não acontece só com o Governo não. Muitos outros contratos privados não são honrados em datas acordadas, ficamos à deriva, sem ter para quem apelar. Atrasamos o aluguel e contas. Acredito que precisamos de uma política cultural mais eficaz que não nos abandone em momento algum...
Voce não trabalhou somente com teatro, também fez propagandas e atuou em campanhas políticas, as do PT são um exemplo. Como foi para você trabalhar enquanto garoto propaganda de órgãos públicos? De alguma forma te prejudicou?
A primeira coisa que eu penso é como vai ficar minha carreira depois. Fiz.várias campanhas para empresas privadas e isso não me afetou muito. Financeiramente é ótimo! Fui fazer campanhas ligadas ao governo estadual e federal e até mesmo prefeitura, até hoje isso reverbera na minha carreira de uma maneira negativa. É claro que logo no início precisava me estabilizar financeiramente e era uma grande chance, mas você fica marcado e isso é ruim. Em 2006 fiz campanha política em Camaçari e fui ameaçado de morte. Dentro do ônibus, em novembro de 2007 tive que responder a uma senhora porque o metrô ainda não funcionava. Então comecei a entender que de certa forma eu também era responsável, pois era “ O Cara” da prefeitura. E até hoje me devem.
Pesquisando os espetáculos que fez, você participou de montagens que ficaram marcadas no cenário teatral da cidade. A Casa dos Espectros de Ângelo Flávio, Policarpo Quaresma de Luiz Marfuz, Inteiramente Nu, de Deolindo Checcucci, Ogum Deus e Homem de Fernanda Julia, dentre outros. Depois de tantos espetáculos no currículo, o que te chama atenção em um projeto e leva você a aceitar o convite feito pelo diretor?
A vontade de trabalhar mais! Eu sempre fui muito chamado pra trabalhar pela minha versatilidade e minha vontade de aprender. Hoje eu quero saber o que o papel (personagem) me diz enquanto homem. Tento me adaptar ao papel e aprender com ele. Outra coisa é a figura do diretor, sou apaixonado por eles, quando vejo o diretor sem saber o que fazer me desespero, mas sei que ele tem a solução. Gosto também dos que estudam em casa e já chegam prontos. Levo em conta também os colegas de elenco, não da para trabalhar com quem não se tem afinidade! E eu sou turrão pra caramba. Implico facilmente. Mas tenho tido a alegria de sempre estar em projetos vitoriosos. Acredito que o ator faz isso acontecer!
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Ao lado de Jussara Mathias, Val Perré e Fernando Santana
em Ogum Deus e Homem dirigido por Fernanda Julia. |
Existem profissionais do teatro baiano que ainda não trabalhou e deseja? Quais e por quê?
Muitos. Estou “namorando” muitos. Mas tem um que fiz um trabalho lá em Itabuna .Eu tava novinho ainda e queria muito ter a oportunidade de reencontrá-lo em sala de ensaio. Fernando Guerreiro. Também tem Hebe Alves, e Marcio Meireles. Os porquês não vou responder!! kkkk
Além de ator voce também é coreografo. A impressão que tenho é que o teatro tem muito mais espaço apesar das dificuldades, além de uma predisposição do público baiano em ver espetáculos teatrais. Isso é verdade? Em sua opinião, como anda o cenário da dança na Bahia?
Sinto a dança tão distante do teatro, teve um tempo que vivia nos dois núcleos. Eu me formei na Funceb e isso me fez crescer muito, como homem e como artista. Decidi não ser dançarino e sim coreografo, porque adoro criar. Acho que a dança tem que abrir mais e aceitar mais o teatro e digo isso do teatro também. Sofro muito precoceito por ter sido dançarino. Alguns atores fazem boicotes por eu ter uma predisposição para dança. A dança e o teatro deverian andar mais juntos. A dança na Bahia tem seus momentos de respiração, mas depois é abafada. Acho isso ruim, tem tanta gente boa...
Você vem construindo um caminho diverso na sua carreira como ator e coreógrafo. Ela é permeada por participações em cinema, vídeos, campanhas publicitárias e em projetos sociais para adolescentes e crianças. Centrando neste último ponto, qual o seu objetivo em levar para este público o seu trabalho?
Eu sempre dei aula para crianca e adoro! Agora estou meio parado, mas tenho um projeto de levar o que aprendi para crianças e idosos. Acredito que vai ser bem legal.
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A premiada atriz Andrea Elia e Jefferson contracenando
em As Velhas de Lurdes Ramalho. |
Voce também ensina a sua arte. Como vê seu ofício do ponto de vista do professor, já que são visões diferentes sobre o mesmo trabalho?
Acredito que é pela educação que a melhoria aconteça. Quando penso em ensinar arte, lembro que eu não tive essa oportunidade. Então está na hora de levar o que eu aprendi a outros e por isso sou feliz em sala de aula. Não me considero um professor e sim um facilitador, pois também sou aluno dos alunos. Acabo aprendendo com eles!
Como foi a experiência ano passado de estar em dois espetáculos super concorridos pelo público aqui em Salvador? As Velhas e Ogum – Deus e Homem. Com foi o processo de construção das duas montagens para voce?
Em média em Salador o que faço por ano são 2 espetaculos! O processo em Ogum foi muito bom, por se tratar de algo muito pessoal pra mim. Minha religião. Por mais que eu soubesse que era teatro, não dava pra não fazer uma ligação com o divino. Mesmo o teatro já tendo essa ligação com Baco, que pra mim e super divino. O processo foi divertido complicado, por contas das relações humanas, mas o resultado foi belíssimo. Em As velhas, já me senti mais maduro enquanto ator! Marfuz é muito bom, quando se trata de ator, ele tem cuidado, e sabe qual o limite. Pra compor meu personagem, voltei muito pra minha infância, para minha vida em Ilhéus. E nas fazendas que minha mãe trabalhou. Reencontrei grandes figuras que ajudaram a compor o mascate, que na minha concepção, marca minha carreira. Sem duvidas um ano onde o homem e o ator se juntaram e decidiram juntos, seguir em frente.
Recentemente em Salvador, Pólvora e Poesia se destacou na cena baiana por ser produzida por um dos atores do elenco. Também já trilhou este caminho de ser produtor/ator? Ou pensa, em um futuro projeto?
Em Ilhéus eu mesmo produzia os espetáculos infantis que fiz. Minha mãe já financiou espetáculo meu com dinheiro do tabuleiro dela. Na época nós trabalhávamos muito com apoio. Lá não existia edital. Hoje penso sim em fazer como Thales, ator de Pólvora! Está na hora de voltar a pensar que uma lata de tinta e um pedaço de tecido como apoio também é bem vindo. E eu acredito que todo esforço é valido! Tenho um projeto pessoal, que esse ano vai acontecer. Eu vou produzir e atuar, com uma grande amiga do meu lado.