

Alta temporada começou em Salvador!!! Gente bonita pra todo canto, ruas cheias, show de graça e de todo preço pra tudo quanto é canto e para todos os gostos, ensaios dos blocos bombando, Pelourinho voltando com todo gás, praias fervendo, até nos dias de semana tem festa, pra quem pode, para quem tem carro, para quem agüenta voltar do trabalho cansado e pegar uma festa que só termina duas, três da manhã e no outro dia trampar como se nada tivesse acontecido... Em breve chega janeiro, lavagens, ensaios e ai só esperar um tempinho carnaval...
É nessa época que a população branca de Salvador cresce de uma forma impressionante. Vem de todos os cantos do mundo, cumprir aqui uma infinidade de objetivos ou fantasias... Atrás de cultura, aliada com muita diversão e por que não sexo! Vem ver o que o baiano(a) tem, do que são capazes, se tudo que ouvem lá fora é a mais pura verdade, ou pura balela!
E os turistas, principalmente os gringos, vão em tudo quanto é canto para descobrir este segredo e experimentar dos sabores que seu imaginário tece frente a terra onde está. Ele não quer só desvendar a cultura e os costumes de Salvador que aparecem em postais, campanhas de agencias de turismo etc, ele quer ir além, que fotografar os becos da Liberdade, vem parar em bairros periféricos, a praia de Paripe e outros tantos locais que não aparecem na Salvador destacada pela Bahiatursa. Afinal de contas, para que pagar a prostituta/gp da Manoel Dias se você pode ter a garotinha(o) da periferia, preto(a) e pobre que se encanta com qualquer príncipe do cavalo branco que apareça por ali, de graça?... Por que nos bairros periféricos os estrangeiros (sejam eles de que qualidade for) são vistos com olhos que recebem com encanto e também certa surpresa... “Nossa, mas ele está aqui!” dizem os mais assustados... E o turista percebe com certa graça o encanto que provoca e se aproveita disso. É o cara/mulher que “vem de fora”, “o gringo”, que provavelmente “tem dinheiro”, “banca”, os olhos brilham e todos cobiçam...
Existe um outro tipo de movimento. Um movimento que vai de encontro com os estereótipos do turista mais interessado no sexo que em qualquer outra coisa por aqui e também do negro (a) que se oferece ao tipo de papel sexual a lá clássico entoado por Carmem Miranda... São os engajados. Existem dois tipos deles: o primeiro é o carinha que não se entrega, ele é do gueto, de raiz, só ouve coisa fabricada pela mídia alternativa, deixa os cabelos trançados, black, sempre. Ele tem orgulho da identidade que prega e também prega este orgulho para os demais a sua volta. Ele também não pode namorar, flertar, ficar, com o outro da uma raça diferente da sua, por que se não esta traindo a “irmandade”, os princípios da mesma, da comunidade, esta se afastando de seus irmãos... Ele só ouve certos tipos de musica, vai a certos tipos de lugares, veste certos tipos de roupa e adora deuses demarcados... Não se dá conta que faz dois tipos de movimento, o de desconstrução daquilo que o subalterniza, mas constrói um outro estereotipo, de um outro modelo que não pode ser nunca quebrado para o bem de toda a comunidade.
Ergue-se também um outro tipo. Que faz o mesmo movimento, só que com uma cor diferente... ele também não pode negar suas raízes, se misturar, freqüentar certos tipos de lugares, pois sua vida é regida por códigos de conduta que não podem ser quebrados. Nada de se envolver com gente que tenha a mesma feição da suas empregadas domesticas, nem de ir a lugares perigosos, onde existe muita gente feia cometendo muita bizarrice de uma só vez...
Com toda a mensagem da “mistura ae” que a mídia baiana passa e tenta colocar de forma muitas vezes obrigatória em nossa cabeça é preciso estar atento para a forma como nos misturamos e nos separamos... Nos modelos que construímos e em tudo mais o que dizem.
A cidade está cheia. e a alegria esta na moda. Baiano é tido como alegre, festeiro, amoroso, carinhoso, quente, safado, também como preguiçoso. E aparentemente os de fora e os de dentro se juntam, mas é preciso estar atento e ver que a felicidade, a alegria, a amizade não é tão colorida quanto parece!...
A cena tratava-se do confronto da personagem principal e a mãe de sua enteada. Taís Araújo e Lilia Cabral, brilhantes por sinal, cada uma a sua forma. A cena parecia que ia dar um bom caldo. Nem consegui ir pro quarto para tirar a roupa, descansar etc. Fui sendo seduzido pelo texto que estava maravilhosamente interpretado pelas duas atrizes. Sei lá, um confronto de gerações, tudo muito bem feito e arrumadinho. A cena estava brilhante, eu La com meu queixo caído de ver a entrega de Taís pela personagem, lindo de se ver o desenvolvimento dela. Ela sem maquiagem, sem nada para evidenciar o sofrimento. Só o choro e a interpretação já estavam ótimos. Por sua vez Lilia Cabral sem chorar em nenhum momento, engolindo o choro muitas vezes para evidenciar uma mulher extremamente amargurada, nossa (!) o que era aquilo? Muito bom!
Mas ai vem... sempre vem não é mesmo, algo para desencadear alguma coisa muito complicada. A helena de Taís perde perdão, PE de perdão novamente, pede perdão mais uma vez e nada da outra personagem (só sei o nome de Helena na novela, por que sempre em toda novela do autor é a mesma coisa...) aceitar. E a personagem de Lilia Cabral traz algo que Helena fez de podre no passado para subir na carreira. Humilhação nº1! Ai ela resolve, aos prantos se ajoelhar. Humilhação nº 2!! E chora daqui e chora dali, nunca vi Taís em uma papel pra chorar tanto... Em seguida depois de pedir perdão, suplicar seria uma melhor palavra... a personagem não obtém o que tanto precisa para levar sua vida normalmente. Há um silencio insuportável no ar. Humilhação nº 3!!! E logo depois um tapa na cara. Humilhação nº 4!
Nunca vi uma helena tão submissa, nunca vi uma helena tão mal resolvida, nunca vi uma personagem tão distante da outras Helenas. Ou seja, nunca vi uma Helena sem ser Helena. As personagens principais das novelas de Manoel Carlos geralmente são tudo, menos submissas. Até hoje não vi uma que por mais atrocidades que passassem fossem tão submissas assim. Fiquei pensando depois se seria por conta da primeira Helena jovem este tipo de atitude ser de uma mulher jovem perante alguém mais velho. Nós que somos jovens fazemos besteiras com nosso próprio eu muitas vezes, por conta da imaturidade... Mas a cena ficou muito complicada aos meus olhos. Gostei, as duas atrizes estavam perfeitas, mas a humilhação em comparação a outras personagens foi de matar.
No minuto seguinte a cena já estava repercutindo no twinter, no you tube, no Orkut, no faceboobk, salas de bate papo, MSN sites de fofoca e no mais que você imaginar aí. Todo mundo comentando que Tais estava ótima, ou sem sal, que Lilia Cabral era uma diva, que a cena foi chocante, que isso, que aquilo... A cena não tinha nem dois minutos vinculada na TV e já estavam dizendo tudo sobre ela... E eu também não podia escapar do meu comentário!
Espero ver o desenvolvimento da novela. Como a Helena de Manoel Carlos irá se comportar... Se levanta o nariz e segue em frente, trabalhando muito bem essa culpa dentro de si ou continua a mulher submissa que vi na ultima cena da novela no capitulo de ontem...
O filme é correto e pronto. Não trata-se de um filme magnífico, cumpre algumas promessas e foge de outras de fininho como quem não quer nada, mas mesmo assim é um bom filme. Mas o que BESOURO tem a oferecer acho é o que vem depois de assistir, é quando a tela para de projetar o filme e a historia ganha a força do boca a boca do povo, da imaginação dos meninos repetindo as cenas do filme, do herói que cresce na cabeça de cada espectador.
O filme do jeito que foi feito, com as frases de efeito, técnicas, roteiro passando determinado tipo de mensagem não poderia ser feito em outra época. Não poderia ver este tipo de filme na mesma época que, por exemplo, Jurassick Park. O Brasil não estava preparado, as pessoas não estavam preparadas para um filme onde os Orixás e os negros tem uma resolução tão bem acabada e respeitosa. Naquela época o movimento negro denunciava os abusos da mídia com os afro brasileiros, hoje seu poder já sai do discurso engajado da academia e chega até as ruas. De uma forma completamente diferente, muitas vezes modificada até para o melhor, mas hoje o brasileiro por conta de inúmeras iniciativas anti racistas tem uma outra perspectiva do processo brasileiro contra a desigualdade.
Mesmo assim ainda existem pessoas que não estão preparadas. Estavam lá as pessoas rindo pois achavam divertido as frases de um dos vilões do filme e se divertia a cada episodio que BESOURO pisava na bola. Acho que este numero de pessoas anos atrás poderia ser melhor. Hoje já não se manifestam tanto (nem todos tem coragem de explicitar seu pensamento, mesmo dentro de uma sala escura) ou construíram uma outra Idea sobre a cultura africana e afro brasileira.
Besouro não poderia ser feito anos atrás, seria muito avançado e até o cinema nacional não funcionava naquela época como funciona hoje. Era tudo invertido. Mudamos do avesso para o direito e hoje os molequinhos podem continuar as aventuras de Besouro e Dinorá quando o filme acabar...