quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ô binho, por que você cortou seu cabelo?...

Porque preto também tem direito a cortar cabelo! Porque cabelo crespo cresce e cai como qualquer outro tipo de cabelo. Porque o cabelo é meu e faço com ele o que eu quiser. Porque um corte é apenas mais um tipo de penteado. Porque minha negritude não está apenas no meu cabelo. Porque sim!
Cortei o cabelo. E meu ouvido nada seletivo começou a coçar no exato momento em que decidi passar a máquina nele. Sabe aquele incomodo que voce sabe que vai sentir por alguma decisão que voce toma, seja ela que instancia for? Pois então. Não foi fácil tomar a decisão, afinal de contas, foram mais de três anos deixando o cabelo crescer a vontade, deixando minha verdadeira identidade de lado para ser chamado na rua como “rasta” (que por sinal nunca fui!!!), ouvindo os mais terríveis absurdos, vendo gente se incomodando ou ficando maravilhada com minhas tranças. Meu cabelo mudou e mudei junto com ele. Como hoje sou outra pessoa, decidi mudar também o cabelo.
Mas como toda epopéia, existem fardos a serem contados aqui neste humilde blog. Quem disse que cortar o cabelo, para mim, que sou um sujeito observador dos incríveis entraves da sociedade é um ato simples, singelo e rápido? Nunca! Descreverei situações bizarras que passei entre o instante de decidir cortar o cabelo e cortar a cabeleira realmente. Fico me perguntando se um homem branco passaria por uma situação das mesmas que passei e a resposta que vem a cabeça é sempre a mesma: NÃO! Se o cabelo é diferente, infelizmente, as situações são opostas. É curioso constatar que as opiniões estapafúrdias não vem somente dos racistas de plantão, mas de todas as tonalidades de pele. Evidenciando o seu conceito pré formulado de superioridade capilar imbecil.
O primeiro movimento que reparei foi dos negros que gostam do cabelo grande e deixam o próprio cabelo grande também. É a galera do Por que voce cortou o cabelo irmão? Cê fez santo foi? Xi meu brother, prefiro o cabelo grandão. Essa galera que acha que agora que pode colocar o cabelo pra cima se acha no direito de relativizar sua negritude e de comparar quem chega a um grau maior/menor de consciência negra através de características fenotípicas. Ou seja, “Sou mais preto que voce por conta disso, daquilo, por que coloco meu cabelo pra crescer e voce não, por que sou mais escuro e voce não, por que vim da favela e pego dois ônibus e voce só pega um”. Está pensando que somente comigo, que sou homem, acontece? Não. Meninas que alisam o cabelo volta e meia acabam ouvindo coisas do tipo “Você deveria tomar vergonha e deixar esse cabelo duro! Tá querendo ser branca é?”.
O movimento dois é dos negros que gostam do cabelo Black, admiram, mas nada de cabelo grande na cabeça deles. Meu Deus, o que foi que aconteceu Filipe? Tá doente? Como se somente uma doença me fizesseeu cortar o cabelo. Ou... Cedeu ao mercado de trabalho foi cara? De um primo meu e suas brincadeiras estapafúrdias na hora do almoço. Engraçado que dias antes ele mesmo dizia a mim que não creditava nessa historia de que o negro precisava cortar o cabelo para trabalhar em alguns ambientes. Também, nascido com a pele clara em uma família negra e confundido como branco por alguns no trabalho, é realmente difícil acreditar nesse tipo de coisa, mas a brincadeira está ali...
Em terceiro lugar vêm os negros que cortam/alisam suas madeixas e também não suportam o cabelo diferente do seu. Ave Maria, ficou dez milhões de vezes melhor! Ou como disse um conhecido que me largou essa: “Detestava aquele cabelo seu, confesso. E eu soltei outra para o lado dele: E daí? Quem tem que gostar do meu cabelo sou eu. o barbeiro com quem cortei o cabelo me dizia “A filosofia rasta já perdeu sua força meu velho. Ideologia agora não é mais moda”. Eu rápido disse: “É... agora ideologia é eu dar mais de R$ 6,00 pra cortar meu cabelo e deixar seu bolso mais gordo.” Ele riu sem graça e se calou. São os que tem mais problemas, pois não conseguem ultrapassar a barreira de assassinar o branco racista que pousa sobre sua cabeça todos os dias e aí violentam o outro. Não sabem também que violentam a si mesmo com suas palavras.
Em quarto chegam os brancos liberais, que geralmente convivem muito com negros, ou estudam a “questão do negro”, ou “tem alguém negro na família” ou “não tem preconceito” ou se vêem indignados com todo tipo de preconceito “besta” que existe por aí, ou “tem um pé na senzala”. Ai Meu Deus, o que voce fez com seu cabelo? Cortei ora essa. Vai deixar crescer pra carnaval, não vai? Ai seu cabelo era lindo. Não vou poder mais te chamar de rasta. Te chamo de que agora? E sua baianidade nagô, onde fica? Ô, caro leitor, me deu uma vontade de dizer onde ficava essa tal baianidade nagô pra ele. Ô se deu vontade...
E por ultimo, mas não menos importante, é claro, os brancos racistas. Ainda bem! Não agüentava mais voce com aquele negocio na cabeça. Ficou mais bonito. Mais leve. Olha pra seu rosto, agora apareceu. Com um sorriso no rosto: Cortou? Tá ótimoooooo! Observe que o movimento deste se aproxima dos negros que não gostam do cabelo crespo grande, mas trata-se de algo diferente. O cabelo grande e crespo para um branco racista denota em sua cabeça poder, que o negro em sua frente não se subjuga. Em seu pensamento é melhor ver/namorar/conviver com uma pessoa negra com cabelo baixo ou alisado, pois de uma certa forma os traços negróides estão “apagados”.
Se voce caro leitor, não faz parte de nenhum desses casos, fique feliz, pois este povo descrito acima precisa de uma suruba terapêutica urgente! Daquelas fortes e impactantes. Notei também neste movimento de aparar a cabeleira, que a única pessoa que se importou com o que eu realmente achava sobre isso era uma grande amiga que também cortou o cabelo e passou por essas mesmas loucuras. Sei que o cabelo para o corpo negro neste Brasil racista é muito mais que um simples cabelo. É identidade! É força! Afirmação. Mas cabelo também pode ser cortado... E no meu caso já passei da fase de cortar o cabelo, pois não gostava dele grande, inventando mil desculpas para não deixar crescer a cabeleira, já que não tinha coragem nem arcabouço para avançar nestas questões. Eu sou outro e como minha negritude está além do meu cabelo, simplesmente corto.
E ele se fortalece, e depois cresce. Lindo, com fios novos em folha e deixa de ser pequeno, passa a ser enorme, volta a incomodar os racistas de plantão. E a história se repete mais uma vez e outra vez e outra vez... Por enquanto, aproveito a sensação boa da água forte caindo na cabeça na hora do banho, ou de sentir ventinho na careca na Orla, ou de me olhar no espelho e enxergar outro eu e de ver, que como qualquer outro ser humano posso me metarfosear, virar de cabeça pra baixo e ver que dentro de mim não existe uma só negritude, existe milhões!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PRIMEIRAS IMPRESSÕES 2 - Parem de Falar Mal da Rotina.

Um trecho da peça PAREM DE FALAR MAL DA ROTINA. Essa parte no livro, que estou lendo e muito breve fala sobre ele por aqui, é muito boa. Mas ela dita, com direito a movimentação no palco vira uma outra coisa, toma um outro sentido. Fora a participação da platéia que é maravilhosa se enxergando nas histórias. Neste trecho do espetáculo, Elisa Lucinda fala sobre a ditadura da chapinha que dominam as mulheres há certo tempo...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

É NATAL!!!!

Então... É Natal!... Como já dizia Simone (!) na sua versão da canção famosa... Daqui a pouquinho quase todo mundo vai comemorar o nascimento do menino Jesus. Sim meu caro leitor, quase todo mundo, pois o Natal é uma festa Cristã e tem gente que está pouco se lixando pra isso. Além do mais o Natal é uma festa capitalista, na verdade virou, não é? Comprar, comprar, comprar... E se você não lembrar de tal parente, meu Deus! Apocalipse! 2012! Fim do Mundo!... Fora que todo mundo começa a querer dar esmola, fazer caridade, depositar dinheiro na caixinha (ESMOLA CHIC É FODA!!!). O coração que só amolece no final do ano... Eu fui seleto, comprei presentes para quatro pessoas pontuais neste ano de 2010 e só. Dentre elas estou eu! Claro! Pois mereço, fui um menino comportado neste ano que passou. (!!) De resto? Não montei árvore, não coloquei pisca pisca com música insuportável na porta, nada de papai noel pela casa, disse um não a toalha vermelha e verde na mesa de jantar... E estou ótimooooo! Na rua via o povo desesperado, doido para comprar tudo, rápido que se não acaba... Pega, pega logo! Divide em 10, não, não, em 14 prestações!... Esse é o Natal que deve entrar no seu coração? Pois este vai ser o Natal que no próximo mês vai te pegar de supresa com as prestações sorrindo no seu cartão de crédito...
Mas desejo a você, somente para você que não liga tanto (ou nada) para essas besteiras consumistas, um Natal repleto de alegria, paz e sem brigas com a família pelo amor de Deus! Se você não for cristão e a festa não significar tanta coisa para você, aproveite a mesa farta na casa do amigo, por que uma dessas de novo só no próximo ano (!!!).
Em breve voltarei a postar sobre arte negra e outros acontecimentos. Tem livro de Elisa Lucinda, cd novo de Mariene de Castro, dvd de Beyonce, livro de Vron Ware, Luiza Bairros no governo de Dona Dilma (!!!!), filmes e mais filmes para ver... tanta coisa. Tudo postado em breve. Vou experimentando e postando, podem aguardar. Fora as mudanças, neste blog, que estou pensando para o próximo ano. Muita coisa boa, espero que gostem! FELIZ NATAL A TODOS!!!!!!!!!!!!

APERTE O PLAY!!! Velozes E Furiosos 5

Olha só. Eu amo filme de ação! Gosto realmente. Carros em alta velocidade + gente com arma em punho + tudo explodindo + gente apanhando + cuiuda exagerada + ritmo frenético = a diversão. Tudo de mentirinha, uma mentira bem orquestrada como só Hollywood sabe fazer. Confesso que os filmes franceses de ação me chamam mais atenção que a nova geração hollywoodiana regada a efeitos especiais, mas confesso que solto um sorriso só de lembrar de filmes de ação norte americanos que vi na década de 90 com seus astros brucutus bombados, tipo Van Dame, Arnold, Stallone, Snipes, Willis, tirando onda de exército de um homem só, nos cinemas de rua daqui de Salvador. Ai ai, boas lembranças e boas risadas, mas vamos lá... Um dos exemplares de filme de ação que chegam aqui (e que foram gravados aqui) é o quinto capitulo da franquia Velozes e Furiosos.
Por que postei o trailer aqui no blog? Pô meu, o filme traz nada mais nada menos que vários motivos... 1º filme passado em favela, com cenas de ação (pelo que vi no trailer) super criativas e muito bem feitas. E o cinema de ação não faz cenas criativas desde, sei lá... RONIN?... 2º Traz uma das maiores surpresas do cinema norte americano atual The Rock, ator com muito mais carisma que Vin Diesel e 3º a trama oficial, observe:

"Desde que Brian (Paul Walker) e Mia (Jordana Brewster) tiraram Dom (Vin Diesel) da custódia da polícia, eles têm cruzado diversas fronteiras para evitar as autoridades. Agora, encurralados em um canto do Rio de Janeiro, devem executar um último serviço para conquistar a liberdade. À medida em que reúnem seu time de corredores, os improváveis aliados sabem que sair limpos significa confrontar o homem de negócios corrupto que os quer mortos. Mas há mais pessoas no encalço. O agente federal Luke Hobbs (The Rock) nunca perde um serviço. Quando é escalado para perseguir Dom e Brian, ele parte com tudo com sua equipe - mas no Brasil descobre que não é tão fácil distinguir os mocinhos dos bandidos. Agora, Hobbs precisa confiar em seus instintos para pegar sua presa, antes que alguém o faça."
É caro leitor... No Brasil ninguém é de ninguém! Mais uma trama em que nosso país é visto como escória do mundo... Sabe o que eu acho? Bem pouco pra nós! A gente recebe o gringo de mãos abertas, faz e acontece para ele ficar bem, fazendo tudo da forma como quiser aqui e depois que ele vem com visão estereotipada a gente reclama? Ah pelo amor de Deus! Na China, o governo supervisiona o roteiro e se não for de agrado do povo de lá, não tem filme autorizado certo! Mas aqui não, a trama lenhada é deixada de lado... Aconteceu com Stallone e agora novamente Vin Diesel e sua franquia de carros alucinados.
O trailer é bom! As cenas me empolgaram, mas só. A trama é na verdade mais uma desculpa para ver os carros em alta velocidade pelas ruas de Copacabana... E pronto. Espera mais de um filme de brucutus????

domingo, 19 de dezembro de 2010

Primeiras impressões... PAREM DE FALAR MAL DA ROTINA de Elisa Lucianda.


Eu bem que tentei me segurar na livraria quando vi o livro. Não, eu não vou comprar, nem vou ter tempo de ler... Eu dizia para mim mesmo. Não, não vou comprar, tem ainda o presente de fulano de tal, de beltrano para comprar... Eu relutava, mas me veio na cabeça uma entrevista antiga de Elisa Lucinda no Sem Censura, ela declamando alguns dos poemas que estavam na peça que a esta altura já era sucesso por onde passava. Lindo monólogo de mais de duas horas de duração e a primeira vez de teatro de muita gente. Poxa, começar a experimentar o teatro e todo o mundo que ele proporciona através deste espetáculo/poema deve ser uma experiencia e tanto! Quando acabei de lembrar estava com um sorriso no rosto e resolvi, assim de supetão, comprar o livro. Ah que nada! De vez em quando a gente tem que fazer dessas coisas. Sem nem pensar direito você vai lá e toma a atitude. Dar um presente a si mesmo. Claro. Ficar nesse consumismo cristão desenfreado, desse Natal "fajuto" de meu Deus, comprando presente pra parente que você passou o ano inteiro sem ver e vai acabar por não se dar um presentinho? Presentinho não. Presente!!!!!!!!!! Fui lá comprei e ainda por cima pedi a balconista que embrulhasse para presente. Um amigo meu que estava comigo olhou pra mim com cara de quem diz "Pra que?" e eu retruquei com cara de "Tá me olhando assim por que?". Estava me dando um presente ora e faltava o pacote.

Peguei o livro pra ler, não aguentei esperar até amanhã. Até agora, do pouco que li, simplesmente AMEI! Ela é ótima. São primeiras impressões deste livro/peça/poema... Meu Natal vai ser ótimo lendo meu bom livro. Pois em Papai Noel não acredito, já nas palavras de Elisa...

APERTE O PLAY!!! Mathieu Edward - Entre Toi Et Moi

Bem, vocês já ouviram falar em Mathieu Edward, cantor frances, que já está na estrada desde 2005, que descobriu gostar de música através da igreja, ja fez dueto com a cantora Sheryl Crow e lançou seu primeiro álbum Entre Você e Eu em julho de 2008? O cara faz uma mistura boa entre R&B e Soul, sabe tocar piano, bateria e é também autor de suas músicas. Gostei do primeiro contato que tive com ele, atráves deste clip Entre Toi Et Moi e resolvi compartilhar aqui no blog. Não tem nada de suprendente, mas a dois garanto que ouvir Mathieu é outra coisa... Curtam aí esta boa batida negra vinda da França. Aliás um país que neste ano de 2010 não para de me surpreender no quesito boa música.

Aperte o Play!!!! Garnier Ultra DOUX.

Enquanto isso na França...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

E A VENCEDORA DO GLOBO DE OURO É... HALLE BERRY?

Saiu as indicações para o proximo Globo de Ouro e aconteceu... Halle Berry foi indicada aoo premio de melhor atriz dramática por Frankie and Alice. Ela tem concorrentes de peso como Nicole Kidman, Natalie Portman, Michelle Williams e Jennifer Lawrence. Assim, Nicole não faz algo bom desdeOs Outros... Já Halle fez e concorreu ao globo de Ouro por Aos Olhos de Deus, mas no cinema só tem feito coisa ruim, Michelle Williams que fez O Segredo de Brokeback Mountain, A Ilha do Medo e Hallowen (H20) (!), é uma triz correta e já foi indicada ao Globo de Ouro por O Segredo... e Jenniffer Lawrence... Quem??? Ela concorre por Inverno Na Alma, será conhecida pelo grande público como a nova Mística do novo X-Men. Eu não vi nenhum dos filmes ao quais as atrizes estão sendo indicadas. Torço realmente por Halle Berry e também acredito em Michelle Williams, mas Nicole deixou de fazer coisa boa a tanto tempo que nem tem mais graça e depois que fez a tal plástica ficou ridícula. O filme de Halle por ser pequeno e não tão divulgado pode agradar muito os realizadores do Globo de Ouro, já do Oscar duvido, pois o perfil do premio vem mudando ao longo dos anos e respeitado também super produções. O Globo de Ouro acontece dia 16 de janeiro de 2011.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

OS MELHORES DE 2010!!!!!!!!!!!!!!!!

Esse foi um ano de crescimento para o PELÍCULA NEGRA. Muito mais postagens do que no ano passado, algumas até polêmicas, outras nem tanto, seções novas, um novo design, enfim o blog foi virado de cabeça pra baixo. Como o ano foi de reviravoltas e surpresas, resolvi postar os melhores que contribuiram para a cultura negra com seus produtos de qualidade em 2010. Somente gente de primeira, em categorias que só existem aqui. Até por que, só em uma “premiação” assim para os negros dominarem (ou mesmo estarem!) nelas...

MELHOR FILME INTERNACIONAL:

Preciosa. Se você viu Preciosa e não se emocionou com a historia da menina violentada pela mãe, pelo pai e feita de saco de pancada por quase todo sujeito que cruza seu caminho, é por que você é um insensível de primeira qualidade. O filme, produzido por Oprah Winfrey e dirigido por Lee Daniels é ao mesmo tempo tocante e violento. Emocionante em todos os sentidos.

MELHOR FILME NACIONAL:

Cinderelas, Lobos e Um Príncipe Encantado de Joel Zito. Definitivamente Joel Zito é um documentarista de primeira categoria. É a sua principal arma para debater assuntos que o cinema brasileiro ainda capenga em discutir. Com depoimentos de turistas estrangeiros e prostitutas brasileiras (cariocas e soteropolitanas), além de outros profissionais, Zito mostra as várias historias que compõem o universo da prostituição da mulher negra no Brasil, seus sonhos e também os vários tipos de violência que passa.

MELHOR DIRETOR (A) / CINEMA:
Lee Daniels, por Preciosa: O produtor de A Última Ceia assume a cadeira de diretor pela segunda vez e faz um trabalho tão bem cuidado que arrancou elogios e lágrimas por onde passou. Mas o maior feito além de ter transposto o romance para as telas foi ter colocado Mariah em um bom papel e arrancado dela uma ótima interpretação. Incrível!

PRODUTOR DO ANO:
Tyler Perry. Diga o que quiser dele! Ele produziu Preciosa, está produzindo e dirigindo FOR COLORED GIRLS, filme cotadíssimo a tudo quanto é premio para o próximo ano, conseguiu seu lugar ao sol na “nova Miramax” em Hollywood, a Lion Gate. E arrecada mais de 30 milhões de dólares por produção. Além de se envolver no teatro com peças de incrível sucesso para o público negro norte americano. É o cara!

MELHOR SHOW:
Beyonce, I Am Tour. Gigante. Incrível. Imperdível. Maravilhosa. Genial. Bem executada nos mínimos detalhes. Foi o melhor show de um artista negro que aportou em SSA. Diva internacional de primeira categoria + primeira produção internacional da Caco de Telha + SSA em polvorosa por conta da diva, só podia dar em uma das melhores coisas que já vi na vida. O show está na minha mente como se tivesse visto ontem. Surpreendente.

REVELAÇÃO:
Willow Smith. Filha do casal Will e Jada Smith essa menina tem tudo pra ser uma nova diva. Nunca ouviu falar em Whip My Hair? Tava onde esse tempo todo, em marte? Se não ouviu, baixa essa musica agora e se jogue em uma das batidas mais doidas e chicletes de todos os tempos. Pra você que gosta de música somente para se divertir, dance bastante. Willow tem apenas dez anos, nasceu para ser diva, é transloucada e virada nas 600!

MELHOR APRESENTADOR (A):
Rita Batista, Boa Tarde Bahia. Tem alguma duvida disso? Ela é a melhor da Bahia e se você não mora aqui tenha certeza que essa negona dá de 10 a zero em muita loira de porte nacional. A mulher é inteligente, linda, irreverente, gente boa pra caramba e tem um dos sorrisos mais cativantes que já vi na TV. Não almoço sem ela, não me informo sem ver a opinião dela e adoro ver a cada dia seu talento aprimorado.

MELHOR ESPETACULO TEATRAL:
Ogum. Deus e Homem direção de Fernanda Júlia. A concepção da diretora Fernanda Julia para o Orixá Ogum é forte e foge do lugar comum. Palha da costa, acarajé, pano branco?... Não, não, o candomblé é muito mais que isso, é vivo e está dentro de cada baiano, negro, cidadão. A opinião da maioria dos críticos que vi é que o texto é fraco. Isso é uma certeza, mas o espetáculo é regido com tanta firmeza que este “detalhe” é contornado. Fora o burburinho que o espetáculo conseguiu na Escola de Teatro da UFBA! Filas se formando horas antes do começo da peça, gente voltando pra casa revoltada por não conseguir ingresso e o povo saindo com sorriso no rosto depois da apresentação do espetáculo.

ESPETACULO TEATRAL 2:
Sete Ventos, direção Débora Almeida. Essa categoria vai para as peças de fora de SSA que chegaram aqui. O monólogo com Débora Almeida, ex Cia dos Comuns, passou pouco tempo em SSA, mas obteve ótimo resultado com o publico presente em suas duas apresentações. A atriz de um talento incrível faz e acontece para contar a historia de mulheres atuais influenciadas pelo poder de Iansã. Lindo, singelo, texto hábil (e ótimo!) e discutindo tudo com um bom humor incrível.

MELHOR CLIP:
Janelle Monáe – Tightrope. feat. Big Boi. Adoro clip estranho e esse é estranho até demais. Clip é assim, você não precisa entender muito pra gostar. A cantora/louca/talentosa Janelle Monáe dança feito um James Brown pós moderno (!) e enlouquece a todos neste clip passado dentro de um hospital psiquiátrico (!!). A coreografia é louca, os dançarinos fora do comum, é tudo muito bom e simples neste clip. A música ficou entre as vinte mais pedidas nos EUA. Se você estava pesando que iria postar algo do mundo pop obvio, não mesmo! Janelle Monáe tem lugar cativo aqui no blog.

MELHOR SURPRESA DA NET:
Blog Filmes Black Grátis. Virou um vicio pelo menos uma vez por semana dar uma passada pelo blog que posta filmes com temática ou atores ou mesmo diretores negros. Tudo de graça e em perfeito estado. Idéia maravilhosa! Tem filmes de tudo quanto é tipo e principalmente coisa rara de se encontrar na real. O mundo virtual às vezes é perfeito.

MELHOR CD BAIXADO:
Sensual, Marysa. Categoria para descoberta ilegal? Rsrsr, ai ai, só aqui... Viciei nesta mulher. O cd não é deste ano e sim de 2009, mas como baixei este ano está aqui por justa causa. Marysa eleva o conceito da sensualidade em suas canções. Ela canta em diversas línguas e se acha que Lady Gaga vai fazer algo diferente em seu novo álbum, tadinho, não sabe você que as cantoras de zouk ou de outros ritmos propriamente africanos fazem isso ó... Há tanto tempo que não tem nem mais graça...

FENIX DO ANO:
Sade. Soldier Of Love. Se no ano passado Donna Summer e Lionel Ritchie ressurgiram das cinzas, este ano Sade voltou às paradas com seu mais novo cd depois de um período de férias loooongas no limbo. Soldier Of Love não apresenta nada de novo, mas traz belas canções, destaque para The Moon and the Sky e Soldier Of Love bem ao estilo Sade de ser... impactantes, mas bucólicas.

MELHOR DVD:
Teresa Cristina, Melhor Assim. Ela finalmente se soltou!!!!!!! Tenho outro DVD de Teresa e ficava agoniado com ela no palco, toda contida. Tudo bem, vi um show dela anos atrás em que estava mais soltinha... Mas agora ela despirocou de vez. Graças a Deus! Ok, não enlouqueceu totalmente, o que não combina nem um pouco com ela, mas ela se soltou neste DVD com participações mais que especiais, elogiadíssimo pela critica especializada e quisto pelo público – isso é realmente o que interessa!

MELHOR ESTILISTA:
Cid Brito. Aos poucos esse cara super talentoso vai firmando seu nome no mundo da moda soteropolitano e por que não no nacional também. As roupas com sua marca são ótimas. A temperatura sobe quando você veste uma peça dele. Além de tudo faz roupas para outros contextos também, pois já assinou o figurino da Banda Psirico. O negócio tá bombando pro lado dele: desfile de lançamento da nova coleção no Ensaio do Cortejo Afro esta semana!

MELHOR ESTRÉIA QUE NÃO ACONTECEU...
Good Hair. Frustração! Esse é o sentimento quando lembro que este maravilhoso documentário polemico não estreou aqui. DVD? Ah, eu queria ver Cris Rock em tela grande, imponente com seu trabalho!

MELHOR LIVRO:
Lélia Gonzalez. Depois de ter feito uma boa obra sobre a historiadora Beatriz Nascimento o doutor em antropologia, Alex Ratts volta ao mundo das biografias com esta sobre uma das mais influentes, adoradas e odiadas militantes do movimento negro e do movimento negro de mulheres. Desta vez Alex não esta sozinho, pois faz parceria com a doutoranda Flávia Rios.

MODELO DO ANO:
Ramirez Allenderr. Vi este homem tantas vezes em campanhas aqui em Salvador que não posso deixar ele de lado. Era em avenidas enorme tomando todo um lado de um prédio em um cartaz, em shopping no centro da cidade, em lojas de roupas, em blogs. Acho o sorriso dele fenomenal e tem um carisma que poucos modelos masculinos tem. Fora que é bonito pra caramba! ps: a calça que ele usa na figura acima é de um tal Cid Brito...

POLEMICA IMBECIL DO ANO:
Monteiro Lobato “censurado”! Na verdade foi a piada do ano. A Revista Veja foi contra, a Globo se pronunciou contra, sempre a mesma palhaçada. O caso era o seguinte: os livros de Lobato por seu conteúdo racista deveriam levar avisos (como os CDs com palavrões e outros conteúdos abusivos tem nos EUA) advertindo os pais que compram o tipo de obra que levam para seus filhos. Como Lobato aqui no Brasil é o ícone da infância, os liberais frustrados de plantão resolveram logo inchar. O projeto é mais que bem vindo, mas gerou polemica mais que desnecessária.

MELHOR MÚSICA:
Empire State Of Mind. Alicia Keys & Jay-Z. Confesso, não ia com a cara de nenhum dos dois cantores. Recentemente Alicia me chamou atenção por conta da sua participação em um show na Copa do Mundo na África do Sul cantando Brenda Fassie. Mas Jay-Z, não mesmo! Mas... Existe sempre um “mas”, não é verdade?... O marido de Beyonce resolve fazer uma das melhores músicas que já vi na vida, com o refrão mais pegajoso do mundo. A letra é bem feita, sobre a cidade de Nova York, suas características, os desafios sociais e também todo o glamour que ronda a cidade. Basicamente: Empire State Of Mind fala sobre o sonho Americano, os que conseguem realizar e os que não conseguem. E as mudanças que acontecem com cada um dos casos. Perfeita!

CUIUDA DO ANO:
Invasão da policia ao Complexo do Alemão. Depois de mais de trinta anos de traficantes dominando as favelas cariocas, com total poder e controle de muitas outras partes da cidade do Rio de Janeiro a policia acaba todo esse arsenal em três dias???????? Você come este prato quente, caro leitor? Eu não engulo essa mesmo! O pior foi a galera da favela – a maioria preta e pobre – tendo que abrir suas casas aos policiais atrás dos bandidos ou sendo parada no meio da rua, pois era tida como suspeita pelos mesmos policiais. Enquanto isso, tinha repórter do Fantástico entrando de colete na favela, a TV mostrando sempre os moradores adorando a ação da polícia, Ana Maria Braga fazendo a linha dramática, Datena gritando na Band aplaudindo os policias e a TV tentando obter historias cinematográficas com a comedia de erros mais louca que já vi na televisão brasileira.

MELHOR PERFORMACE:
Sharon Menezes, Dança dos Artistas. Ela pode não ter ganhado, mas a performance de Sharon foi muito boa e superior a atriz – que não me lembro o nome agora – que ganhou o concurso vinculado no Domingão do Fustão. Sharon dançava todos os ritmos com graça, mas acabou perdendo. Uma pena!

APERTE O PLAY???!!! Comercial da Camisinha Trust

O comercial mais doido que já vi na vida! Eu estou chocado!!!!!!!!!!!!!! Não sei se acho um absurdo ou engraçado, ou bom, ou sei lá o que. E o pior, ele existiu, não é uma paródia...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Você Já Ouviu Falar Em... FRANKIE & ALICE?

Halle Berry retorna com tudo e volta louca em seu novo trabalho. O trailer do filme cheira a produto bom, elogio e muitas premiações. Frankie & Alice conta a história de uma mulher que sofre de múltiplas personalidades, dentre elas a de uma criança e uma mulher branca racista. Ela na verdade luta para que esta outra mulher não acabe tomando o lugar do seu verdadeiro eu. A história, a interpretação e a data de lançamento do filme nos EUA (17 de dezembro) cheiram também a Oscar!!!! O filme, dirigido por Geoffrey Sax, não tem data de estréia no Brasil, mas não duvido que com as indicações devidas a produção não seja concorrida pelas distribuidoras aqui também. É esperar e ver uma das melhores atrizes da atualidade finalmente em um filme bom! Segue trailer abaixo:

sábado, 11 de dezembro de 2010

Crônicas do Mundo Negro: A Cor do Candomblé...

Colega minha de sala, conta a turma a história abaixo...
Estava ela indo a um seminário, em uma sexta-feira a noite. Chega atrasada e no mesmo momento em que entra no espaço onde esta sendo realizada as palestras, chega também uma outra mulher. Minha colega, uma senhora branca, vestida de branco, cabelos de igual cor e a outra mulher, negra também vestida de branco. Em um dos momentos do seminário o palestrante solta para a mulher negra a sua frente.
- A senhora, é mãe de santo... Para ele era evidente: negra, sexta-feira, vestindo branco, pimba! - mãe de santo.
- Não sou mãe de santo. Sou médica. Vim diretamente do trabalho. Corta a mulher olhando diretamente para ele.
O senhor, por sua vez, não se fazendo de rogado, olha para minha colega e afirma:
- E a senhora com certeza é medica... Disse ele sorrindo, já que na cabeça dele era óbvia sua afirmação.
- Não. Sou mãe de santo! Disse minha colega de sala, com sua pele branca e roupa branca dia de sexta-feira.
Perplexo, o senhor continua sua palestra, sem entender muito bem por que aquilo construido na sua cabeça não fazia mais sentido agora...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

APERTE O PLAY!!!! Willow Smith - Whip My Hair.

Há tempos não vejo um clip tão criativo. Eu já confessei por aqui que amo Willow Smith e essa música entrou na minha cabeça faz tempo. Willow tem um identidade e estilo próprios, mesmo no começo de carreira e tem tudo para aprimorar seu talento. Muito bom.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM... A NOITE QUE NOS DOMINA?

Estreou este fim de semana o elogiado filme - que ninguém sabe quando chega aqui oficialmente - A NOITE QUE NOS DOMINA da diretora Tanya Hamilton. O filme conta a história de Marcus (Anthony Mackie) que retorna para a sua vizinhança em Philadelphia, em 1976, anos depois de ter crescido por ali durante o movimento dos direitos civis. Enquanto acerta as contas com o passado, Marcus se vê acusado de planejar o assassinato de um Pantera Negra. Incrivelmente o filme chegou aqui na ultima Mostra de Cinema de São Paulo, falta agora estrear por aqui em circuito comercial. A película está também na lista dos filmes do Festival de Sundance nos EUA.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Homossexualidade Negra.. Revista Bagoas.

Bem, anos atrás, para ser mais exato em 2007, quando ainda estava na universidade, participei de um projeto do primeiro número de uma revista sobre sexualidades homossexuais, chamada Bagoas. Tive, junto com meu orientador, Ari Lima, um artigo aprovado, fruto de uma pesquisa em andamento sobre homossexualidade negra. Para mim foi uma ótima experiência até por que era o único graduando junto a tantos doutores e mestres na publicação. E os editores dessas revistas geralmente só colocam em suas publicações gente formada já. Estar na publicação, principalmente no número 1 foi para mim algo muito especial. Pesquisando sobre homossexualidade negra na nossa velha e boa Nossa Senhora do Google, mãe de todos os sem referencia, constatei - mais uma vez - que o assunto ainda não foi tocado e disponibilizado de uma maneira que preste. Pois então, segue abaixo o link da Revista Bagoas nº 1, com seus artigos sendo ele o 13º e o link com artigo Identidade Homossexual e Negra em Alagoinhas meu e do Prof Dr. Ari Lima. O artigo não pretende abarcar o tema de forma geral, até por que ele é vasto e verificado em uma cidade do interior da Bahia. Existem vários tipos de homossexualidade e a estudada em Alagoinhas é uma delas. A pesquisa virou monografia anos depois. Para quem acompanha o blog e se sentir interessado leia, conteste, reflita etc.

A revista: http://www.cchla.ufrn.br/bagoas/edic01.html

O artigo: http://www.cchla.ufrn.br/bagoas/v01n01art13_limacerqueira.pdf

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O PIOR E O MELHOR DE... Shonda Rhimes.


O MELHOR: Grey's Anatomy. Sim, galera, é um dramalhão sem fim esta série médica, mas todo o sucesso que a roteirista Shonda Rhimes conseguiu em torno das várias temporadas é merecido. É realmente bom! Fora o elenco - inter racial - que é um primor. Protagonizado por Ellen Pompeo a série viciou muitos amigos meus e um público gigante e cativo tanto na tv a cabo quanto na aberta. Um outro ponto a favor é que a série é diferente de House e E.R, outros grandes sucessos de "séries médicas" já que o ambiente clínico não é necessariamente a coisa mais importante a ser vista na tela e também os casos médicos não são tão estravagantes assim. Shonda além de roteirista também é produtora da série e prepara um novo drama médico para entrar na tv norte americana em breve chamado Off the Map, a comédia dramática Life After Marriage e um projeto ainda rodeado de segredos que provavelmente se chamará In Crisis.
O PIOR: Sim, o primeiro filme de Britney Spears. Dá pra tecer algum comentário sobre isso?... A história é interessante. Britney se arriscou nos cinemas com uma história que não era puro e simplesmente motivo para ela sair cantando e dançando, mas o resultado no final nao saiu lá essas coisas. O filme não chega a ser ruim, mas bom está longe de ser.

domingo, 28 de novembro de 2010

sábado, 27 de novembro de 2010

Qual a sua cor eim?

Você se considera o que, pardo ou negro? Essa foi a pergunta que tive que responder quando a recenseadora do IBGE veio aqui em casa para o censo 2010. Pensei um pouco: Será que respondo a ela que não tenho cor de azulejo de cozinha, portanto pardo não sou (caralho!) e dou um belo sermão nela ou respondo simplesmente que sou negro e pronto? Preferi a segunda opção. Sem polemicas, sem caras feias e com ela se despedindo cinco minutos depois.
Essa breve visita acabou me rendendo vários pensamentos. O que será que os brasileiros negros por todo este vasto país responderam em sua maioria? Que tinham cor de folha de papel visita?... Por que apesar de todo o debate racial presente nos últimos anos com ênfase até me muitos meios de comunicação, os avanços dos movimentos negros e da abertura que o governo deu para o tema, cor ainda no Brasil é um desafio epistemológico a ser vencido. Muita gente não se considera negro por um milhão de motivos, muitos brancos também não se consideram brancos por outros motivos mil, tem gente que não gosta das palavras branco/negro e declara que aqui no Brasil não existe isso e ainda tem aquela galera que se coloca no meio de tudo, que não se considera nem uma coisa, nem outra... E a pergunta vem: Eu sou neguinho?...
Até por que ser negro não é uma questão simples no Brasil. Depende de muita coisa. De voce que é sujeito de sua história, mas do outro também que tem percepções de voce. Por exemplo. Eu anos atrás não era negro. Tenho minha pele marrom e anos atrás tinha meu cabelo cortado na maquina zero. Portanto, não era negro e sim considerado moreninho. Era moreninho pra lá, moreninho pra cá, uma cosia que só vendo! Me sentia um eterno bronzeado. Quando dizia que era negro para as pessoas, Jesus!, o Apocalipse acontecia. Até hoje lembro o dia que fui a uma médica e a atendente tinha colocado que era pardo na ficha. Ah que nada! “Minha senhora, conserte isso daqui” disse eu apontando para o lugar na ficha onde estava minha cor de forma errada. “Por que? Voce é pardo meu filho!”, “Não. sou negro! Conserte! Quem sabe de mim sou eu!”, “Voce é pardo sim. Negro é quando a pessoa é da cor de carvão, aquele que nem Pelé que é da cor do asfalto!”, “Olhe aqui sua racistinha de merda...”, não eu não disse isso, mas que eu fiquei com vontade fiquei... Falei um pouco mais alto chamando atenção de todos, peguei o formulário e consertei. Ela não gostou, mas o formulário iria ficar borrado mais ainda, além do silêncio da clinica que estava quebrado. Mas já ouvi coisas pior, do tipo: “Ô meu filho, não faça isso com voce não. Você não é preto nada! Voce é moreninho, vermelhinho, mas preto, assim não pode!” (!) “Voce não é preto. É misturado” (!!) “Voce dizendo que é preto, já esta tendo preconceito com voce mesmo” (!!!). Tem umas coisas que o povo diz que eu realmente não consigo alcançar! E neste país a gente é tanta coisa...
E isso não acontece somente com os negros de pele clara não. Com os chamados retintos também acontece às vezes. Parece que para amenizar o “peso” da palavra negro as pessoas tentam disfarçar. “Aquele moreno lindo!”, já que ele é lindo não pode ser negro, entende? Ou “Quero toda sua baianidade nagô dentro de mim”. Racismo brega é foda! Dentre muitos outros apelidos como, morenaço, vermelhinho cor de formiga, cabo verde, cor de jambo, cor do pecado, cor de burro quando foge, Brown, caboclo, Pelé, amarronzado, marrom, marronzinho, marrom bombom, diamante negro, prestigio, roxo, arroxeado, assim de sua cor, assim da cor dela, misturada etc.
Todo mundo sabe que isso não é um fenômeno atual. Começou muitos anos atrás, Brasil colônia e a separação dos negros escravizados pela ideologia da branquitude formulada pelos senhores de engenho e seus vários métodos de afastamento. Aconteceu aqui, nos EUA também – para mais informações leia REDISCUTINDO A MESTIÇAGEM NO BRASIL do professor Kabengele Munanga (clássico obrigatório!). E repercute no Brasil atual disfarçado na velha desculpa que os negros tem preconceito contra si mesmos, que nós não nos assumimos. Mas por que muitos negros no Brasil nãos e assumem? Por que? Como voce vai se assumir se sua cor é ligada a tudo quanto é coisa ruim, se te apelidam por conta das suas características fenotípicas, quando evidenciam que você não tem dinheiro, pois é preto?!
Tenho alunas que dizem que não são negras, alisam o cabelo e dizem seriamente que aquele cabelo é natural. O curioso é que elas nunca olham na minha cara, pois sabem que aquilo é mentira. Afirmam de pé junto que não são negras, mas não tem coragem de dizer que são brancas, pois sabem – lá no fundo! – que igual a estrelas que vêem na TV elas não são. E isso para o sujeito negro é um back muito forte. A mestiçagem que vemos tantos se orgulharem como característica intrínseca do Brasil foi um projeto muito bem arquitetado para nos diluir enquanto sujeitos de uma só historia. Não somos negros, não somos brancos, não somos indígenas, somo brasileiros. Somos uma grande mistura!!!! O Brasil não é um país, é completamente uma vitamina de banana. Uma coisa afro pop nagô miscigenada lusa, quase um cd de Daniela Mercury, um caruru de tanta coisa junta! Eu eim! O velho embate entre o movimento bi-racial e o mega racial. E haja diluição. Haja moreno, moreninho, sarará, mulato claro, mulato médio, mulato escuro, escurinho, nego, neguinho, pardo, tição... Assim não há identidade negra que agüente!
Estamos em 2010, século novo, mas os costumes antigos estão arraigados como nunca! Quanto mais ganhamos visibilidade mais temos que lutar contra o movimento da invisibilidade e do ostracismo. Ou seja, a cada Lazaro Ramos, Tais Araujo, Cidinha da Silva, Ari Lima, Ângelo Flávio, a cada estudante negro que entra na universidade a cada estudante negro que sai formado das universidades do país, existem mil e uma formas de racismos espalhados para fazer essa galera desaparecer. Quanto mais referencias não temos, ou somos rechaçados, mais nos diluímos. Friso novamente: Somos uma grande mistura!!!! Essa mistura que elege o entre lugar como rei, onde não existem brancos (portanto não existe racismo de fato (?)), não existem negros, pois todo mundo se fundiu um dia, em algum lugar desconhecido e hoje todo mundo é vatapá e acarajé.
Realmente acredito que o Brasil seja um país mexido, algo entre a hipocrisia e a violência, entre a mistura que cega e a problematização que desperta.
ps: a figura que ilustra a postagem trata-se da pintura A REDENÇÃO DE CÃ que retrata os primórdios da miscigenação racial ocorria no Brasil no século 19: uma negra ergue as mãos para o céu em agradecimento a Deus por ter conseguido "branquear" sua prole. O nome da pintura faz referência à Bíblia. Cã, filho mais novo de Noé, fora amaldiçoado pelo pai por ter rido da nudez do ancião, que, durante um porre de vinho, despira-se na frente de sua família. A maldição de Noé contra Cã foi a seguinte: a partir daquele dia, seus descendentes nasceriam com a pele negra e povoariam a região que hoje conhecemos como África. Na pintura os descendentes de Cã encontram a redenção com a mistura branca efetivada no Brasil...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Aperte o Play?????? Comercial TV Máscara Negra - General Eletric

O garoto propaganda tinha que ser negro, é claro, com um produto desses...
Sem comentários!!!!!!!!

Aperte o Play!!!! Comercial VIZIO - Beyoncé vs. Beyoncé

Achei massa!

domingo, 21 de novembro de 2010

20 de Novembro...

20 de novembro... Ontem aconteceu o dia da Consciencia Negra. Salvador fica cercada de caminhadas e outros eventos, que duram o mês inteiro em várias instituições pela capital baiana. Nosso Brasil, condenado por um racismo todo particular, que não evidencia determinados assutyos por serem polemicos em manuntenção de uma boa convivencia hipócrita, tem um dia, seman, mês todo voltado a um "problema" que ele fez questão durante anos de execrar: o negro. Gosto do movimento que atinge Salvador, muita alegria nas caminhadas, mas sei que negritude não é só festa, até por que tem toda uma geração que aprendeu a "ser negro" atráves dos embates do racismo e essa geração luta para que uma nova aprenda a ser negro de verdade atráves do orgulho, pelo entendimento da sua História. A consciencia deve estar atenta o ano inteiro!

sábado, 20 de novembro de 2010

Você já ouviu falar em... INCOGNITO????

Milagres acontecem. Estou eu no shopping, fazendo meu belo programa de "menino comportado!" que sou, entro em uma livraria mega/hiper/super/turbo megastore nova daqui de Salvador e entre um produto e outro encontro um cd de uma tal banda chamada Incognito. Vi todo mundo negão, instigou logo minha curiosidade... Ouvi um tal Tales From The Beach e... ADOREI!!! Muito bom. Ai fazendo pesquisa na net quando cheguei em casa, pois não comprei o cd que era vendido pela bagatela de R$ 72,00, me deu um alívio e ao mesmo tempo angústia. Eles existem desde 1979, em Londres, são integrantes de um movimento chamado Acid Jazz e seu primeiro trabalho foi lançado em 1981. Desde aquels tempos seus remixes são os preferidos de muitos djs da europa. O tal Tales From The Beach que vi na loja trata-se do álbum mais recente do grupo, lançado em 2008.
O grupo tem quatro componentes que geralmente aparecem mais, mas existem outros, a banda no palco é muito grande. Seus principais nomes são o líder da banda, compositor, produtor musical, guitarrista e cantor é Jean-Paul Maunick "Bluey". Outros membros da banda notáveis são os cantores Jocelyn Brown, Carleen Anderson, Tony Momrelle, Imaani, Maysa Leak, Kelli Sae (de Count Basic) e Joy Malcolm. O album mais novo do grupo é simplesmente fantástico e a julgar pelo preço, tenho qque agradecer a Nossa Senhora do Download para conferir o trabalho do grupo por inteiro. Segue abaixo o clip da segunda música do Tales From The Beach. Não epsere pop grudando como chiclete, mas uma boa vertente de música negra distante da obviedade dos astro pop bombardeados pela MTV.



o tal Tales From The Beach... quero de presente de niver, ok? rsrsrs

Um Bom Trabalho!!!

O Blogspot com suas estatísticas, fez um raking das postagens vais vistas aqui do PELÍCULA NEGRA. Como esta lista pode não estar corente com o tempo de vida do blog, já que está de acordo com o tempo do vida do contador (colocado recentemente), resolvi então postar a minha lista dos dez mais. São textos mais velhos, alguns da época em que o blog só falava de cinema negro. Na verdade, já estava com a idéia de fazer uma postagem sobre os textos que o resultado fiquei realmente satisfeito. Mas só agora posto tudo direito. Tem de tudo um pouco. Postagem que deu trabalho (muito!) e por isso ficou boa, texto que me supreendi no final lendo na revisão, meu humor de preto sendo evidenciado contra o racismo cotidiano, pornografia, homossexualidade negra (esse assunto realmente incomoda alguns...), as postagens sobre brnquitude, além de mais... Está tudo abaixo para você ler. Tudo selecionado. É claro que existem postagens não citadas que o povo fala bastante, mas por enquanto publico as que eu fiquei satisfeito com o resultado final. Não se preocupe, outras listas virão...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

PELÍCULA NEGRA... CORAÇÃO DE MÃE...

Mais de vinte mil visitas... O blogspot recentemente lançou dentro de suas configurações um link para o responsável pelo blog verificar suas postagens mais vistas. Na pesquisa, para minha surpresa, adivinhe qual é a postagem que rende mais interesse?... O Nome Dele é Bengala... Kid Bengala (!!!). A postagem fala sobre um dos maiores astros do cinema pornô brasileiro e a relação de sua figura como “astro do desejo” e o público. A segunda mais vista também é sobre pornografia (eita povo safado!!!), O Pornô Inter-racial, sobre como o sexo explicito entre negros e brancos é formatado. A terceira e quarta mais vistas são postagens bastante antigas: Meu Deus Existem Negros Gays 1 e 3, como o titulo já adianta, a postagem é sobre homossexualidade negra, mais exatamente envolta ao bum de séries gays que surgiram nos últimos anos. Para fechar o top 5, Rita Batista no Boa Tarde Bahia, fala sobre nada mais que a melhor apresentadora baiana e única negra com real espaço de poder na televisão baiana, viu criatura??!!!!
Me surpreendi bastante com o resultado. Abaixo, o top dez do PELÍCULA NEGRA segundo o blogspot. Claro que é apenas uma amostra, pois as estatísticas só foram lançadas a partir que coloquei o contador. Novamente obrigado pela visita. Clic nos links pra ver as postagens na integra.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

APERTE O PLAY (!!!!!!!!!!!!)/(????????)... As Sublimes - Boneca de Fogo

Pergunto e exclamo ao mesmo tempo, pois não sei o que pensar necessariamente desse clip. Ele é brega é fato e a música também! Mas me traz tantas boas lembranças... Esses clips do Fantástico!!! Ai, ai tanta coisa vivi nesta época... Era meiados da década de noventa, a televisão era bem mais racista que hoje. E quando As Sublimes entravam nos programas de auditório as pessoas se assustavam com três negras entrando para cantar com tanto estilo. Eu gostava bastante. Elas fizeram história e fizeram relativo sucesso. E a música do clip, na época era um chiclete, grudava fácil, fácil. Muita gente cantava! Recordar é viver...

O incomodo do teatro afro centrado 2...

Dias atrás, o FIAC, Festival Internacional de Artes Cênicas, aportou em Salvador em mais uma edição. Em todos os cantos da cidade tinha um exemplar de espetáculo teatral passando, ruas, teatros, até boate foi transformadas em espaço cênico. Grupos de tudo quanto é parte estavam no festival... Mas o tom europeu dava o toque que marcava as apresentações. Olha, eu odeio falar do obvio. Não tinha manifestações pretas no festival. Esperava algo diferente? Não! Até hoje não entendo como um festival internacional não consegue abranger a diversidade dos grupos teatrais... Aliás eu entendo sim e é tudo tão obvio que dá vontade de vomitar. O diretor Ângelo Flavio fez uma performance em protesto a exclusão do negro nestes festivais... Só assim, pra o povo acordar! E como sempre muita gente não gostou. Claro o negro invisível é estimado, mas aquele que grita e faz protesto é consdierado como um mal, algo a ser afastado.
Voltei a fazer teatro tempos atrás. Estou aprendendo, engatinhando, mas é engraçado (na verdade é curioso...) como recebo recados de cautela quase todos os dias quando algumas pessoas sabem que quero/posso/almejo tratar da “questão do negro” no meu trabalho. Ouço cada tipo de coisa. “Você tem que tomar cuidado pra não ficar datado”, “voce tem que tomar cuidado por que pode ficar como complexado”. Eu eim! É um fato: o teatro afro centrado na Bahia incomoda pra caralho!!! Atualmente aconteceu uma explosão de teatro na vertente negra aqui em Salvador e no resto do estado. A gente durante anos não se via, não se enxergava nos pretensos auto intitulados clássicos da literatura universal (!!!), eu ia pro teatro ver Shakespeare, realismo russo, Nelson Rodrigues... Voltava pra casa e tentava me lembrar o nome da peça que acabei de ver...
Não que não existisse teatro afro centrado antes. Existia sim! Mas hoje, existe um novo teatro afro centrado formulado na cidade. Isso é conspícuo. Mas o que tem ele de novo que incomoda tanto? Primeiro: ele é comandado por negros. O corpo negro não está somente no palco, mas também em todos os estágios da peça. A concepção agora é negra!!!! Acabou o apadrinhamento! Graças a Deus! Segundo: os editais. Tem edital voltado exclusivamente pra questão negra. E tem gente que fica puta com isso. É a branquitude perdendo espaço, deixando de ser exclusiva. Mesmo com dificuldades os editais estão ai. Terceiro: atores com consciência do que é ser verdadeiramente negro. Os atores querem ser respeitados, querem se ver no teatro, não desejam ser aceitos. Querem respeito! Outra, eles estão atrás de um teatro que os represente. Claro, fazem todo tipo de coisa, de teatro europeu a musical inspirado na Broadway, mas fazem com consciência. Quarto: o público não engole mais qualquer tipo de baboseira. Tem que ter qualidade, respeito, tem que ser bem feito e ter antes de tudo comprometimento. Tem um monte de gente agora querendo tocar na temática do candomblé, por que acha que lota fácil sala de espetáculo. Não lota assim fácil não, ok? Até por que o povo de santo não é burro! Tem que ser bom! Lembro até hoje da experiência louca que foi ver Vixe Maria, Deus e o Diabo Na Bahia... uma cena passada em um terreiro... que negocio era aquele? Aquilo não era um terreiro, era um brega. Uma colega minha vira pra mim é exclama: “Que porra é essa, Filipe?” e sai da sala e não volta mais. A peça fez o maior sucesso, até por que o humor atinge de formas diferentes pessoas diferentes...
As coisas estão mudando. A gente está ficando muito mais consciente. Sabendo o que quer da vida e escolhendo com muito cuidado. Não precisamos de padrinhos e isso irrita o outro quando esta característica nova se evidencia. Fazemos nossos espetáculos de igual pra igual. E como o liberalismo frustrado está perdendo território sai atirando pra todos os lados. “Ser branco e artista na Bahia ta difícil”, “Agora só tem coisa pra negro”, “Meu perfil não é do espetáculo por que nasci assim, amarela!”... O teatro europeu deixou de ser feito na cidade? Não! E que isso nunca aconteça. Quero teatro de todas as vertentes sendo feitas. Mas existe um incomodo uma insatisfação com esse novo teatro negro, que não pede licença, não baixa a cabeça hora alguma. E aí, como perde espaço evidencia que o problemático é o outro... Cada um se defende como pode e esconde seus defeitos da maneira que acha melhor...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

APERTE O PLAY!!!! Cabelo da Desgraça (Rapaziada da Baixa Fria)

Preste atenção em uma das melhores letras do rap brasileiro. Muito bom! O grupo Rapaziada da Baixa Fria é daqui de Salvador. Eu adoro esta música, ela é direta, não poupa em palavrões, pois os racistas também não economizam em adjetivos pejorativos ao nosso cabelo. Para você que é liberal frustrado deve soar meio radical/revoltante/exagerado. Mas a verdade é que é uma letra forte e de impacto revelador.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

200º POSTAGEM!!!!!!!!!!!!!

O PELÍCULA NEGRA novamente comemora! São duzentas postagens desde 2007. E olha que há seis meses estava comemorando a 100º postagem. O PELICULA segue falando sobre cultura pop aliada a negritude, tudo misturado com muito “bom” humor... O blog tá crescendo, em número de visitas, em números de polemicas, de pessoas que gostam, de gente que me odeia... Nunca pensei que um blog como este iria me fazer pensar tanto!... Confesso que quando fico muito tempo sem escrever dá uma saudade, mas me seguro, afinal de contas tenho um monte de coisas para fazer fora do mundo virtual. Mas o blog para mim significa mais do que simples postagens. É também uma forma de contato com minha cultura. O blog serve pra mim, na verdade, como um diário sobre tudo que estou experimentando sobre o mundo negro. Um lugar que vou, uma peça que assisto, um filme que vejo, a reação dos meus amigos ao ver o mesmo filme que vi, as conversas de bar que alimentam a seção “Crônicas de Um Mundo Negro” que criei recentemente, as novidades, clips que recolho nas minhas viagens pela net. É realmente um diário de bordo! Não publico criticas extremamente embasadas, profundas, não sou Barba Heliodora, nem Rubens Eduard Filho, nem Isabela Boscov, mas posto minha opinião sobre o que vejo sobre os produtos que retratam minha cultura. É tudo tão cheio de gírias e dos meus vícios de linguagem, faço questão de me afastar do jornalismo sério e comprometido, até por que não sou jornalista – sou professor de Historia – e também estou em um blog, perfeito para a informalidade que pretendo passar com as minhas opiniões.
Mais uma vez muito obrigado aqueles que me seguem. Aos que visitam, lêem e ficam caladinhos. Aos que postam comentários. Aos que me odeiam desde o primeiro post, mas não sei por que diabos continuam lendo esse blog, aos que gostam de cultura negra e a devoram criticamente. Aos meus entrevistados, muito obrigado pela forma como me receberam – até hoje lembro minha cara de pau ao convidar Cidinha da Silva para uma entrevista neste humilde blog. E com certeza virão mais entrevistas...
Bem é isso. Estou por aqui, pesquisando, informando, vendo, revendo, criticando. Aos que chegam as portas estão sempre abertas. O PELÍCULA NEGRA continua sua jornada de cabeça erguida.

BENÇA.

Confesso que estava ansioso para ver o mais novo espetáculo do Bando de Teatro Olodum, antes intitulado Respeito aos Mais Velhos e transformado em Bença, cumprimento que os mais jovens – pelo menos aqui na Bahia, não sei em outros lugares – dão (ou davam...) aos mais velhos em sinal de respeito à sua experiência. Confesso também que adoro o segundo nome do espetáculo, em uma só palavra resumir todo o contexto da velhice, sua sabedoria própria e tudo que a envolve. E é com imenso pesar que confesso a minha tristeza ao sair do Teatro Vila Velha neste Sábado (06/11/2010) quando finalmente fui ver Bença e presenciei um espetáculo que posso resumir em uma palavra: chato!
Não sou critico de teatro, disso todo mundo sabe, mas falo do lugar de público, que paga pra ver o espetáculo, que sai de casa e faz uma seleção nos cadernos culturais antes para decidir o que vai assistir, o que vai presenciar. Ou seja, eu sou público e como publico não me senti tocado pela peça. Era já para ter publicado minha visão sobre Bença, mas minhas dúvidas eram tão grandes que fui deixando pra lá, pra lá e só agora me sinto a vontade de falar sobre o assunto.
Tecnicamente o espetáculo é perfeito. Surpreenderia-me se o Bando de Teatro Olodum fizesse algo de sem qualidade. Os figurinos um primor, todos de branco, o cenário uma quase instalação, transcendia em muitos momentos o contexto de cenário que simplesmente está ali para “desenhar” a proposta da peça, a trilha perfeita de Jarbas Bittencourt, tudo muito bom e de muito bom gosto.
Um caso a parte é a tecnologia usada no espetáculo. O que eram aqueles telões espalhados pelo palco? Realmente nunca vi algo tão bonito no teatro baiano. Não sai da minha cabeça – e eu nem quero que saia – a imagem de Makota Valdina com o Black branco mais lindo do mundo, ela imponente, linda, olhando vagamente e divagando com toda sua sabedoria. Me arrepiei várias vezes com suas palavras.
Mas o que tinha tudo para dar certo no palco fica confuso. Fica claro a proposta do grupo e também de sua produção que não vai ser contada uma historinha de contexto aristotélico ali no palco do Teatro Vila Velha. O Bando de Teatro Olodum muitas vezes quebrou esta forma de se contar historias. Estão ali fragmentos, cenas tiradas do cotidiano dos mais velhos, frases soltas, depoimentos de figuras importantes da tradição afro baiana, muita música, muito movimento, além de cenas diferentes passadas ao mesmo tempo para a platéia escolher a sua vontade o que vai dar atenção. Tudo misturado.
E isso muitas vezes – quase sempre pra falar a verdade – fica confuso. E velhice pode ser tudo, menos confusão. Bença se entrega ao mostrar a tecnologia, a beleza e se esquece dos seus personagens principais, os mais velhos. Eles estão ali no texto, nos telões, mas ao mesmo tempo não estão. Os depoimentos de Makota são de uma profundidade incrível e é revoltante como a peça consegue transformar tudo o que ela fala em mais um elemento de cena e não em O elemento. Fora os outros depoentes, a toda hora cortados, dizendo frases de efeito que se perdem, criando eco e não se fixam em lugar algum. Era para ser um achado: misturar a rapidez da tecnologia, mil informações por minuto, com a sabedoria gigante vagarosa dos mais velhos. Não dá certo no palco.
Os atores mais velhos do Bando se entregam melhor aos papéis. Dão mais verdade ao que dizem. E ficam lindos! Outra coisa, no dia que fui ver, os atores pareciam que estavam cansados, fazendo a peça pela 15º vez. Bença é movimento constante e muitas vezes tudo parecia tão desconexo.
No meio disso tudo, tirei meus olhos do palco, dos telões e inventei de colocar minha atenção na platéia. Encontrei gente dormindo, jogada nas cadeiras, olhando para o relógio. E comecei a ficar triste. Era o atestado que não era só eu insatisfeito com tudo aquilo. Quando tudo acabou, perguntei ao senhor do meu lado, se ele tinha gostado. Eu realmente pensei (sem ironia alguma!) que não tinha alcançado o tom do espetáculo, pois tenho 26 anos e ele com seus cabelos brancos e sua pele enrugada compreenderia mais o tempo, as questões do espetáculo melhor que eu. O senhor gostou? Perguntei eu meio sem jeito... Meu filho, algumas coisas... Falou ele olhando para o chão. Eu gostei do cenário, mas tem coisas que não gostei. Disse ele com um sorriso sem graça. Lá fora ouvi coisas do tipo “Eu esperava mais” do publico que saia do teatro.
Claro que estou postando aqui os comentários que ouvi. Também os que concordam com minha opinião. Mas teve gente que gostou. Realmente. Eu saí decepcionado. Principalmente por que no dia anterior assisti a um espetáculo tão singelo, mas divertido, há tempos não voltava para casa com um sorriso no rosto ao ver teatro. Dias de Folia é muito legal e vale à pena. Já este Bença, visto no dia seguinte, me decepcionou. Esperava ver a velhice retratada no máximo de possibilidades que o palco do Teatro Vila Velha permitia. Sua sabedoria, a rabugice, o orgulho de envelhecer e em alguns casos a vergonha de estar envelhecendo, o carinho, as divagações, o trato com os remédios e com as doenças próprias da idade, o desrespeito dos mais novos, a sensação que o fim está mais próximo, a alegria de ainda estar desfrutando da vida, o mau humor, o bom humor típico da idade, a nostalgia, as brincadeiras. Esperava ver o que vejo em minhas tias, meus pais, meu avô... Minto se disser que não vi isto tudo em Bença, mas estava tudo tão superficial, envolto em uma camada de tecnologia muitas vezes desnecessária, que não deixava os mais velhos falarem.
O que me pareceu no fim das contas: Bença é um espetáculo que o novo dá lugar para o mais velho falar. Só que os mais velhos não precisam da juventude... Quando os mais velhos falam o silencio é (e deve ser) absoluto, pois a sua experiência, a sua graça faz com que o corpo jovem se adapte ao seu contexto de tão poderoso que é. Não o contrário!

domingo, 7 de novembro de 2010

For Colored Girls... 3º lugar nas bilheterias.

Para raiva dos criticos de plantão o filme For Colored Girls (elenco ao lado), do diretor Tyler Perry, ficou no terceiro lugar nas bilheterias norte americanas. Com 20 milhoes no caixa Tyler deve estar com um sorriso de um canto a outro. O filme é uma adaptação do musical For Colored Girls Who Have Considered Suicide when the Rainbow is Enuf (algo como "para garotas negras que consideraram o suicídio quando o arco-íris já não basta"), e tem no elenco Janet Jackson, Loretta Devine, Kimberly Elise, Macy Gray e Whoopi Goldberg. O filme está sendo cotadíssimo para o Oscar e o Globo de Ouro 2011 - e por que será que o filme foi lançado agora eim? - e está fazendo o maior burburinho nos EUA. O trailer, já exibido aqui no PELICULA NEGRA é muito bom, fiquei arrepiado com o crescimento que Tyler Perry teve. Quer ficar mais interessado?... A trilha só tem gente de peso: Nina Simone, Anika Noni Rose, Macy Gray e Janet Jackson são alguns dos nomes presentes. É esperar o filme chegar aqui, cruzo os dedos, pois os filmes de Perry são difíceis de chegar ao Brasil nos cinemas, todos chegam em DVD ou assiti por conta da net.

sábado, 6 de novembro de 2010

APERTE O PLAY!!!!!! Marysa, Avec Toi.

Descobri esta diva da zouk music recentemente! Seu cd Sensual de 2009 é maravilhoso e ótimo para quem gosta do ritmo afro-caribenho. Quem acompanha o PELÍCULA NEGRA sabe o quanto eu gosto de zouk. Muito gostoso de dançar e sensual na medida certa. Aqui em Salvador é sucesso em alguns lugares, na verdade "guetos" do ritmo onde a galera africana que mora na cidade vai pra dançar e se divertir muito. O Bar Sankofa é um desses lugares. É lá que o zouk, além de outros ritmos da música negra, tomam conta. Eu "aprendi" a dançar zouk na Paraíba, quando ainda estava na universidade e fui a um congresso de cultura negra em Campina Grande. Lá conheci uma galera de Cabo Verde maravilhosa e as meninas me ensinaram o pouco que sei hoje, afinal de contas só fiquei com elas durante um dia e apesar do zouk ter sonoridade parecida com a lambada, é totalmente diferente do que a gente conhece. Esse pouco tempo foi suficiente para o zouk me conquistar. Uma delicia!!!!!!! Marysa é dona de um swing bem arrastadinho, pra dançar colado, nada tão rapido quanto o Medhy Custos, por exemplo. Ela navega por estilos diferentes como o kompa, zouk, rnb, funaná e canta em várias línguas. Essa coisa de cantar em várias línguas (muitas vezes na mesma música) é própria dos artistas africanos pra que sua música seja entendivel em vários lugares do continente. O cd está disponivel na net em vários sites. Se gosta de zouk não vai se arrepender.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

VOCE JÁ OUVIU FALAR EM...The Immortal World Tour ?

É engraçado que depois de morto todos viram herois. Michael Jackson em vida era considerado um grande desperdício de talento por conta de seu envolvimento em escândalos e também por suas dívidas que não paravam de crescer. Depois que morreu virou o artista mais lucrativo do ano e acho que vai se tornar o de todos os tempos. Sim, acredito que ele venha a passar números de produtos vendidos de ícones como Elvis e Beatles. É tanta coisa que pipoca sobre Michael atualmente que fico impressionado. Surge mais uma pergunta: Será que o público e principalmente a mídia daria tanta ênfase se ele estivesse vivo?...
Agora o mais novo produto é a The Immortal World Tour feita pelo Cirque du Soleil para 2011 com ingressos já sendo vendidos no site da empresa. Espere um espetáculo de proporções gigantescas como tudo que é feito pelo Circo mais famoso do mundo. E pelo trailer teaser parece que vão pegar pesado em equipamento e qualidade artística para honrar o legado de um ícone como Michael Jackson. Não é exagero nenhum dizer que Michael influenciou tanto o mundo do entretenimento que suas referencias chegaram sim ao Cirque du Soleil. Acho que os únicos artistas influenciados, mas que também mecheram com ele foram Prince e Madonna. E ao mesmo tempo em que acho uma maravilha um espetáculo sobre o rei do pop, fico também triste, pois o mundo esperou Michael morrer para respeita-lo totalmente como um revolucionário. Que venha a The Immortal Word Tour homenageando o rei.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ô meu querido, você lava o seu cabelo?

Quem deixou seus cabelos crespos crescerem e acabou em algum momento trançando-os, com certeza já ouviu este tipo de pergunta. Pode ser todo tipo de penteado afro, na verdade, mas o cabelo crespo trançado é o mais sujeito a indagações. Se o (a) sujeito (a) tem um dread a pergunta então é repetida inúmeras vezes. Eu, que tenho o cabelo crespo, trançado de dois, sou toda semana questionado por alguém (geralmente de pele clara) de como lavo, cuido, conservo (?!) o meu cabelo.
Não posso descartar a curiosidade das pessoas. Mas parto do pressuposto de que todo cabelo se lava ou pelo menos se deve lavar independente do sujeito. Nunca fui de chegar a nenhuma pessoa branca e perguntar como o cabelo dela é lavado, ou mesmo de ter a ousadia de perguntar a ela se lava o cabelo. O outro para mim não é um objeto exótico e sim algo comum igual a mim também. Existe, no imaginário da sociedade, que o cabelo crespo é um tipo de mistério, um elo perdido a ser desvendado e revirado de cabeça para baixo.
Vivi situações constrangedoras, não por conta do meu cabelo, mas sim por causa da ignorância das pessoas frente a ele. Por exemplo, no dia em que estava em uma fila de banco e uma senhora começou a conversar comigo sobre a demora do atendimento. Resolvi dar corda a conversa, pois também estava puto da vida com aquilo. Conversa vai, conversa vem, entramos no assunto racismo (nem me lembro o porquê na verdade) e ela colocou em pauta a forma como cuidávamos o cabelo. A conversa começou como geralmente começa este tipo de abordagem, ela dizia “Eu adoro a cultura negra! Por que eu não tenho preconceito, você sabe né? Sou assim amarela, mas tenho uma irmã de consideração negra, da sua cor assim, e minha avó também é negra, descendente de escravos. Eu tenho orgulho!” ai vem o pancadão, ela continuou, “E agora muita gente tá colocando estes penteados. Essas tranças. Eu até gosto. Só não gosto quando não lava né? Fica seboso, uma porqueira”. “Mas senhora, todo mundo lava o cabelo”... Eu ainda dou corda... E ela: “Nada disso. Bob Marley não lavava o cabelo e tem gente que segue os costumes dele até hoje!”
De outra vez estava eu na carona de um colega e do nada vem a pergunta:”Ô Filipe, se lembra de fulana de tal, aquela negona do cabelo rasta?”, eu conserto, “Não é rasta o cabelo dela, é trançado”, “Sim que seja. Como é que ela lava o cabelo dela?”. Em dois segundos o sangue sobe, eu conto até cem e consigo me acalmar para dar uma resposta minimamente educada ao meu colega dono de um racismo nítido. “Você lava o seu?” ele responde que sim com a cabeça, como se dissesse ser obvio. “Como?”, retruco novamente com a cara mais cínica do mundo. “Com xampu, condicionador, muita água”, ele responde não entendendo o bate volta. “É do mesmo jeito que você lava o seu cabelo que ela lava o dela! E por que ela não lavaria?”
Mas tem dias, ah tem dias que eu acordo p da vida! Um mau humor estúpido e furioso. Como ninguém tem nada haver com minha vida, fico calado para não sair trombando nas pessoas. Nestes dias, tem sempre um sujeito que vem falar com você as besteiras mais estapafúrdias. Dia desses, um senhor junto a mim viu passar um homem com o cabelo dread enorme, olhou pra ele com nojo e depois para mim. “Esse povo, Deus é mais, quanta porcaria! Você lava seu cabelo não é?”. Olhei pra ele e da forma mais irônica possível disse: “Não. Eu não lavo há três meses. Todo dia coça pra caralho, mas tô nem aí. Também não penteio essa porra! Quando mofar eu corto. Não gosto de molhar meu cabelo!”. Vi o senhor se afastando de mim um pouco, mais assustado do que com cara de nojo. Ele esperava que sorrisse com sua pergunta, respondesse sua dúvida como algo normal, mas não. Tenho respostas piores na ponta da língua, mas era um senhor bem mais velho, resolvi aliviar.
Mesmo com toda essa explosão de cultura negra presenciada por todos nos últimos anos, o cabelo crespo e seus infinitos penteados ainda provocam medos infindáveis por parte da população. Primeiro trata-se de um cabelo elevado a categoria do “cabelo ruim”, ou “cabelo da desgraça”. Na mente dessas pessoas, acho que fica a questão de como um “cabelo ruim” consegue se transformar em tantos penteados. Segundo, que na maioria das vezes as pessoas brancas (geralmente as que me abordam com tais questões) não conhecem o corpo negro a ponto de achá-lo normal e na primeira oportunidade que tem sentem-se a vontade para perguntar coisas bizarras sobre o outro. Perdem a chance de ficarem calados e não exotizar a pessoa negra que está do seu lado. Quando percebem que o cabelo crespo é lavado da mesma forma que o dele acaba se surpreendendo. Olhos esbugalhados de surpresa é o mais comum nestes casos.
Por que eu não deveria lavar meu cabelo? Meu cabelo atrai poeira? Oh, o seu também, sabia? Por que hoje sou chamado na rua por qualquer um de “rasta man”, “Djavan”, “Bob Marley” como chacota? Ou me olham no ônibus e quando reparam no meu cabelo não sentam ao meu lado? Por que as pessoas se surpreendem quando lavo meu cabelo e ele fica cheiroso? Por que meu cabelo incomoda tanto? Por que todo mundo me pergunta o porque não corto meu cabelo? Por que as pessoas acham que meu cabelo cortado na máquina zero fica muito melhor? E que a maioria dos homens negros também deveria fazer o mesmo? Por que só o branco tem orgulho do cabelo dele. Aliás, nem acho que o branco tenha orgulho, ele acha o cabelo dele normal. Por que nós negros fomos obrigados a transformar nosso cabelo em uma plataforma política? Por que tantos porquês para o cabelo crespo?
Sair do lugar do exótico e passar a normalidade, este é o desafio do cabelo crespo. É um desafio que muitos ainda deverão enfrentar. Mas se você um dia perguntar sobre a provável não lavagem dos cabelos crespos de seu amigo/namorado/colega de trabalho/estranho na rua negro, saiba que ele pode responder de várias formas. Educadamente em um dia de paciência quase absoluta ou dando um merecido coice. Se acha que este tipo de pergunta não é um exemplo claro de racismo, então reformule-se. É racista quem acha a diferença desigual. Ao invés de perguntar ao outro se ele lava o cabelo, ou como ele lava, pergunte... Por que diabos eu estou pensando isso dele (a)? Se ele perguntasse pra mim iria achar o que? Normal? Não seja hipócrita de responder sim, pois existem perguntas obvias que nunca devem ser feitas. Se receber uma resposta enfática e achar radical... Radical é você que não consegue enxergar o outro como espelho, por conta de um cabelo diferente.